Nicolas Antoine Taunay
![Retrato de um Filho do Pintor, s.d. [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/001943006013.jpg)
Retrato de um Filho do Pintor
Nicolas Antoine Taunay
Óleo sobre tela
31,50 cm x 24,00 cm
Texto
Nicolas Antoine Taunay (Paris, França, 1755 – Idem, 1830). Pintor, ilustrador, professor. Destaca-se pela produção de pinturas com temas brasileiros1, obras bastante importantes para a história da arte no Brasil do século XIX e, sobretudo, para o desenvolvimento da pintura de paisagem no país.
Filho de um pintor da Manufatura Real de Sèvres, ingressa aos 13 anos no ateliê do artista francês François Bernard Lépicié (1698-1755). Posteriormente estuda pintura histórica e de batalha. Dedica-se também ao estudo direto da natureza, pintando os arredores de Paris ou empreendendo viagens de estudo da natureza para países vizinhos. Em 1777, inicia carreira de artista e participa de exposições não oficiais, como as denominadas Jeunesse ou o Salon de la Correspondance.
Seu trabalho começa a ser notado e, em 1784, recebe o título de agregado da Academia Real de Pintura e Escultura, o que lhe possibilita a participação em salões oficiais. Nesse ano, parte para Roma, onde permanece até 1787 como pensionista no Palácio Mancini, sede da Academia francesa na Itália. Pinta quadros inspirados na paisagem italiana e seu glorioso passado. Retorna à França em 1787 e expõe nos salões parisienses. Mesmo durante a queda da monarquia e a revolução continua praticando a pintura de gênero, histórica e de paisagem e participando dos salões.
Em 1795 é nomeado membro do Instituto de França. Reintegrado ao Novo Regime, torna-se um dos pintores favoritos do futuro imperador. Durante o império napoleônico executa decorações para a residência real e sobretudo quadros históricos e de guerra com os feitos de Napoleão I e seu exército, sendo convidado a acompanhar a Campanha da Alemanha como pintor. Os reveses históricos, com a queda de Napoleão, colocam Taunay novamente em perigo. Nesse momento é convidado a participar do grupo do intelectual e administrador francês Joachim Lebreton (1760-1819)2.
Com o fim do império napoleônico, vem para o Brasil como integrante da Missão Artística Francesa. Chega ao Rio de Janeiro em 1816, contratado como pintor pensionista do reino português e professor da cadeira de pintura de paisagem na Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, futura Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). O objetivo é criar a primeira academia de artes no país. Enquanto essa não é efetivamente instituída, realiza retratos dos herdeiros do trono a pedido da rainha e paisagens do Rio de Janeiro. Largo da Carioca e Morro de Santo Antônio são, ao que tudo indica, as primeiras pinturas com tema brasileiro realizadas pelo artista, em 1816. Percebemos que a novidade da paisagem carioca encanta o artista, contudo sua sólida formação não permite que abandone os cânones clássicos de representação. Surgem paisagens ordenadas, na qual o homem se encontra em harmonia contemplativa com a natureza.
Por outro lado, a luz atmosférica dota de aura misteriosa as paisagens características do Rio de Janeiro (Pão de Açúcar, Outeiro da Glória, Floresta da Tijuca etc.). Taunay não se rende à claridade lancinante dos trópicos. No quadro emblemático Cascatinha da Tijuca, o artista se autorrepresenta ao nascer do sol no exercício do ofício. Pequeno diante de uma natureza monumental, mas domesticada, tem diante de seu cavalete uma bananeira, o símbolo da nova natureza que precisa enfrentar. Mas não há conflitos, a visão contemplativa permanece. Como notou o artista e historiador Carlos Zilio (1944), seus trabalhos minuciosos e de construção ordenada revelam as dificuldades de conciliar a cultura europeia à natureza desconhecida.
