Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Gonzaga Duque

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.08.2024
1863 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1911 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica César Barreto

Retrato de Gonzaga Duque, 1888
Rodolfo Amoedo, Gonzaga Duque
Óleo sobre tela, c.s.d.
50,00 cm x 40,00 cm

Luiz Gonzaga Duque Estrada (Rio de Janeiro RJ 1863 - idem 1911). Crítico de arte, romancista, contista, jornalista, cronista e historiador. Começa cedo a atuar no jornalismo. Em 1880, funda, com Olímpio Niemeyer, o periódico O Guanabara. Colabora na Gazetinha, de Artur Azevedo (1855-1908), em 1882, e, no ano seguinte, na Gazeta da Tarde, de José...

Texto

Abrir módulo

Biografia
Luiz Gonzaga Duque Estrada (Rio de Janeiro RJ 1863 - idem 1911). Crítico de arte, romancista, contista, jornalista, cronista e historiador. Começa cedo a atuar no jornalismo. Em 1880, funda, com Olímpio Niemeyer, o periódico O Guanabara. Colabora na Gazetinha, de Artur Azevedo (1855-1908), em 1882, e, no ano seguinte, na Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio (1853-1905). No ano de 1887, escreve artigos de crítica para A Semana com o pseudônimo de Alfredo Palheta. Em 1888 publica seu primeiro livro, A Arte Brasileira.

Funda em 1895 a Rio-Revista com Lima Campos. Escreve em 1898 Revoluções Brasileiras: Resumos Históricos, texto de história do Brasil que aborda, de maneira bastante inovadora, as diversas lutas populares pelo poder político, revoltas como a Cabanada, 1832, a Balaiada, 1838-1841, e a Guerra dos Farrapos, 1835-1845, e faz a descrição do Quilombo dos Palmares. Em 1899, publica o romance Mocidade Morta, que o faz reconhecido como uma das principais figuras da literatura simbolista no país.

Em 1901 funda as revistas Mercúrio e a simbolista Galáxia, esta com Lima Campos. Com ele e Mario Pederneiras (1868-1915) cria em 1908 a revista Fon-fon. Colabora em diversos periódicos: Brasil Moderno, Revista Contemporânea, O Globo, O Paiz, Diário de Notícias, Diário do Comércio, entre outros, usando muitas vezes pseudônimos como André de Resende, Amadeu, J. Meirinho, Diabo Coxo, o Risonho.

Gonzaga Duque trabalha ativamente na revista Kosmos, uma das mais importantes surgidas no meio intelectual e artístico do fim do século XIX, na qual escrevem figuras como Oliveira Lima (1867-1928), Artur Azevedo, Manoel Bonfim (1868-1932), Rocha Pombo (1857-1933), Capistrano de Abreu (1853-1927). A partir de 1907, assume as "Chronicas" que abrem a revista, até então assinadas por Olavo Bilac (1865-1918), em que comenta assuntos do momento, como o carnaval, a reforma urbana, a emancipação feminina.

Em 1909, é nomeado diretor da Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, cargo que exerce até falecer, em 1911. Publica Graves e Frívolos em 1910, reunião de artigos publicados na imprensa, em que faz a defesa da estética art nouveau. Figura conhecida e atuante no meio artístico carioca, é retratado por diversos artistas, entre os quais Eliseu Visconti (1866-1944), Belmiro de Almeida (1858-1935), Rodolfo Amoedo (1857-1941) e Presciliano Silva (1883-1965).

Articula, em torno da revista Folha Popular, o primeiro grupo simbolista carioca, e convive com escritores e poetas como Leôncio Correia (1865-1950), Marcelo Gama (1878-1915), Bastos Tigre (1882-1982), Luiz Delfino (1834-1910), Dário Veloso (1869-1937) e Emiliano Perneta (1866-1921). Seus contos reunidos no livro Horto de Mágoas, editado postumamente em 1914, revelam a influência dos escritores franceses Charles Baudelaire (1821-1867) e Stéphane Mallarmé (1842-1898). Outra edição póstuma é Contemporâneos, publicado em 1929, uma coletânea de críticas e crônicas publicadas na Kosmos.

Entre os arquivos de Gonzaga Duque estão duas novelas inacabadas, Sacrifício Inútil, título de um conto do seu livro Horto de Mágoas, e Sangravida, além de cadernos, anotações e uma vasta correspondência mantida com artistas como Visconti e Hélios Seelinger (1878-1865), o poeta Cruz e Souza (1861-1898), com quem planeja criar a Revista dos Novos, e o crítico Nestor Vitor (1868-1932).

Comentário Crítico
Gonzaga Duque é o mais importante crítico de artes plásticas brasileiro do século XIX, pela quantidade de artigos publicados na imprensa e relevância de sua produção. Deixa uma significativa contribuição bibliográfica nas áreas artística e literária. A maioria de seus textos avalia e analisa a produção dos artistas atuantes no Rio de Janeiro entre as décadas de 1880 e 1910, constituindo uma grande fonte de informações históricas sobre o desenvolvimento das artes visuais no Brasil.

