Grandjean de Montigny
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Projeto da Catedral de São Pedro de Alcântara (fachada)
Grandjean de Montigny
Nanquim e aquarela sobre papel
60,50 cm x 36,00 cm
Texto
Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (Paris, França, 1776 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1850). Arquiteto, urbanista, professor. É pioneiro no ensino da arquitetura no Brasil e um dos responsáveis pela afirmação do neoclassicismo no Rio de Janeiro.
Estuda na Escola de Arquitetura de Paris na época em que ocorria a Revolução Francesa (1789-1799). Em 1799, vence o Grande Prêmio de Roma com o projeto Eliseu ou cemitério público, em que idealiza um espaço quadrangular dividido por dois eixos perpendiculares cujo cruzamento coincide com o centro do espaço circular de um edifício coberto por uma cúpula que lembra o Panteão de Roma.
Seu prêmio é uma bolsa de estudo, que usa para investigar a arquitetura da antiguidade e do renascimento. Essa pesquisa contribui para a realização da obra Architecture toscane, composta de dezoito fascículos, publicados entre 1806 e 1815, em Paris.
Outro projeto de destaque realizado na Europa é o plano de reunião do Museu do Louvre ao Palácio das Tulherias, apresentado em um concurso em 1810, em Paris. Para solucionar o problema da falta de paralelismo entre a ala oriental do museu e a fachada do palácio, o arquiteto propõe a criação de um grande espaço oval entre eles, cujos pórticos principais coincidem, corrigindo a perspectiva e a discordância entre os eixos das edificações.
Nesses projetos, é notável a utilização de figuras geométricas regulares e de elementos da arquitetura clássica e renascentista, como a coluna, o entablamento, o frontão, o arco pleno, a abóbada e a cúpula. Esses elementos, ordenados segundo os princípios de simetria e proporção, organizam os espaços internos e externos dos edifícios e definem seu caráter austero e monumental.
São esses elementos e princípios arquitetônicos que Montigny traz para o Brasil quando, em 1815, após a derrota de Napoleão, perde o posto de arquiteto da corte e aceita convite para integrar a Missão Artística Francesa no Brasil. No ano seguinte, é nomeado professor de arquitetura da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, rebatizada em 1826 de Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde permanece até sua morte.
Com a Aiba, Montigny inaugura o ensino formal de arquitetura no Brasil e é um dos principais responsáveis pela afirmação do neoclassicismo como a arquitetura oficial da corte no Rio de Janeiro1.
Na capital carioca, no entanto, o arquiteto se vê obrigado a adaptar suas características e princípios em face do traçado irregular da cidade, do clima tropical, das disponibilidades técnicas e materiais, da sociedade, dos costumes e das limitações econômicas e técnicas da corte no Brasil.
O primeiro projeto realizado pelo arquiteto no Brasil, a Aiba, é prova dessas adaptações necessárias. Originalmente composta de um edifício central de três pavimentos e dois edifícios laterais simétricos de dois pavimentos, a academia é inaugurada em 1826, dez anos após o início da obra, apenas com o edifício central. O edifício é caracterizado pela simetria, sendo formado pelo corpo central destacado com dois pavimentos, com arco pleno ladeado por colunas dóricas no primeiro pavimento e com colunas jônicas encimadas por um frontão com relevo no segundo e em duas alas laterais de um pavimento. O edifício é demolido em 1938 e o pórtico central é remontado no Jardim Botânico.
A Praça Belas Artes, cujo projeto data de 1848, idealizada para garantir a perspectiva clássica necessária ao edifício da Aiba, também leva anos para ser concluída. Seu desenho é definido por um semicírculo, ladeado por paredões ritmados por pilastras coroadas com vasos de mármore, que desemboca numa rua existente retificada para que seu eixo coincida com o eixo central da Aiba e garanta a monumentalidade desejada.
O edifício da Alfândega, de 1819-1820, segue o mesmo esquema compositivo da Aiba e da maioria dos edifícios neoclássicos da capital, com um corpo central destacado e duas alas laterais simétricas. Seu projeto também é alterado durante a construção. As platibandas não são executadas e as janelas em arco pleno das alas laterais são substituídas por óculos2. Internamente, o projeto original, inspirado no espaço central abobadado cercado de pórticos dóricos de basílicas romanas, é mantido.
Ao final, Montigny constrói efetivamente pouco no Brasil. Embora seus projetos e obras tenham tido impacto no Brasil dos anos 1800, é como professor da Aiba que ele deixa sua marca, tanto no modo como a arquitetura é ensinada quanto na difusão dos preceitos acadêmicos e neoclássicos seguidos por discípulos como José Maria Jacinto Rebelo (1821-1871).
Em 1941, o arquiteto e historiador Adolfo Morales de los Rios Filho (1887-1973) lança o livro Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira, obra de referência sobre a vida e obra de Montigny. Em 1980 e 2003, são realizadas duas exposições sobre o arquiteto.
Apesar de sua relevância na França napoleônica e de ser um dos principais nomes do neoclassicismo no Rio de Janeiro, Grandjean de Montigny tem dificuldades para colocar em prática no Brasil seus conhecimentos sobre arquitetura e urbanismo. No entanto, torna-se um importante professor, que marca época na Academia Imperial de Belas Artes.
Notas
1. Como bem aponta o historiador da arquitetura Gustavo Rocha-Peixoto, a emergência do neoclassicismo no Brasil é anterior à vinda da Missão Artística Francesa, remontando ao período pombalino e à atuação de engenheiros militares portugueses de formação acadêmica, que aqui constroem os primeiros exemplares do estilo (ver ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. Introdução ao neoclassicismo na arquitetura do Rio de Janeiro. In: CZAJKOWSKI, Jorge. (Org.). Guia da arquitetura colonial, neoclássica e romântica no Rio de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p.25-40).
2. Platibanda é um prolongamento de parede comumente usado para esconder o telhado; óculos são aberturas na fachada ou no interior, geralmente redondas ou elípticas, usadas para facilitar a entrada de luz.
Obras 20
Campo de Santana: projeto de urbanização [planta baixa]
Composição Arquitetônica
Palácio do Belvedere (fachada)
Exposições 14
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12/12/1840 - 20/12/1840
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13/12/1841 - 20/12/1841
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9/12/1843 - 20/12/1843
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7/12/1844 - 19/12/1844
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Fontes de pesquisa 7
- BANDEIRA, Julio; XEXÉO, Pedro Martins Caldas; CONDURU, Roberto. A Missão Francesa. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 2003. 208 p., il. p&b. color.
- GRANDJEAN de Montigny. In: Fundação Casa França-Brasil. Disponível em: [http://www.fcfb.rj.gov.br/conteudo/biograndjean.asp]. Acesso em: 30 de out. 2006.
- LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Arquitetura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1979.
- REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. 214p. il p& b.
- RIOS FILHO, Adolfo Morales de. Grandjean de Montingy e a evolução da arte brasileira. Rio de Janeiro: Empresa A Noite, 1941. 158p. il color.
- ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. Introdução ao neoclassicismo na arquitetura do Rio de Janeiro. In: CZAJKOWSKI, J. (org.). Guia da arquitetura colonial, neoclássica e romântica no Rio de Janeiro. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, pp.25 - 40.
- UMA CIDADE EM QUESTÃO I: Grandjean de Montigny e o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PUC: Funarte: Fundação Roberto Marinho, 1979.
Como citar
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GRANDJEAN de Montigny.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa214530/grandjean-de-montigny. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7