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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Simbolismo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.02.2024
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Pano de Boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 1902
Eliseu Visconti

Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de 1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da "alma das coisas", que a linguagem poé...

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Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de 1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da "alma das coisas", que a linguagem poética - mais do que qualquer outra - permite alcançar, por detrás das aparências. A poesia simbolista, de Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-1898) por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. Do mesmo modo, a força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar expressão visual ao que está oculto por meio da linha e da cor que, menos do que representar diretamente a realidade, exprimem idéias. Os princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações do poeta Jean Moreás (1856-1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886), e no Tratado do Verbo, escrito no mesmo ano por René Ghil (1862-1925). Nos termos de Moreás, a arte deve ser pensada como fusão de elementos sensoriais e espirituais. Trata-se, diz ele, de "revestir a idéia com formas sensíveis". É possível compreender o simbolismo, indicam os estudiosos, como uma reação ao cientificismo que acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século XIX. Contra as associações freqüentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas sublinham um ideal estético amparado na expressão poética e lírica.

O simbolismo surge paralelamente ao neo-impressionismo de Georges Seurat (1859-1891) e de Paul Signac (1863-1935), e se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura visualidade defendida pelo impressionismo. Só que, enquanto o divisionismo de Seurat e Signac funda a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e anticientífica: a arte não representa a realidade mas revela, através de símbolos, uma realidade que escapa à consciência. Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender valores transcendentes - o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado -  que se encontram situados no pólo oposto a razão analítica. A arte visa a retomar a paixão, o sonho, a fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis. Nesse sentido, o simbolismo encontra-se nas antípodas do realismo de Gustav Courbet (1819-1877), para quem a pintura, arte concreta por excelência, se aplica aos objetos reais, às "coisas como elas são". O simbolismo, ao contrário, mobiliza um imaginário povoado de símbolos religiosos, de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas (tanto a ninfa quanto a "mulher fatal"), dos temas da doença e da morte. Os artistas trabalham esse repertório comum a partir de estilos diferentes. A "pintura literária" de Gustave Moreau (1826-1898), por exemplo, focaliza civilizações e mitologias antigas, com o auxílio de imagens místicas, tratadas com forte sensualidade (A Aparição, ca.1875). Odilon Redon (1840-1916), por sua vez, explora, em desenhos e litografias, diversos temas fantásticos, sob inspiração da literatura de Edgar Allan Poe (1809 - 1849). Na década de 1890, volta-se para a pintura - óleos e pastéis - que revelam sua enorme habilidade como colorista, exercitada em imagens florais e cenas mitológicas (Nascimento de Vênus, ca.1912). Os murais de Pierre Puvis de Chavannes (1824-1898) para edifícios públicos - aqueles realizados para o Panteão e para a Sorbonne, em Paris -, assim como suas telas, primam pelo colorido pálido, que lembram afresco (O Verão, 1891). Paul Gauguin (1848-1903) e seu grupo de Pont-Aven (1886-1891) são freqüentemente aproximados do simbolismo, sobretudo em função das obras expostas no Café Volpini, em 1891. Aí apresentam trabalhos antinaturalistas, com amplas áreas de cores planas e contornos marcados, muitas vezes apresentados pela designação sintetismo, em função da simplificação das formas e das cores.

O simbolismo é disseminado na França com a ajuda de uma série de revistas, por exemplo, Le Simbolisme (1886), La plume (1889), La Revue Blanche (1891) e Le Mercure de France (1889), considerado órgão oficial do movimento. A partir de 1890, verifica-se a difusão dos preceitos simbolistas pela Europa. Na França, os Nabis - Aristide Maillol (1861-1944), Pierre Bonnard (1867-1947) e Édouard Vuillard (1868-1940) - retomam parte dos princípios simbolistas. Movimento semelhante observa-se na Áustria, com a pintura de Gustav Klimt (1862-1918). Rejeitado pelo cubismo, o simbolismo ganha impulso com o expressionismo do Blauer Reiter [O Cavaleiro Azul] de Wassily Kandisnky (1866-1944) e Paul Klee (1879-1940). Após a Primeira Guerra Mundial, verifica-se uma retomada das preocupações simbolistas no surrealismo e nas tendências abrigadas sob a arte informal. No Brasil, o simbolismo encontra expressão na poesia de Cruz e Sousa (1861-1898) e Alphonsus de Guimarães (1870-1921). Na pintura, o repertório, as formas vaporosas, o colorido e as linhas ornamentais característicos do simbolismo são reeditados em trabalhos e fases da obra de alguns pintores. Por exemplo, A Dança das Oréades (1899) de Eliseu Visconti (1866-1944), Estudo de Reflexos (1909) de Carlos Oswald (1882-1971), Paisagem com Árvores (1925) de Bruno Lechowski (1887-1941)Minha Terra - trípico (1921) de Hélios Seelinger (1878-1965).

Obras 3

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Fontes de pesquisa 5

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  • ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 35. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • LAGARDE, André & MICHARD, Laurent. XIXème siècle. Paris, Bordas, 1985, 578 pp. il. p&b. color. (Collection littéraire Lagarde et Michard).
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.

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