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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Castagneto

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.07.2022
27.11.1851 Itália / Ligúria / Gênova
29.12.1900 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Lula Rodrigues

Bacos a vela ancorados na praia em Toulon - França, 1893
Castagneto
Óleo sobre tela, c.i.e.
49,00 cm x 60,00 cm

Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Itália, 1851 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1900). Pintor, desenhista, professor. É considerado um importante nome da pintura brasileira de marinhas e paisagens litorâneas. Aliando a execução rápida e angustiada a um grande lirismo, a pintura de Castagneto apresenta, ao mesmo tempo, suavidade e vio...

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Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Itália, 1851 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1900). Pintor, desenhista, professor. É considerado um importante nome da pintura brasileira de marinhas e paisagens litorâneas. Aliando a execução rápida e angustiada a um grande lirismo, a pintura de Castagneto apresenta, ao mesmo tempo, suavidade e violência, tal como o mar, personagem principal de sua obra. 

Giovanni Castagneto nasce em Gênova, na Itália, e, na juventude, exerce a profissão de marinheiro. Acompanhado de seu pai, vai para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878 ingressa na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Desde o início, volta-se para a representação da natureza, em especial para a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e a tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na baía do Rio de Janeiro (1883).

De 1882 a 1884, estuda a disciplina de paisagem sob orientação do professor italiano Georg Grimm (1846-1887). Acompanha o professor quando este rompe com a AIBA e cria um ateliê ao ar livre, na praia de Boa Viagem, em Niterói, integrando, assim, o Grupo Grimm. A admiração pela obra de Grimm está na percepção da paisagem, na escolha de motivos, na sintetização dos elementos e na restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). No entanto, a grande contribuição do mestre para a produção de Castagneto é a técnica de pintura en plein air (ao ar livre), uma vez que Grimm é o primeiro professor a ensiná-la na AIBA.

Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com frequência para Niterói, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pinceladas largas e agressivas, em que predominam os verdes e os cinzas.

O artista revela uma sensibilidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento e percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a seco na praia em Angra dos Reis (1886).

A temática é um dos aspectos inovadores da obra de Castagneto. Ao retratar pequenos barcos e pescadores humildes, rompe com a tradição da pintura marinha, cujo foco é a produção de verdadeiros documentos históricos que registram grandes barcos e batalhas. Porém, há um quadro atípico em sua produção: Uma salva em dia de grande gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), concebido nos modelos da Academia para concorrer ao prêmio de viagem. O quadro é recusado pela AIBA e recebe muitas críticas nos jornais, causando profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. 

Viaja para a França em 1890 com o auxílio de amigos. Lá conhece Frédéric Montenard (1849-1926), pintor francês viajante que tem especial afeição por temas marinhos. Por conselho de Montenard, Castagneto estuda com François Nardi (1861-1936), outro  pintor francês de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon, na França. Nessa fase, o artista se concentra nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de pesca ancorado em Toulon (França) (1893), ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon, Toulon, França (1892). Durante a estada em Toulon, o pintor diversifica sua paleta, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.

De volta ao Brasil em 1893, inaugura, no ano seguinte, uma exposição individual, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), com obras produzidas em Toulon. Seu fazer artístico se consolida. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves em relação às paisagens pintadas na França. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, desestrutura-se, como pode ser visto em Trecho da praia de São Roque em Paquetá (1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a originalidade dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula e, em certos pontos, até com o polegar. 

O pintor é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio e inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863-1911) o descreve como alguém manso e irascível, afirmando que "como o mar o seu temperamento é rebelde"1.

Castagneto é um nome importante da paisagística nacional devido à originalidade de sua obra, não só do ponto de vista técnico (pintura ao ar livre), mas também do temático (ao retratar a paisagem litorânea comum). Nesse sentido, suas pinturas também podem ser vistas como documentos históricos, pois eternizam certas paisagens em uma dada época e contam a história que geralmente não é contada, mas que é tão importante quanto os grandes eventos que a representam.

Notas

1. DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 198.

Obras 70

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Exposições 97

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Fontes de pesquisa 30

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  • 80 anos de arte brasileira. São Paulo: MAB, 1982.
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  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
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