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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Belmiro de Almeida

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.10.2024
25.05.1858 Brasil / Minas Gerais / Serro
12.06.1935 França / Ile de France / Paris
Reprodução Fotográfica Raul Lima

Retrato de Marie Lefebvre Ferrez (esposa do Fotógrafo Marc Ferrez), 1915
Belmiro de Almeida
Óleo sobre tela, c.i.d.
105,00 cm x 74,00 cm

Belmiro Barbosa de Almeida (Serro, Minas Gerais, 1858 – Paris, França, 1935). Pintor, desenhista, caricaturista, escultor, professor, escritor. Atuando na passagem do século XIX para o século XX, empreende uma pintura nova ao deixar de lado temas históricos para se ocupar de assuntos mais prosaicos da sociedade contemporânea.

Texto

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Belmiro Barbosa de Almeida (Serro, Minas Gerais, 1858 – Paris, França, 1935). Pintor, desenhista, caricaturista, escultor, professor, escritor. Atuando na passagem do século XIX para o século XX, empreende uma pintura nova ao deixar de lado temas históricos para se ocupar de assuntos mais prosaicos da sociedade contemporânea.

Frequenta o Liceu de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), entre 1869 e 1880, no Rio de Janeiro, onde estuda com Agostinho da Motta (1824-1878), Zeferino da Costa (1840-1915) e José Maria de Medeiros (1849-1925). Em 1878, estuda com Henrique Bernardelli (1858-1936) e Rodolfo Amoedo (1857-1941) no Ateliê Livre. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios, de 1879 a 1883, e na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), de 1893 a 1896. 

Entre 1884 e 1885, com recursos próprios, viaja para Paris, onde tem contato com novas tendências da pintura. É atraído pelas ideias realistas dos escritores franceses Émile Zola (1840-1902) e Gustave Flaubert (1821-1880). No campo das artes, interessa-se pela produção dos também franceses Édouard Manet (1832-1883) e Edgar Degas (1834-1917). O contato com esses artistas e intelectuais que renovam a arte do período resulta em um redirecionamento estético de seu trabalho.

Em 1887, expõe Arrufos, sua tela mais conhecida, que se destaca pela rigorosa execução acadêmica e pelo tom de leve ironia com o qual a cena é retratada. Em 1888, o crítico Gonzaga Duque (1863-1911), que segundo alguns historiadores estaria retratado no quadro, destaca a importância da obra, pela visão moderna do artista: “Ainda no Rio de Janeiro não se fez um quadro tão importante como é este”1. O pintor inova ao abordar um tema relacionado à vida cotidiana, com enfoque realista, e tem também a sua técnica elogiada: "As tintas são claras e simpáticas, os toques são rápidos, largos e bem lançados. Nenhuma pretensão a empastamento, nenhuma pretensão a mancha descurada, se notam neste trabalho. O toque é sempre apropriado"2

O historiador Reis Júnior (1903-1985) destaca a relação difícil entre o artista, de espírito inconformado, e o meio em que vive: a ausência de respaldo às novas tendências na arte o leva a não abandonar definitivamente os trabalhos mais conservadores, capazes de lhe garantir a sobrevivência.

Concorre ao prêmio de viagem ao exterior da Aiba, em 1888. Não obtém o prêmio, porém vai para a Europa neste ano, com auxílio de colegas da Academia, principalmente de Rodolfo Bernardelli (1852-1931). Visita a Itália, onde pinta algumas paisagens, mas fica a maior parte do tempo em Paris. As viagens entre o Rio de Janeiro e a capital francesa são constantes em sua carreira. Nesta segunda estadia europeia, vivencia um momento de transformações no campo da pintura. Entra em contato com o pintor francês Georges Seurat (1859-1891) na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e estuda pintura com Jules-Joseph Lefèbvre (1834-1912) e B. Constant et Pelez, aproximando-se de vertentes pós-impressionistas. Realiza o quadro Efeitos de sol (1892), que evoca um mundo camponês, com uma paisagem estruturada em manchas de cor, destacando-se pelo caráter inovador diante da pintura então praticada no Brasil.

Em Os descobridores (1899), evita o tratamento heroico que o tema do descobrimento do Brasil sugere, representando dois pobres homens, exaustos, ao pé de uma árvore desfolhada. A paisagem é totalmente árida e desolada, transmitindo a sensação de abandono, que é reforçada pelo tratamento cromático: uma luminosidade que se espalha uniformemente pela superfície. Belmiro recusa a monumentalidade da obra, porém lhe confere uma concepção e um tratamento plástico muito originais. Em A tagarela (1893), representa uma personagem popular, que interrompe uma atividade doméstica. Destaca-se nesse quadro o domínio no uso da linha, que estrutura a composição, aliado ao cuidadoso trabalho com a cor, como ocorre também em Dame à la rose (1905). Em obras como Retrato de Abigail Seabra aos 12 anos de idade (1900) ou Paisagem em Dampierre (1918), o artista se inspira na técnica pontilhista, as pinceladas curtas valorizam os tons, mas obedecem a orientação dos planos. Já Mulher em círculos (1921), dialoga com a estética do futurismo.

Paralelamente à carreira de pintor, tem uma importante atividade como caricaturista, à qual deve boa parte de seu prestígio. Entre 1886 e 1901, trabalha em importantes jornais e revistas da época: O malho, Diabo a quatro e A cigarra, entre outros, fundando Rataplan (1886) e João minhoca (1901). Manifesta na caricatura o interesse por assuntos sociais, representando os contratempos do cotidiano, no trabalho e no lazer, em charges cáusticas. É um dos criadores do Salão dos Humoristas, em 1914, e membro do Conselho Superior de Belas Artes, de 1915 a 1925. 

Belmiro de Almeida revela, ao longo de sua carreira, grande ecletismo: experimenta constantemente novas técnicas, às quais alia a interpretação pessoal e a maestria na execução das obras. Artista de espírito polêmico e inconformado, sua obra tem caráter inovador no panorama das artes brasileiras.

Notas

1. DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 212.

2. Ibidem, p. 213.

Obras 43

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Reprodução Fotográfica Raul Lima

A Portuguesa

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

A Tagarela

Óleo sobre tela
Reprodução Fotográfica Raul Lima

Adolescente

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Arrufos

Óleo sobre tela

Exposições 94

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Fontes de pesquisa 34

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
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  • ARTE brasileira dos séculos XIX e XX nas coleções cearenses: pinturas e desenhos. Curadoria Max Perlingeiro. Fortaleza: Fundação Edson Queiroz. Espaço Cultural da UNIFOR, 1989. 132 p.
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  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
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  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
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  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte moderna. Curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso, Maria Alice Milliet; tradução Izabel Murat Burbridge, John Norman. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais/ Fundação Bienal de São Paulo, 2000.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte moderna. Curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso, Maria Alice Milliet; tradução Izabel Murat Burbridge, John Norman. São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais/ Fundação Bienal de São Paulo, 2000. 709.04 M9161a
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  • RIBEIRO, Marília Andrés (org.); SILVA, Fernando Pedro da (org.). Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: C/Arte, 1997. (Centenário). 709.8151 S446
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  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
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