De postura crítica em relação à arte acadêmica, busca detectar no ambiente artístico obras e autores capazes de demonstrar a existência no país de uma produção afinada com as grandes questões estéticas modernas debatidas na Europa. Identifica-se sobretudo com o simbolismo, movimento cosmopolita e universalista, crítico da razão moderna, que valoriza a imaginação, a visão subjetiva, simbólica e espiritual do mundo. Para Gonzaga Duque, a arte não é a imitação da natureza, mas uma atividade intelectual. A obra de arte, por sua vez, não é uma tradução fiel da realidade, mas a concretização de uma idéia estética. Considera o naturalismo e o realismo tendências simplesmente imitativas e elogia as realizações artísticas em que detecta reflexão, meditação e criatividade, observando nessas manifestações a modernidade artística da arte produzida no Brasil.

Em seu livro de estréia, A Arte Brasileira, faz um balanço da produção de pintura e escultura brasileira desde os tempos coloniais até o momento contemporâneo à sua publicação. Nessa obra, Gonzaga Duque insere a arte no universo cultural brasileiro mais amplo, procurando reverter a desatenção dada às artes plásticas e alçá-las à uma mesma posição alcançada pela literatura no debate intelectual nacional. O capítulo introdutório e a conclusão apresentam ao leitor um panorama da formação social do país, compondo um diagnóstico pessimista sobre a sociedade brasileira. Influenciado pelos estudos de Hippolyte Taine (1828-1893) e Eugéne de Veron (1825-1889), Gonzaga Duque empreende uma análise de fundo determinista, que aponta aspectos socioculturais e políticos do país como as causas do "desnacionalismo" da produção artística. Nos capítulos internos do livro, analisa obras e artistas. O capítulo "Manifestação" cobre o período que vai de 1695 até a chegada da Missão Artística Francesa, em 1816, e seus desdobramentos; "Movimento", os anos de 1831 até 1870; e "Progresso" é dedicado à década de 1870 até o momento contemporâneo. Completam a obra os apêndices "Amadores" e "Escultura".

Numa atitude ousada para a época, Gonzaga Duque critica a arte produzida na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) e o gosto convencional acadêmico. A vinda da Missão Artística Francesa é vista como um episódio negativo, pois introduz um sistema de ensino que institucionaliza o neoclassicismo e produz um rompimento com a tradição visual que se desenvolve, descaracterizando-a. Critica a "incultura estética" brasileira, o "inesteticismo do meio". Segundo Gonzaga Duque, a formação social do artista no Brasil, considerado ofício menor, de negros e mulatos, é uma das principais razões da incompreensão e desprezo do meio para com a arte.

Num contexto em que o debate sobre a criação de uma arte nacional, que tivesse uma configuração que expressasse inequívocos sinais da identidade brasileira, ocupa o centro das preocupações, Gonzaga Duque posiciona-se contra o apelo ao exótico e à figura do índio como representação dessa identidade, defendendo uma cultura estética que contenha uma reflexão sobre as singularidades do país, mas que se mantenha atenta à tradição universal. Nesse sentido, afirma que não encontra na produção local uma interpretação da paisagem brasileira, criticando o paisagista Georg Grimm (1846-1887), que, segundo ele, forma apenas imitadores e insiste na necessidade de fixar a luz tropical. O livro é repleto de considerações sobre alguns dos principais artistas do período, destacando positivamente as produções de Almeida Júnior (1850-1899), Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida, Henrique Bernardelli (1858-1936), Castagneto (1851-1900), entre outros.

Mas em A Arte Brasileira, o autor transcende a mera crônica sobre os artistas. Como aponta a historiadora Paula Vermeersch,1 suas considerações e posições combativas amparam-se num projeto político, o que se atesta pela ligação de Gonzaga Duque com o Partido Abolicionista e pela influência exercida, no meio em que circula, pela figura de José do Patrocínio. Como ressaltam alguns estudiosos e comentadores dessa sua obra, chama a atenção a disparidade entre a introdução e a conclusão, em que o autor adota uma postura pessimista e centrada na postulação por uma arte nacional, e os capítulos internos de A Arte Brasileira, em que transparece uma postura positiva quanto ao cosmopolitismo.2 Para Gonzaga Duque, a arte deveria fugir dos temas ligados à tradição e explorar os valores morais burgueses, os temas ligados à modernidade. As obras de alguns artistas, trabalhos influenciados pelo ideário burguês, cultura urbana e ambiente parisiense, como Descanso do Modelo, 1882, de Almeida Júnior, Estudo de Mulher, 1884, de Rodolfo Amoedo, e Arrufos, 1887, de Belmiro de Almeida, parecem apontar-lhe caminhos para a arte.

Na realidade, Gonzaga Duque vai progressivamente mudando de postura e deixa a visão primeiramente pessimista em relação ao cosmopolitismo, que em A Arte Brasileira era sinônimo de desnacionalismo, e passa a pautar-se pela idéia de que a produção artística do país é herdeira da tradição da cultura ocidental, sendo então legítimos os códigos internacionais cosmopolitas.