Diante dos rumos tomados pela Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, Nicolas Taunay decide retornar para a França em 1821 após desentendimentos pela nomeação do novo diretor da escola. O artista indica seu filho Félix Émile-Taunay (1795-1881) para substituí-lo nas classes de pintura de paisagem. Outro de seus filhos, o desenhista Adrien Taunay (1803-1828), permanece no Brasil, mas morre em acidente como desenhista da Expedição Langsdorff. De volta à França, Nicolas Taunay retoma os temas históricos e a carreira de sucesso. A fama de Nicolas Taunay na época pode ser estimada pelo quadro Charles X Distribuant des Récompenses aux Artistes, à la Fin du Salon de 1824 (Carlos X distribuindo prêmios aos artistas no final do Salão de 1824), do artista francês François-Joseph Heim (1787-1865), realizado entre 1825 e 1827. Nele, Taunay aparece ao lado de, entre outros, do pintor Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867).
Nicolas Taunay deixa um legado de peso e seu trabalho constitui uma das mais importantes representações do solo brasileiro feita por um artista estrangeiro.
Notas
1. Presume-se que o artista francês tenha produzido entre 25 a 40 telas com temas brasileiros. Contudo, somente dezesseis foram identificadas até o momento.
2. Uma primeira versão é a de que o próprio Taunay oferece, em carta de 1816, seus serviços de pintor da corte e preceptor a Dom João VI, já instalado no Rio de Janeiro. Como o convite vinha ao encontro dos desejos do rei de estabelecer uma Academia na nova capital do reino, o artista foi integrado naturalmente à missão de Lebreton. A segunda versão afirma que o próprio Lebreton, perseguido pelo Novo Regime, convida diretamente Taunay para participar da Missão Artística Francesa.
Obras 9
Largo da Carioca em 1816
Moisés Salvo das Águas
Retrato de Félix Émile Taunay
Retrato de Félix-Emile Taunay
Exposições 54
Fontes de pesquisa 21
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
- BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: A construção da paisagem. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v.3.
- BERGER, Paulo (org.). Pinturas e pintores do Rio antigo. Apresentação de Sérgio Sahione Fadel. Textos de Paulo Berger, Herculano Gomes Mathias e Donato Mello Júnior. Rio de Janeiro: Kosmos, 1990.
- BOGHICI, Jean (org.). Missão Artística Francesa e pintores viajantes: França-Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Brasil-França, 1990.
- BÉNÉZIT, Emmanuel-Charles. Dictionnaire critique et documentaire des peintres, sculpteurs dessinateurs et qraveurs: de tous les temps et de tous les pays par un groupe d´écrivains spécialistes français et étrangers. Nova edição revista e corrigida. Paris: Grund, 1976. 10 v.
- CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
- CARELLI, Mário (org.). Brasil-França: cinco séculos de sedução. Tradução Cláudio Mesquita. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.
- DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira: pintura e esculptura. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. (Arte: ensaios e documentos).
- EULÁLIO, Alexandre. O século XIX. In: TRADIÇÃO e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1984.
- HUG, Alfons (org.); JUNGE, Peter (org.); KÖNIG, Viola (org.). Os trópicos: visões a partir do centro do globo. Texto Alfons Hug, Viola König, Peter Junge, Roberto Cabot, Ticio Escobar, Fernando Cocchiarale. Rio de Janeiro: CCBB, 2007.
- JOUVE, Claudine Lebrun. Nicolas-Antoine Taunay: 1755-1830. Prefácio Pedro Corrêa do Lago. Paris: Arthena, 2003. 448 p., il.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MELLO JUNIOR, Donato. Nicolau Antônio Taunay, percurso da Missão Artística Francesa de 1816. In: Revista do Instituto Geográfico e Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 327, p. 5-18, abr. /jun. 1980.
- MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
- MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo, SP. O olhar distante. Curadoria Jean Galard, Pedro Corrêa do Lago; assistência de curadoria Mariana Cordiviola; tradução Alain François, Contador Borges, Tina Delia, John Norman, Eduardo Hardman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
- REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
- SALGUEIRO, Heliana Angotti (coord.). Paisagem e arte: a invenção da natureza, a evolução do olhar. São Paulo: CBHA : CNPq : Fapesp, 2000. 452 p., il. p&b.
- TAUNAY, Afonso de E. A missão artística de 1816. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1983. (Temas brasileiros, 34).
- ZÍLIO, Carlos. O centro na margem: algumas anotações sobre a cor na arte brasileira In: Gávea, n.10. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de História, março 1993.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
NICOLAS Antoine Taunay.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa24452/nicolas-antoine-taunay. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7