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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Nicolas Antoine Taunay

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.10.2024
10.02.1755 França / Ile de France / Paris
20.03.1830 França / Ile de France / Paris
Reprodução fotográfica Gilson Ribeiro

Retrato de um Filho do Pintor
Nicolas Antoine Taunay
Óleo sobre tela
31,50 cm x 24,00 cm

Nicolas Antoine Taunay (Paris, França, 1755 – Idem, 1830). Pintor, ilustrador, professor. Destaca-se pela produção de pinturas com temas brasileiros1, obras bastante importantes para a história da arte no Brasil do século XIX e, sobretudo, para o desenvolvimento da pintura de paisagem no país.

Texto

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Nicolas Antoine Taunay (Paris, França, 1755 – Idem, 1830). Pintor, ilustrador, professor. Destaca-se pela produção de pinturas com temas brasileiros1, obras bastante importantes para a história da arte no Brasil do século XIX e, sobretudo, para o desenvolvimento da pintura de paisagem no país.

Filho de um pintor da Manufatura Real de Sèvres, ingressa aos 13 anos no ateliê do artista francês François Bernard Lépicié (1698-1755). Posteriormente estuda pintura histórica e de batalha. Dedica-se também ao estudo direto da natureza, pintando os arredores de Paris ou empreendendo viagens de estudo da natureza para países vizinhos. Em 1777, inicia carreira de artista e participa de exposições não oficiais, como as denominadas Jeunesse ou o Salon de la Correspondance. 

Seu trabalho começa a ser notado e, em 1784, recebe o título de agregado da Academia Real de Pintura e Escultura, o que lhe possibilita a participação em salões oficiais. Nesse ano, parte para Roma, onde permanece até 1787 como pensionista no Palácio Mancini, sede da Academia francesa na Itália. Pinta quadros inspirados na paisagem italiana e seu glorioso passado. Retorna à França em 1787 e expõe nos salões parisienses. Mesmo durante a queda da monarquia e a revolução continua praticando a pintura de gênero, histórica e de paisagem e participando dos salões. 

Em 1795 é nomeado membro do Instituto de França. Reintegrado ao Novo Regime, torna-se um dos pintores favoritos do futuro imperador. Durante o império napoleônico executa decorações para a residência real e sobretudo quadros históricos e de guerra com os feitos de Napoleão I e seu exército, sendo convidado a acompanhar a Campanha da Alemanha como pintor. Os reveses históricos, com a queda de Napoleão, colocam Taunay novamente em perigo. Nesse momento é convidado a participar do grupo do intelectual e administrador francês Joachim Lebreton (1760-1819)2.

Com o fim do império napoleônico, vem para o Brasil como integrante da Missão Artística Francesa. Chega ao Rio de Janeiro em 1816, contratado como pintor pensionista do reino português e professor da cadeira de pintura de paisagem na Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, futura Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). O objetivo é criar a primeira academia de artes no país. Enquanto essa não é efetivamente instituída, realiza retratos dos herdeiros do trono a pedido da rainha e paisagens do Rio de Janeiro. Largo da Carioca e Morro de Santo Antônio são, ao que tudo indica, as primeiras pinturas com tema brasileiro realizadas pelo artista, em 1816. Percebemos que a novidade da paisagem carioca encanta o artista, contudo sua sólida formação não permite que abandone os cânones clássicos de representação. Surgem paisagens ordenadas, na qual o homem se encontra em harmonia contemplativa com a natureza.

Por outro lado, a luz atmosférica dota de aura misteriosa as paisagens características do Rio de Janeiro (Pão de Açúcar, Outeiro da Glória, Floresta da Tijuca etc.). Taunay não se rende à claridade lancinante dos trópicos. No quadro emblemático Cascatinha da Tijuca, o artista se autorrepresenta ao nascer do sol no exercício do ofício. Pequeno diante de uma natureza monumental, mas domesticada, tem diante de seu cavalete uma bananeira, o símbolo da nova natureza que precisa enfrentar. Mas não há conflitos, a visão contemplativa permanece. Como notou o artista e historiador Carlos Zilio (1944), seus trabalhos minuciosos e de construção ordenada revelam as dificuldades de conciliar a cultura europeia à natureza desconhecida. 

Diante dos rumos tomados pela Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, Nicolas Taunay decide retornar para a França em 1821 após desentendimentos pela nomeação do novo diretor da escola. O artista indica seu filho Félix Émile-Taunay (1795-1881) para substituí-lo nas classes de pintura de paisagem. Outro de seus filhos, o desenhista Adrien Taunay (1803-1828), permanece no Brasil, mas morre em acidente como desenhista da Expedição Langsdorff. De volta à França, Nicolas Taunay retoma os temas históricos e a carreira de sucesso. A fama de Nicolas Taunay na época pode ser estimada pelo quadro Charles X Distribuant des Récompenses aux Artistes, à la Fin du Salon de 1824 (Carlos X distribuindo prêmios aos artistas no final do Salão de 1824), do artista francês François-Joseph Heim (1787-1865), realizado entre 1825 e 1827. Nele, Taunay aparece ao lado de, entre outros, do pintor Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867).

Nicolas Taunay deixa um legado de peso e seu trabalho constitui uma das mais importantes representações do solo brasileiro feita por um artista estrangeiro.

Notas

1. Presume-se que o artista francês tenha produzido entre 25 a 40 telas com temas brasileiros. Contudo, somente dezesseis foram identificadas até o momento.

2. Uma primeira versão é a de que o próprio Taunay oferece, em carta de 1816, seus serviços de pintor da corte e preceptor a Dom João VI, já instalado no Rio de Janeiro. Como o convite vinha ao encontro dos desejos do rei de estabelecer uma Academia na nova capital do reino, o artista foi integrado naturalmente à missão de Lebreton. A segunda versão afirma que o próprio Lebreton, perseguido pelo Novo Regime, convida diretamente Taunay para participar da Missão Artística Francesa.

Obras 9

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Exposições 54

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Fontes de pesquisa 21

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  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo, SP. O olhar distante. Curadoria Jean Galard, Pedro Corrêa do Lago; assistência de curadoria Mariana Cordiviola; tradução Alain François, Contador Borges, Tina Delia, John Norman, Eduardo Hardman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
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