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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Victor Meirelles

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.01.2023
18.08.1832 Brasil / Santa Catarina / Florianópolis
22.02.1903 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Lula Rodrigues

Primeira Missa no Brasil, 1860
Victor Meirelles
Óleo sobre tela
268,00 cm x 356,00 cm
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)

Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina, 1832 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1903). Pintor, desenhista, professor. Destaca-se, sobretudo, pelas qualidades de sua pintura: o desenho primoroso e a requintada combinação tonal em telas trabalhadas com sentimento e poesia. 

Texto

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Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina, 1832 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1903). Pintor, desenhista, professor. Destaca-se, sobretudo, pelas qualidades de sua pintura: o desenho primoroso e a requintada combinação tonal em telas trabalhadas com sentimento e poesia. 

Inicia seus estudos artísticos por volta de 1838, com o engenheiro argentino Marciano Moreno. No ano de 1847, muda-se para o Rio de Janeiro e se matricula na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) onde, em 1849, inicia o curso de pintura histórica. Em 1852 ganha o prêmio de viagem ao exterior e no ano seguinte segue para a Itália. Em Roma freqüenta, em 1854, as aulas de Tommaso Minardi (1787-1871) e, posteriormente, de Nicola Consoni (1814-1884), com quem realiza uma série de estudos com modelo vivo e entra em contato com a pintura "purista", na qual o desenho é mais tênue e delicado que o da tradição neoclássica e as cores são suavizadas. Com a prorrogação da pensão que lhe fora concedida continua sua formação estudando em Paris onde, em 1857, matricula-se na École Superiéure des Beaux-Arts [Escola Superior de Belas Artes], freqüentando as aulas de Leon Cogniet (1794-1880) e, em seguida, recebendo orientações de seu discípulo Andrea Gastaldi (1810-1889). 

Durante o período em que permanece no exterior corresponde-se com Porto Alegre (1806-1879), pintor e escritor, diretor da Aiba entre 1854 e 1857. Na permanência em Paris, pinta o quadro A Primeira Missa no Brasil (1860). O crítico Gonzaga Duque (1863-1911) comenta essa obra, ressaltando sua importância histórica: "... A primeira missa não poderia ser senão aquilo que ali está. Devia ser, forçosamente, aquele conjunto, isto é, um altar, um padre oficiando, um outro servindo de acólito, a guarnição da armada portuguesa assistindo ao ofício divino, o gentio aproximando-se, cauteloso, admirado, imitando o que via fazer. É isso o que narra a história e só"1. O quadro retrata a primeira missa da maneira como é descrita na carta de Pero Vaz de Caminha (ca.1451-1500). O documento, publicado somente em 1817, assume papel primordial na história do Brasil. No momento em que o quadro é pintado, a temática indianista está presente na literatura romântica e nas artes plásticas. Destaca-se o sentido poético de organização dos grupos que participam da cena e a gama cromática, com sutis passagens de tons. A cena principal estende-se ao longe e o olhar do espectador é direcionado para a cruz, no alto. No plano de fundo, abre-se a paisagem serena, banhada por uma luz suave, na qual está presente a vegetação tropical. O quadro tem uma atmosfera contemplativa. Meirelles cria uma imagem da história que dificilmente pode ser esquecida e que para muitos setores da intelectualidade do século XIX é a primeira grande obra de arte brasileira.

Retorna ao Brasil em 1861 e, um ano depois, é nomeado professor de pintura histórica da Aiba. A tela Moema (1866), destaque do período, inspira-se no canto VI do poema épico Caramuru (1781), do Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784), que, como outros textos literários do período, trata do tema indianista ligado ao imaginário nacional. O poema narra a desventura da índia que, abandonada pelo português Caramuru, se atira ao mar e segue o navio no qual ele está partindo. No quadro, o corpo nu, banhado pelas ondas na praia, é exposto em primeiro plano, o rosto revela uma beleza exótica. O pintor cria uma imagem sensual e que, ao mesmo tempo, causa estranheza. Revela um sentimento poético na representação da paisagem.

Executa duas grandes telas, Passagem do Humaitá (1886) e Combate Naval do Riachuelo (ca.1882), feita sob encomenda oficial, com a técnica naturalista da representação, explora o triunfo e a destruição associados ao combate. Em 1879 participa da Exposição Geral de Belas Artes, expondo a Batalha dos Guararapes (1975-1979) ao lado da Batalha do Avaí (1872-1877) de Pedro Américo (1843-1905). A apresentação das duas obras gera grande polêmica e um intenso debate no meio artístico. A partir de 1886 passa a se dedicar à execução de panoramas. Entre eles destacam-se: o Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro (1890), feito na Bélgica, juntamente com Henri Langerock (1830-1915) e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894, produzida nesse mesmo ano.

Com a Proclamação da República, modifica-se a direção da Aiba, que passa a se chamar Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Surgem propostas de renovação no ensino das artes e os antigos professores, como Victor Meirelles, são exonerados. Ele passa a ser marginalizado, por ser identificado como o pintor oficial da monarquia. Desde 1885, procurando alternativa à pintura historica e às encomendas oficiais, cria uma empresa de panoramas da cidade do Rio de Janeiro. No fim da vida, sobrevive das exibições públicas de seus panoramas e, melancólico, lamenta que o público tenha esquecido de seus quadros. Do primeiro panorama, exposto em Bruxelas e em Paris, em 1889, foram preservados apenas seis estudos. Nestes, a paisagem é representada com equilibrada distribuição de tons, e o olhar do espectador é convidado a percorrer a variedade de passagens, da semi-obscuridade da vegetação à luminosidade da atmosfera.

Além do vasto legado criativo, Vitor Meirelles tem papel importante na formação de vários artistas, na segunda metade do século XIX, devido a sua longa carreira como professor. 

Nota

1. DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p.173. (Arte: ensaios e documentos).

Obras 19

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Reprodução fotográfica Raul Lima

A Bacante

Óleo sobre tela
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini

Dom Pedro II

Óleo sobre tela

Exposições 77

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Fontes de pesquisa 18

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da pintura no Brasil. 2.ed. [Rio de Janeiro]: [s.n.], 1942. v. 1.
  • ARAÚJO, Vicente de Paula. A Bela época do cinema brasileiro. 2.ed. Apresentação Paulo Emilio Salles Gomes. São Paulo: Perspectiva, 1976. 419 p., il. p&b.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. A República e a decadência da disciplina neoclássica: 1890-1918. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. (História da pintura brasileira no século XIX, 5).
  • COLI, Jorge. Primeira missa e invenção da descoberta. In: NOVAES, Adauto (Org.). A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira: pintura e esculptura. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. (Arte: ensaios e documentos).
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • GUIMARÃES, Argeu. Auréola de Vitor Meireles. [S.l.]: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Conselho Federal de Cultura, 1977. 202 p.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • O Brasil redescoberto. Curadoria Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho, Julio Bandeira, Lorelai Kury, Renato Palumbo Dória, Vera Beatriz Siqueira. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
  • ROSA, Ângelo Proença, MELLO JÚNIOR, Donato, PEIXOTO, Elza Ramos. Victor Meirelles de Lima: 1832-1903. Prefácio Alcídio Mafra de Souza. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982. 144 p., 20 il. p&b.
  • RUBENS, Carlos. Vítor Meireles:sua vida e sua obra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. 177 p., il. p&b.
  • SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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