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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Zilio

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
1944 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl

O Quadrado no Plano Social, 1975
Carlos Zilio
Acrílica sobre tela
94,00 cm x 144,00 cm
Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ

Carlos Augusto da Silva Zilio (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Artista plástico, pintor, professor. Autor de uma vasta e diversificada obra marcada pelo engajamento político e pela experimentação estética.

Texto

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Carlos Augusto da Silva Zilio (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Artista plástico, pintor, professor. Autor de uma vasta e diversificada obra marcada pelo engajamento político e pela experimentação estética.

Ingressa no Instituto de Belas Artes da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1962. No ano seguinte, começa a estudar pintura com Iberê Camargo (1914-1994) no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro. Na segunda metade da década, nos anos que sucedem ao golpe de 1964, cursa psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), formando-se apenas em 1973, após dois anos preso por causa de seu envolvimento na luta armada contra a ditadura militar1. Em razão da perseguição política, muda-se como exilado para Paris, onde permanece até concluir o doutorado em artes na Universidade de Paris VIII, em 1980. Retorna à capital francesa, em 1992, para fazer um pós-doutorado com o filósofo francês Hubert Damisch (1928-2017) na École des Hautes Études en Sciences Sociales [Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais].

Em sua atuação como professor, responde, no Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), pela criação dos cursos de especialização em história da arte e em história da arquitetura no Brasil.

Também cria o projeto da linha de pesquisa em história social da cultura. Na Escola de Belas Artes da UFRJ, responde pela organização da linha de pesquisa em linguagens visuais do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. No âmbito do mercado editorial, participa como editor da celebrada revista Malasartes durante seu curto tempo de existência, de 1975 a 1976. Participa também da fundação da revista Gávea, na qual, entre 1984 e 1996, atua como editor responsável. 

Emerge no cenário artístico brasileiro nos anos 1960, sendo fortemente influenciado pelo contexto político. Inicialmente, adere às questões da Nova Figuração2, incorporando a cultura de massa numa produção com acentuado caráter de denúncia social. É o caso de Lute (1967), uma marmita de alumínio em cujo interior, no lugar do alimento, há uma máscara em formato de rosto, onde está escrita a palavra “lute” em tinta vermelha. 

Também produz a série de desenhos e pinturas sobre pratos de porcelana durante os dois anos de seu encarceramento, a partir de 1970. Outro importante trabalho dessa fase é Para um jovem de brilhante futuro (1973), uma maleta ao estilo de James Bond, preenchida por fileiras de pregos em vez de documentos. A obra deu origem a uma série homônima de fotografias (1974) que retratam o dia a dia de um jovem executivo interpretado pelo próprio Zilio. Estabelecendo um diálogo principalmente com obras do francês Marcel Duchamp (1887-1968), o artista ironiza a situação social e política do país no contexto do dito “milagre econômico”, sobretudo em relação ao futuro de uma juventude alienada.

A partir de 1978, passa a se dedicar exclusivamente à pintura. Contribui para essa escolha, como ele mesmo declara, o contato com a obra do pintor francês Paul Cézanne (1839-1906) numa exposição ocorrida em Paris durante esse período. Várias temporalidades se introduzem no horizonte de seu trabalho, que é influenciado também por artistas como os franceses Henri Matisse (1869-1954), Douanier Rousseau (1844-1910) e Claude Monet (1840-1926), e os estadunidenses Barnett Newman (1905-1970), Jasper Johns (1930) e Mark Rothko (1903-1970).

