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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Jean-Baptiste Debret

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.07.2024
18.04.1768 França / Ile de France / Paris
11.06.1848 França / Ile de France / Paris
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Tropeiros Pobres de São Paulo, 1823
Jean-Baptiste Debret
Técnica mista, c.i.d.
58,00 cm x 68,00 cm
Acervo Itaúsa S.A

Jean-Baptiste Debret (Paris, França 1768 – Idem 1848). Pintor, desenhista, gravador, professor. Integra a primeira expedição de artistas vindos ao Brasil. Com estilo neoclássico e variadas técnicas de pintura, produz um amplo registro das realidades natural, social e política do país no século XIX.

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Jean-Baptiste Debret (Paris, França 1768 – Idem 1848). Pintor, desenhista, gravador, professor. Integra a primeira expedição de artistas vindos ao Brasil. Com estilo neoclássico e variadas técnicas de pintura, produz um amplo registro das realidades natural, social e política do país no século XIX.

Jean-Baptiste Debret nasce no seio de uma família pequeno-burguesa francesa, tendo como parentes nomes importantes da pintura, como o tio-avô François Boucher (1703-1770) e o primo Jacques-Louis David (1748-1825). Em 1785, ingressa na Academia de Belas Artes de Paris, onde se torna aluno do primo, formando-se dentro dos ideais neoclássicos. Para garantir os rendimentos durante a crise no reinado de Luís XVI, que causa forte impacto no mercado da arte, passa a dar aulas de desenho na Escola Politécnica. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Por volta de 1806, passa a atuar como pintor na corte de Napoleão Bonaparte (1769-1821).

Depois da queda do imperador e com a morte do único filho do pintor, Debret decide integrar a Missão Artística Francesa que vem ao Brasil  em 1816 com o objetivo de promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê, leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), o alemão August Müller (1815-1883) e Simplício de Sá (1785-1839). Em 1818, atua com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) para realizar a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro para a aclamação de D. João VI (1767-1826). A partir de 1826, passa a ensinar pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). No mesmo período, visita várias cidades do país, retratando suas paisagens e costumes. Em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, primeira mostra pública de arte no Brasil, importante por dar origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.

Durante sua permanência no país, trabalha como pintor da corte portuguesa no Brasil, representando fatos ilustres e cenas oficiais. Atento às questões sociais brasileiras, atua como ilustrador e documentarista de acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura: Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret funciona, em parte, como descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre nos quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Desembarque da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1828), que tem por modelo a pintura de Jacques-Louis David, o artista valoriza o caráter cívico, preocupando-se com a necessidade da criação de um imaginário político.

Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro em três volumes trata das florestas e dos povos originários, das atividades agrárias, do trabalho escravizado e também de eventos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Sua obra apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravizado, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas, mostrando ainda o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.

Rodrigo Naves (1955) aponta a dificuldade de o artista transpor as ideias neoclássicas para o Brasil, tanto pelo caráter da monarquia instaurada, quanto pela questão da escravidão no país. Para o historiador, os desenhos de Viagem pitoresca… revelam o esforço do artista de lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira.

Nas aquarelas, Debret parece se sentir mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores conferem a seus corpos um aspecto vulnerável. Uma forte ambiguidade marca as vestimentas: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.

Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade se revelam pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como em Lavadeiras à beira-rio (1835). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem pitoresca, a ambiguidade da sociedade brasileira é expressa na fragilidade das formas e na pressão do espaço sobre os personagens. De volta a Paris, retoma o contato com companheiros neoclássicos e recupera o linearismo, as formas incisivas e a gestualidade acentuada.

Jean-Baptiste Debret é uma figura importante no tumultuado processo de criação de um espaço acadêmico de ensino artístico no Brasil. Desempenhando inúmeras funções, destaca-se por sua dedicação à formação de alunos e à realização de exposições. Sua atuação também é notável pela publicação de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, uma das mais importantes obras da historiografia e da arte brasileira do século XIX.

Obras 29

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Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz

Botica

Aquarela sobre papel
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz

Caboclo

Aquarela sobre papel
Reprodução fotográfica Pedro Oswaldo Cruz

Cajá (sic)-Iri

Aquarela sobre papel

Exposições 103

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Fontes de pesquisa 18

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da pintura no Brasil. 2.ed. [Rio de Janeiro]: [s.n.], 1942. v. 1.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BANDEIRA, Júlio. Debret e a Corte no Brasil. In: O Brasil redescoberto. Curadoria Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho, Julio Bandeira, Lorelai Kury, Renato Palumbo Dória, Vera Beatriz Siqueira. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
  • BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: A construção da paisagem. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v.3.
  • BOGHICI, Jean (org.). Missão Artística Francesa e pintores viajantes: França-Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Brasil-França, 1990.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DEBRET. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
  • DEBRET. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil: tomo I: volumes I e II. Tradução Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia, 1978. (Reconquista do Brasil, 56).
  • GALERIA DEBRET. Textos de Francisco Weffort, Marcos C. de Azambuja, Vera de Alencar e Júlio Bandeira. [s.d.]. Disponível em: https://web.archive.org/web/20060205005025/http://estadao.com.br/ext/debret/sumario.htm. Acesso em: 28 ago. 2023.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo, SP. Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 anos. Curadoria Nelson Aguilar, Maria Cristina Mineiro Scatamacchia, Eduardo Góes Neves, Cristiana Barreto, Lúcia Hussak Van Velthem, José António Braga Fernandes Dias, Luiz Donisete Benzi Grupioni, Regina Pólo Miller, Emanoel Araújo, Maria Lúcia Montes, Carlos Eugênio Marcondes de Moura, François Neyt, Catherine Vanderhaeghe, Kabengele Munanga, Marta Heloísa Leuba Salum, Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo, Frederico Pernambucano de Mello, Nise da Silveira, Luiz Carlos Mello, Franklin Espath Pedroso, Maria Alice Milliet, Glória Ferreira, Jean Galard, Pedro Corrêa do Lago. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000.
  • NAVES, Rodrigo. A Forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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