Em Mocidade Morta, de 1899, o protagonista Camilo Prado, um jovem crítico e jornalista, destila seu pessimismo e decepção, afirmando a impossibilidade de criação de uma arte moderna num país como o Brasil, de maioria inculta e iletrada. No romance, contudo, transparece uma visão menos crítica sobre o cosmopolitismo e uma defesa da liberdade individual, da produção artística original, o que Gonzaga Duque explora nas discussões entre Camilo Prado e o artista em início de carreira Agrário.

O cosmopolitismo passa a ser visto como qualidade positiva em Contemporâneos. Na maioria dos artigos da coletânea, que contempla o período que vai de 1901 a 1908, em que atua intensamente como crítico de arte, Gonzaga Duque não menciona o problema da identidade nacional. Quando isso ocorre, o autor se mostra intolerante quanto ao apego à temática nacional, que se dá em prejuízo da qualidade artística dos trabalhos. A análise mostra como os artistas resolvem plasticamente os temas propostos, para o tratamento pictórico e a criatividade da composição. Os textos trazem observações sobre eventos ligados às artes, como em Os Aquarelistas, 1904, a respeito da segunda exposição da Associação de Aquarelistas, comentários sobre a Exposição Geral de Belas Artes de 1904 e 1906, além de críticas sobre artistas de sua predileção, como Rodolfo Amoedo e Hélios Seelinger.

Gonzaga Duque escreve dois artigos sobre caricatura, nos quais aponta o caráter esquemático, sintético e irreverente, ressaltando seu poder crítico. Em um deles, comenta a produção de Raul Pederneiras (1874-1953), e elogia a deformação e inversão da realidade promovidas pelo traço do artista.

A coletânea Impressões de um Amador, publicada em 2001, traz diversos artigos originalmente publicados na revista Kosmos, entre os quais Queda dos Muros, em que elogia a reforma Pereira Passos; em Primo Basílio, discorre sobre o romance e a relação da obra de Eça de Queirós (1845-1900) e a atmosfera da década de 1870; comentários sobre Antônio Parreiras (1860-1937), Pedro Américo (1843-1905) e o Grupo Grimm; além de diversos artigos memorialistas sobre o ambiente carioca no fim de século XIX.

Os textos de Gonzaga Duque expressam sua reflexão sobre os acontecimentos da época do império e início da república e as formulações deste que, segundo o historiador Tadeu Chiarelli, foi "o primeiro crítico brasileiro a formular uma visão menos provinciana sobre a arte produzida no país, e sobre os programas que ela deveria seguir para alcançar sua autonomia".3

Notas
1 VERMEERSCH, Paula. Por uma arte brasileira: a pintura acadêmica no final do Segundo Reinado e a crítica de Gonzaga Duque. Rotunda. Campinas: Centro de Estudos de Pesquisa das Artes no Brasil (CEPAB), Instituto de Artes, Unicamp, 2003. p. 23.
2 Ver: CHIARELLI, Tadeu. Gonzaga Duque: a moldura e o quadro da arte brasileira. In: DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 11-52; VERMEERSCH, Paula. op. cit; LINS, Vera. Gonzaga Duque: crítica e utopia na virada do século. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1996.
3 CHIARELLI, Tadeu. Op. cit. p.31.

Obras 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 12

Abrir módulo
  • CHIARELLI, Tadeu. Gonzaga Duque: a moldura e o quadro da arte brasileira. In: DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. 270 p. (Arte: ensaios e documentos). p. 11-52.
  • DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888. 254 p.
  • DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Tipografia Benedicto de Souza, 1929.
  • DUQUE, Gonzaga. Impressões de um amador: textos exparsos de crítica (1882-1909). Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001.
  • DUQUE, Gonzaga. Revoluções brasileiras: resumos históricos. Organização Francisco Foot Hardman e Vera Lins. São Paulo: Unesp : Giordano, 1998.
  • GUIMARÃES, Júlio Castañon. Gonzaga Duque: ficção e crítica de artes plásticas. In: CARVALHO, José Murilo de, et alii. Sobre o pré-modernismo. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LINS, Vera. Crítica e utopia nos escritos de Gonzaga Duque: uma terceira margem do moderno. In: Qfwfq. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vol 2, no 1, 1996.
  • LINS, Vera. Gonzaga Duque: crítica e utopia na virada do século. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1996.
  • MURICY, Andrade. Panorama do movimento simbolista brasileiro. 2.ed. Brasilia: Ministério da Educação e Cultura, 1973. 590 p., il. foto p.b., (Literatura brasileira, 12).
  • VERMEERSCH, Paula. Lista de artigos de Gonzaga Duque na Revista Kosmos. Rotunda. Campinas: Centro de Estudos de Pesquisa das Artes no Brasil (CEPAB), Instituto de Artes, Unicamp, 2003.
  • VERMEERSCH, Paula. Por uma arte brasileira: a pintura acadêmica no final do Segundo Reinado e a crítica de Gonzaga Duque. Rotunda. Campinas: Centro de Estudos de Pesquisa das Artes no Brasil (CEPAB), Instituto de Artes, Unicamp, 2003.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: