Artes visuais

Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural

Última atualização: 29.11.2023

24.04.2000 - 10.09.2000 Brasil / São Paulo / São Paulo – Fundação Bienal de São Paulo

Brasil + 500: Mostra do Redescobrimento (São Paulo, São Paulo, 24 de abril a 10 de setembro de 2000). Exposição de arte contemporânea realizada para celebrar os quinhentos anos do país. A mostra apresenta um panorama da história da arte brasileira desde antes da chegada dos europeus ao continente. Reúne cerca de quinze mil obras, entre quadros, ...

Texto

Realizada entre 24 de abril e 10 de setembro de 2000 em quatro espaços do Parque Ibirapuera, em São Paulo: Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Pavilhão Manoel da Nóbrega, Oca (Pavilhão Lucas Nogueira Garcez) e Cinecaverna, lugar construído especialmente para a exposição. O curador geral da mostra é o artista plástico Nelson Aguilar (1945), que conta com outros vinte curadores, além de uma equipe de cenógrafos e arquitetos, entre eles Paulo Mendes da Rocha (1928-2021). A Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais é a responsável pela produção do evento. A inspiração para o projeto curatorial parte da proposta do crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) para criação do Museu das Origens².

No Pavilhão Ciccillo Matarazzo são apresentados sete núcleos: Imagens do Barroco, Arte do Século XIX, Arte Afro-Brasileira, Imagens do Inconsciente, Olhar Distante e a seção Arte do século XX, que inclui os núcleos Arte Moderna e Arte Contemporânea: (1) Imagens do Barroco apresenta obras dos séculos XVI e XVII que reproduzem imagens sacras como meio de difusão dos códigos missionais, como esculturas de oficinas brasileiras jesuíticas, franciscanas e carmelitas; (2) Arte do Século XIX expõe pinturas épicas e esculturas de artistas brasileiros produzidas durante o Brasil Império. Entre as obras, notam-se os padrões franceses da Academia de Belas Artes e as paisagens, como Vista da Mãe d´Água (1850), de Félix-Émile Taunay (1795-1881); (3) Arte Afro-Brasileira ressalta a contribuição das culturas africanas para o país, apresentando máscaras e objetos de povos africanos e obras de artistas brasileiros, como o baiano Mestre Didi (1917-2013); (4) Imagens do Inconsciente apresenta obras de internos em instituições psiquiátricas, com destaque para os trabalhos de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989); (5) Olhar Distante mostra trabalhos que revelam o olhar estrangeiro sobre o Brasil. Reúne desde obras sobre o Pernambuco dos holandeses do século XVII até registros fotográficos do Brasil do século XIX. Entre os trabalhos, um conjunto de obras de Anselm Kiefer (1945) sobre a São Paulo dos anos 1990; e finalmente Arte do Século XX se subdivide entre os núcleos (6) Arte Moderna e (7) Arte Contemporânea. O primeiro apresenta artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, como Tarsila do Amaral (1886-1973), e o segundo expõe artistas que, a partir dos anos 1960, exploram outros suportes além da tela ou da escultura, como Lygia Clark (1920-1988).

No Pavilhão Manoel da Nóbrega são apresentados dois núcleos: o Arte Popular e o Negro de Corpo e Alma. Arte popular reflete sobre a cultura popular brasileira e inclui elementos históricos do folclore, do cangaço³ e da arte naïf. Destacam-se objetos e vestimentas de figuras históricas, como Lampião (1898-1938)⁴. Já Negro de Corpo e Alma apresenta manifestações culturais sobre os negros, buscando desconstruir o imaginário estereotipado sobre essa população. Entre as obras, estão esculturas em grande escala do senegalês Ousmane Sow (1935-2016).