A pintura de Zílio, como assinala Wilson Coutinho (1947-2003) ao analisar sua produção até meados dos anos 1980, parte de uma linguagem pictórica abstrata, composta de linhas ondulantes coloridas e antigramaticais, como em O delírio de Thales (1981) e Geometria do tempo (1981). Ao longo dos anos ele incorpora figuras de frutas, de flores e de mulheres, como em Samba de braque (1984), O jardim de Matisse (1984) e Metisse (1985). Ao final da década, suas telas, então com poucos elementos e paletas monocromáticas, retornam ao abstrato, numa lógica pós-minimalista, nas palavras de Ronaldo Brito (1949). A tendência se consolida na sua produção durante a década de 1990, compondo uma geometria de linhas retas e perpendiculares. Nos anos 2000, destaca-se a presença de vigorosas formas circulares, como em Aqui e lá (2003), da figura recorrente de um tamanduá, como na série Tamanduá rothkiano (2020-2021) e, ainda, de objetos que de alguma maneira apresentam índices do fazer pictórico.

Artista paradigmático da geração de 1960, Carlos Zilio é autor de uma produção importante do ponto de vista político, mas que deve ser considerada também pelas transformações que promove no campo artístico. Com um itinerário estético que intercala e justapõe diversos sistemas plásticos, ele produz uma obra na qual está condensada não só a historicidade das próprias experimentações, mas também o diálogo permanente com a história da arte.

Notas

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

2. Também conhecida como Pop Art brasileira, a Nova Figuração brasileira consiste no movimento artístico surgido na década de 1960 que propõe o tratamento da figura na obra de arte, após o esgotamento da abstração geométrica e informal.

Obras 10

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Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural

Atenção

Vinílica sobre tela
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl

Auto-retrato

Acrílica sobre tela
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl

Limites

Acrílica sobre pano
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

Lute

Serigrafia sobre filme plástico e resina plástica acondicionados em marmita de alumínio [apropriação]

Exposições 198

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Fontes de pesquisa 23

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  • A CIDADE dos Artistas. Curadoria Cristina Freire. São Paulo: MAC/USP, 1997.
  • A RAREFAÇÃO dos sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70. Curadoria Reynaldo Roels Jr.. Rio de Janeiro: Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 1993.
  • ARTE conceitual e conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC USP. Curadoria Cristina Freire; versão em inglês Elizabeth Bjorkstrom Moraes, Thomas Karsten. São Paulo: MAC/USP, 2000.
  • BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
  • COTIDIANO/ARTE: O Objeto Anos 60/90. São Paulo: Itaú Cultural, 1999. (Eixo Curatorial 1999).
  • COUTINHO, Wilson. Zílio: a pintura e o ser sublime. Galeria: revista de arte, São Paulo: Area Editorial, n.6, p. 96-98,1987 .
  • ECO art. Tradução Angela Brant Ribeiro, Maria Luiza Crespo, Milena Guinle; texto Geraldo Edson de Andrade, Charles Merewether. Rio de Janeiro: Spala, 1992. 288 p., il. color.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MUSEU de Arte Moderna do Rio de Janeiro. São Paulo: Banco Safra, 1999.
  • O DESENHO moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand. São Paulo: Galeria de Arte do Sesi, 1993.
  • O MODERNO e o contemporâneo na arte brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand do Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro. Curadoria Agnaldo Farias; versão em inglês Ann Puntch. São Paulo: MASP, 1998.
  • PANORAMA DE ARTE ATUAL BRASILEIRA, 1997, São Paulo, SP. Panorama de Arte Atual Brasileira 1997. São Paulo: MAM, 1997.
  • PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
  • SALÃO NACIONAL DE ARTE MODERNA, 22., 1973. XXII Salão Nacional de Arte Moderna. Rio de Janeiro : Ministério da Educação e Cultura, 1973.
  • SALÃO de arte moderna do Distrito Federal, 4., 1967, Brasília. Brasília, 1967.
  • TERRA, Paula; FERREIRA, Glória (Cur.). Situações: arte brasileira anos 70. Rio de Janeiro: Fundação da Casa França-Brasil, 2000.
  • TRINCHEIRAS: arte e política no Brasil. Texto Marcus de Lontra Costa. Rio de Janeiro: MAM, 1994. 16 p., il. p&b.
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