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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Academia Imperial de Belas Artes (Aiba)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.07.2024
05.11.1826 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1889 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Iracema, 1881
José Maria de Medeiros
Óleo sobre tela, c.i.e.
168,30 cm x 255,00 cm
,

A criação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), no Rio de Janeiro, 1826, inaugura o ensino artístico no Brasil em moldes semelhantes aos das academias de arte européias. As academias procuram garantir aos artistas formação científica e humanística, além de treinamento no ofício com aulas de desenho de observação e cópia de moldes. São resp...

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A criação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), no Rio de Janeiro, 1826, inaugura o ensino artístico no Brasil em moldes semelhantes aos das academias de arte européias. As academias procuram garantir aos artistas formação científica e humanística, além de treinamento no ofício com aulas de desenho de observação e cópia de moldes. São responsáveis, ainda, pela organização de exposições, concursos e prêmios, conservação do patrimônio, criação de pinacotecas e coleções, o que significa o controle da atividade artística e a fixação rígida de padrões de gosto. No Brasil, a arte realizada na Academia corresponde, em linhas gerais, a modelos neoclássicos e românticos aclimatados, que têm que enfrentar as condições da natureza e da sociedade locais. Entre as várias alterações no modelo encontra-se o predomínio das paisagens entre os pintores acadêmicos no Brasil, a despeito da hierarquia de gêneros que considerava a paisagem secundária. No que diz respeito à pintura histórica, vale destacar o papel da "arte acadêmica nacional" na construção de uma iconografia do Império, sobretudo no período de dom Pedro II (1825-1891), entre 1841 e 1889. Ao lado da profusão de retratos do imperador e do registro de comemorações oficiais, parte dos artistas acadêmicos envolve-se na construção de uma memória da nação, de timbre romântico, com a eleição de alguns emblemas: o índio é um dos mais importantes - por exemplo, Moema (1866), de Victor Meirelles (1832-1903), Iracema (1881), de José Maria de Medeiros (1949-1925) e O Último Tamoio (1883), de Rodolfo Amoedo (1857-1941).

A história da Aiba acompanha os esforços de dom João VI (1767-1826) no sentido de aparelhamento do Estado na colônia ultramarina, elevada à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves, em 1815. O decreto de doze de agosto de 1816 cria a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios para a qual é contratada uma Missão Artística Francesa que chega ao país no mesmo ano para inaugurar as atividades da instituição. A Escola, o próprio nome indica, possui dupla face: formar o artista para o exercício das belas-artes e também o artífice para as atividades industriais. A Missão tem origem no esforço de Joachim Lebreton (1760-1819), secretário perpétuo do Institut de France que, com o apoio de dom João e do conde da Barca (1754-1817), traz ao país um grupo de artistas e técnicos, entre os quais, os pintores Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e Debret (1768-1848), o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824) e o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850), autor do projeto da sede da Aiba e principal responsável pelo ensino da arquitetura na academia. As obras do arquiteto são exemplares do estilo neoclássico, no Brasil, como por exemplo, a antiga Alfândega, hoje Casa França-Brasil e o Solar Grandjean de Montigny, sua antiga residência, atualmente pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).

Enquanto durou, de 1826 até 1889, a Aiba teve sete diretores e passou por duas grandes reformas (1831 e 1855), mas são as gestões do pintor Félix Taunay (1795-1881) - de 1834 a 1851 - e a do pintor e crítico de arte Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) - de 1854 a 1857 -, que consolidam a academia. A fase de Taunay marca a estruturação dos cursos, a criação das Exposições Gerais de Belas Artes em 1840 e a concessão de prêmios de viagem ao exterior, a partir de 1845. A era Porto-Alegre, primeiro brasileiro a dirigir a instituição, coincide com a tentativa de modernização da academia pela ênfase no estabelecimento de bases teóricas para o ensino, na idéia de nacionalização da biblioteca (transformando-a na memória pictórica brasileira) e na criação de coleções de arte brasileiras. Porto-Alegre confere importância destacada à pintura de paisagens que deveria, segundo ele, sair da cópia de estampas e dos quadros da pinacoteca e voltar-se para o registro da natureza nacional. A pintura de paisagens, encontra forte enraizamento na arte brasileira, desde Nicolas Taunay (por exemplo, Cascatinha da Tijuca e Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória, ambas realizadas entre 1816-1821). A defesa feita por Porto-Alegre da pintura ao ar livre e do registro realístico da flora e da fauna nacionais encontra sua efetiva realização, décadas depois nas obras do pintor alemão Georg Grimm (1846-1887) e seu grupo.