Na Oca, além da sessão Arqueologia, são apresentados os núcleos Artes Indígenas, A Primeira Descoberta da América e Carta de Pero Vaz de Caminha. O núcleo Arqueologia apresenta uma breve história da evolução dos primatas até o Homo sapiens, com foco na pré-história brasileira. Entre esculturas em pedra e osso, cerâmicas e arte rupestre, há uma seção dedicada às inscrições rupestres da Amazônia, datadas de até 11.200 anos atrás. Artes Indígenas apresenta a diversidade cultural das sociedades indígenas brasileiras. Reúne desde objetos ritualísticos e outros de uso cotidiano recolhidos desde os séculos XVI até a atualidade. Destaca-se a presença do manto tupinambá conservado pelo Museu Nacional da Dinamarca⁵. A Primeira Descoberta da América questiona as raízes e as origens dos primeiros habitantes do continente. O núcleo inclui Carta de Pero Vaz de Caminha, que contextualiza o evento da "descoberta" do Brasil. Além de obras que saem de Portugal pela primeira vez, como a pintura do século XVI Missa de São Gregório, do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, destaca-se a presença da carta original de Pero Vaz de Caminha, considerada a certidão de nascimento do país e cedida pelo governo de Portugal para a exposição.

O núcleo Cinecaverna, uma enorme tenda construída especialmente para a mostra, é uma instalação com enormes projeções. Inclui a exibição de um filme e um túnel de 160 metros, ambos reproduzem as condições de vida dos homens da pré-história brasileira.

A mostra é aberta oficialmente pelos presidentes do Brasil e de Portugal na época, respectivamente Fernando Henrique Cardoso (1931) e Jorge Sampaio (1939-2021), e recebe mais de 1,8 milhão de visitantes. Depois do encerramento da exposição, os módulos partem separadamente em itinerância para outras capitais brasileiras, além de outras cidades no exterior, como Lisboa, Londres, Paris e Nova York.

Brasil + 500: Mostra do Redescobrimento contextualiza a história da arte brasileira desde os primórdios do país, reunindo não só trabalhos de artistas nacionais e estrangeiros que colaboram com a construção de um imaginário nacional, como também pesquisas que aprofundam o conhecimento sobre a cultura brasileira.

Notas

1. Os treze módulos da mostra são: A Primeira Descoberta da América, Artes Indígenas, Carta de Pero Vaz de Caminha, Arte Barroca, Arte Afro-Brasileira, Negro de Corpo e Alma, Arte Popular, Arte do Século XIX, Arte Moderna, Imagens do Inconsciente, Arte Contemporânea, O Olhar Distante e Cine Caverna.

2. O crítico Mário Pedrosa propõe refundar o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) depois do incêndio em 1978 que consumiu quase todo o acervo da instituição. A proposta de Pedrosa é criar o Museu das Origens composto por cinco museus independentes: o Museu do Índio, o Museu da Arte Virgem (do Inconsciente), o Museu de Arte Moderna, o Museu do Negro e o Museu de Artes Populares.

3. O cangaço foi um movimento social ocorrido no Nordeste do Brasil nos séculos XIX e XX. Nele os cangaceiros demonstram insatisfação com as condições precárias de vida em que a maioria da população nordestina se encontra e denunciam o poder concentrado nas mãos dos fazendeiros.

4. Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, é um cangaceiro brasileiro conhecido por enfrentar a opressão dos coronéis do nordeste no início do século XX.

5. Denominado Mantelete emplumado, o manto tupinambá foi levado de Pernambuco para a Europa por Maurício de Nassau (1604-1679) durante a ocupação holandesa do Nordeste brasileiro, entre 1637 e 1644, e foi presenteado na época ao rei da Dinamarca.

Ficha Técnica

Exposições 2

Fontes de pesquisa 20

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MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo, SP. Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 anos. Curadoria Nelson Aguilar, Maria Cristina Mineiro Scatamacchia, Eduardo Góes Neves, Cristiana Barreto, Lúcia Hussak Van Velthem, José António Braga Fernandes Dias, Luiz Donisete Benzi Grupioni, Regina Pólo Miller, Emanoel Araújo, Maria Lúcia Montes, Carlos Eugênio Marcondes de Moura, François Neyt, Catherine Vanderhaeghe, Kabengele Munanga, Marta Heloísa Leuba Salum, Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo, Frederico Pernambucano de Mello, Nise da Silveira, Luiz Carlos Mello, Franklin Espath Pedroso, Maria Alice Milliet, Glória Ferreira, Jean Galard, Pedro Corrêa do Lago. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000.
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