Simbolismo
![Pano de Boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 1902 / 1908 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/009094001019.jpg)
Pano de Boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 1902
Eliseu Visconti
Texto
Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de 1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da "alma das coisas", que a linguagem poética - mais do que qualquer outra - permite alcançar, por detrás das aparências. A poesia simbolista, de Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-1898) por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. Do mesmo modo, a força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar expressão visual ao que está oculto por meio da linha e da cor que, menos do que representar diretamente a realidade, exprimem idéias. Os princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações do poeta Jean Moreás (1856-1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886), e no Tratado do Verbo, escrito no mesmo ano por René Ghil (1862-1925). Nos termos de Moreás, a arte deve ser pensada como fusão de elementos sensoriais e espirituais. Trata-se, diz ele, de "revestir a idéia com formas sensíveis". É possível compreender o simbolismo, indicam os estudiosos, como uma reação ao cientificismo que acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século XIX. Contra as associações freqüentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas sublinham um ideal estético amparado na expressão poética e lírica.
O simbolismo surge paralelamente ao neo-impressionismo de Georges Seurat (1859-1891) e de Paul Signac (1863-1935), e se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura visualidade defendida pelo impressionismo. Só que, enquanto o divisionismo de Seurat e Signac funda a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e anticientífica: a arte não representa a realidade mas revela, através de símbolos, uma realidade que escapa à consciência. Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender valores transcendentes - o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado - que se encontram situados no pólo oposto a razão analítica. A arte visa a retomar a paixão, o sonho, a fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis. Nesse sentido, o simbolismo encontra-se nas antípodas do realismo de Gustav Courbet (1819-1877), para quem a pintura, arte concreta por excelência, se aplica aos objetos reais, às "coisas como elas são". O simbolismo, ao contrário, mobiliza um imaginário povoado de símbolos religiosos, de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas (tanto a ninfa quanto a "mulher fatal"), dos temas da doença e da morte. Os artistas trabalham esse repertório comum a partir de estilos diferentes. A "pintura literária" de Gustave Moreau (1826-1898), por exemplo, focaliza civilizações e mitologias antigas, com o auxílio de imagens místicas, tratadas com forte sensualidade (A Aparição, ca.1875). Odilon Redon (1840-1916), por sua vez, explora, em desenhos e litografias, diversos temas fantásticos, sob inspiração da literatura de Edgar Allan Poe (1809 - 1849). Na década de 1890, volta-se para a pintura - óleos e pastéis - que revelam sua enorme habilidade como colorista, exercitada em imagens florais e cenas mitológicas (Nascimento de Vênus, ca.1912). Os murais de Pierre Puvis de Chavannes (1824-1898) para edifícios públicos - aqueles realizados para o Panteão e para a Sorbonne, em Paris -, assim como suas telas, primam pelo colorido pálido, que lembram afresco (O Verão, 1891). Paul Gauguin (1848-1903) e seu grupo de Pont-Aven (1886-1891) são freqüentemente aproximados do simbolismo, sobretudo em função das obras expostas no Café Volpini, em 1891. Aí apresentam trabalhos antinaturalistas, com amplas áreas de cores planas e contornos marcados, muitas vezes apresentados pela designação sintetismo, em função da simplificação das formas e das cores.
O simbolismo é disseminado na França com a ajuda de uma série de revistas, por exemplo, Le Simbolisme (1886), La plume (1889), La Revue Blanche (1891) e Le Mercure de France (1889), considerado órgão oficial do movimento. A partir de 1890, verifica-se a difusão dos preceitos simbolistas pela Europa. Na França, os Nabis - Aristide Maillol (1861-1944), Pierre Bonnard (1867-1947) e Édouard Vuillard (1868-1940) - retomam parte dos princípios simbolistas. Movimento semelhante observa-se na Áustria, com a pintura de Gustav Klimt (1862-1918). Rejeitado pelo cubismo, o simbolismo ganha impulso com o expressionismo do Blauer Reiter [O Cavaleiro Azul] de Wassily Kandisnky (1866-1944) e Paul Klee (1879-1940). Após a Primeira Guerra Mundial, verifica-se uma retomada das preocupações simbolistas no surrealismo e nas tendências abrigadas sob a arte informal. No Brasil, o simbolismo encontra expressão na poesia de Cruz e Sousa (1861-1898) e Alphonsus de Guimarães (1870-1921). Na pintura, o repertório, as formas vaporosas, o colorido e as linhas ornamentais característicos do simbolismo são reeditados em trabalhos e fases da obra de alguns pintores. Por exemplo, A Dança das Oréades (1899) de Eliseu Visconti (1866-1944), Estudo de Reflexos (1909) de Carlos Oswald (1882-1971), Paisagem com Árvores (1925) de Bruno Lechowski (1887-1941), Minha Terra - trípico (1921) de Hélios Seelinger (1878-1965).
Obras 3
A Providência Guia Cabral
Teto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Fontes de pesquisa 5
- ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
- BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 35. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
- CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- LAGARDE, André & MICHARD, Laurent. XIXème siècle. Paris, Bordas, 1985, 578 pp. il. p&b. color. (Collection littéraire Lagarde et Michard).
- La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
Como citar
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SIMBOLISMO.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo3841/simbolismo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7