Debret é o pintor mais importante da Aiba nos primeiros tempos. Formado por Jacques-Louis David (1748-1825) pelo ideário neoclássico, que tem na pintura histórica e mitológica a sua pedra de toque, Debret inicia seu trabalho no Brasil com a organização dos festejos de aclamação de dom João VI, em nada semelhantes às festas revolucionárias francesas organizadas por David. Durante sua estada brasileira, observa-se um interesse crescente pelo acompanhamento de aspectos variados da vida social brasileira - o movimento das ruas, o interior das casas, o cotidiano dos escravos etc.-, traduzido em desenhos e aquarelas, boa parte litografadas e reunidas no livro Viagem Pitoresca e Histórica do Brasil (1834, 1835 e 1839). A pintura histórica encontra nas obras de Victor Meirelles e Pedro Américo (1843-1905) seus maiores exemplos. Aluno da Aiba, onde ingressa em 1847, Meirelles recebe o prêmio de viagem ao exterior e segue para Roma em 1853, onde passa pela Accademia Nazionale di San Luca [Academia Nacional de São Lucas} e pelos ateliês de Tommaso Minardi (1787-1871) e Nicola Consoni (1814-1884). Em Paris, estuda com Léon Cogniet (1794-1880) e Andrea Gastaldi (1826-1889). Entre as suas obras mais importantes encontra-se Primeira Missa no Brasil (1860), reveladora dos traços característicos do pintor: a riqueza de detalhes e o predomínio do desenho sobre a cor na composição. A Batalha dos Guararapes (1875/1879) é outra tela significativa do pintor, que contribui para fazer do episódio um dos marcos da nacionalidade, no que foi seguido por Pedro Américo. A famosa tela de Pedro Américo Batalha do Avaí (1872) é apresentada ao lado da Batalha dos Guararapes na Exposição Geral de Belas Artes, em 1879. Pedro Américo se destaca precocemente na Academia, onde ingressa como aluno em 1856. Bolsista na Europa, estuda com Léon Cogniet e Horace Vernet (1789-1863), este último afeito aos temas de batalhas e às paisagens exóticas. Marcas mais claramente românticas se fazem sentir em sua produção em função do contato com Ingres (1780-1867), das cópias que realizou de telas de Géricault (1791-1824) e da viagem empreendida à Argélia. Independência ou Morte [O Grito do Ipiranga] (1875/1879) é outra de suas obras mais importantes.

Os nomes de Almeida Júnior (1850-1899) e Rodolfo Amoedo destacam-se entre os alunos da primeira geração de pintores saídos da Aiba, em função das soluções originais de suas obras. Almeida Júnior caminha, a partir de 1879 e da tela O Derrubador Brasileiro, para a temática regionalista (Caipiras Negaceando, 1888 e Caipira Picando Fumo (estudo), 1893), permitindo flagrar suas afinidades com o realismo de Gustave Coubert (1819-1877) e Jean-Baptiste-Camille (1796-1875). Amoedo, por sua vez, produz telas de acentuado tom realista e apelo erótico, como Marabá (1882) e Estudo de Mulher (1884). Pedro Alexandrino (1856-1942), aluno de Almeida Júnior, notabiliza-se pelas naturezas-mortas.

Obras 10

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Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Iracema

Óleo sobre tela

Exposições 33

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Fontes de pesquisa 7

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  • BARATA, Mário. As artes plásticas de 1808 a 1889. In: HOLANDA, Sérgio B. (Org). História Geral da Civilização Brasileira, Volume II, Tomo III, O Brasil Monárquico - reações e transações. São Paulo, Difel, 1982.
  • CHIARELLI, Tadeu. Rodolfo Amoedo entre a academia e a academia. In: ______. Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999. 311 p., il. color. pp. 153-157.
  • MORALES DE LOS RÍOS, Adolfo. O ensino artístico: subsidios para a sua história: um capítulo 1816-1916. In: ANAIS do 3º Congresso de História Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1938. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942., p. 3-429, v. 8.
  • NAVES, Rodrigo. Debret, o neoclassicismo e a escravidão. In: ______. A Forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996. 285 p., il. color. pp.41-130.
  • PEREIRA, Sônia Gomes (org). 185 anos de Escola de Belas Artes. Rio de Janeiro: PPGAV/EBA/UFRJ, 2001-2002.
  • SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 630 p., il. p&b color.
  • TAUNAY, Afonso de E. A missão artística de 1816. Rio de Janeiro, Publicações da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 18, Ministério da Educação e Cultura, 1956.

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