Belmiro de Almeida
![Retrato de Marie Lefebvre Ferrez (esposa do Fotógrafo Marc Ferrez), 1915 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000342014013.jpg)
Retrato de Marie Lefebvre Ferrez (esposa do Fotógrafo Marc Ferrez), 1915
Belmiro de Almeida
Óleo sobre tela, c.i.d.
105,00 cm x 74,00 cm
Texto
Belmiro Barbosa de Almeida (Serro, Minas Gerais, 1858 – Paris, França, 1935). Pintor, desenhista, caricaturista, escultor, professor, escritor. Atuando na passagem do século XIX para o século XX, empreende uma pintura nova ao deixar de lado temas históricos para se ocupar de assuntos mais prosaicos da sociedade contemporânea.
Frequenta o Liceu de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), entre 1869 e 1880, no Rio de Janeiro, onde estuda com Agostinho da Motta (1824-1878), Zeferino da Costa (1840-1915) e José Maria de Medeiros (1849-1925). Em 1878, estuda com Henrique Bernardelli (1858-1936) e Rodolfo Amoedo (1857-1941) no Ateliê Livre. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios, de 1879 a 1883, e na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), de 1893 a 1896.
Entre 1884 e 1885, com recursos próprios, viaja para Paris, onde tem contato com novas tendências da pintura. É atraído pelas ideias realistas dos escritores franceses Émile Zola (1840-1902) e Gustave Flaubert (1821-1880). No campo das artes, interessa-se pela produção dos também franceses Édouard Manet (1832-1883) e Edgar Degas (1834-1917). O contato com esses artistas e intelectuais que renovam a arte do período resulta em um redirecionamento estético de seu trabalho.
Em 1887, expõe Arrufos, sua tela mais conhecida, que se destaca pela rigorosa execução acadêmica e pelo tom de leve ironia com o qual a cena é retratada. Em 1888, o crítico Gonzaga Duque (1863-1911), que segundo alguns historiadores estaria retratado no quadro, destaca a importância da obra, pela visão moderna do artista: “Ainda no Rio de Janeiro não se fez um quadro tão importante como é este”1. O pintor inova ao abordar um tema relacionado à vida cotidiana, com enfoque realista, e tem também a sua técnica elogiada: "As tintas são claras e simpáticas, os toques são rápidos, largos e bem lançados. Nenhuma pretensão a empastamento, nenhuma pretensão a mancha descurada, se notam neste trabalho. O toque é sempre apropriado"2.
O historiador Reis Júnior (1903-1985) destaca a relação difícil entre o artista, de espírito inconformado, e o meio em que vive: a ausência de respaldo às novas tendências na arte o leva a não abandonar definitivamente os trabalhos mais conservadores, capazes de lhe garantir a sobrevivência.
Concorre ao prêmio de viagem ao exterior da Aiba, em 1888. Não obtém o prêmio, porém vai para a Europa neste ano, com auxílio de colegas da Academia, principalmente de Rodolfo Bernardelli (1852-1931). Visita a Itália, onde pinta algumas paisagens, mas fica a maior parte do tempo em Paris. As viagens entre o Rio de Janeiro e a capital francesa são constantes em sua carreira. Nesta segunda estadia europeia, vivencia um momento de transformações no campo da pintura. Entra em contato com o pintor francês Georges Seurat (1859-1891) na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e estuda pintura com Jules-Joseph Lefèbvre (1834-1912) e B. Constant et Pelez, aproximando-se de vertentes pós-impressionistas. Realiza o quadro Efeitos de sol (1892), que evoca um mundo camponês, com uma paisagem estruturada em manchas de cor, destacando-se pelo caráter inovador diante da pintura então praticada no Brasil.
Em Os descobridores (1899), evita o tratamento heroico que o tema do descobrimento do Brasil sugere, representando dois pobres homens, exaustos, ao pé de uma árvore desfolhada. A paisagem é totalmente árida e desolada, transmitindo a sensação de abandono, que é reforçada pelo tratamento cromático: uma luminosidade que se espalha uniformemente pela superfície. Belmiro recusa a monumentalidade da obra, porém lhe confere uma concepção e um tratamento plástico muito originais. Em A tagarela (1893), representa uma personagem popular, que interrompe uma atividade doméstica. Destaca-se nesse quadro o domínio no uso da linha, que estrutura a composição, aliado ao cuidadoso trabalho com a cor, como ocorre também em Dame à la rose (1905). Em obras como Retrato de Abigail Seabra aos 12 anos de idade (1900) ou Paisagem em Dampierre (1918), o artista se inspira na técnica pontilhista, as pinceladas curtas valorizam os tons, mas obedecem a orientação dos planos. Já Mulher em círculos (1921), dialoga com a estética do futurismo.
Paralelamente à carreira de pintor, tem uma importante atividade como caricaturista, à qual deve boa parte de seu prestígio. Entre 1886 e 1901, trabalha em importantes jornais e revistas da época: O malho, Diabo a quatro e A cigarra, entre outros, fundando Rataplan (1886) e João minhoca (1901). Manifesta na caricatura o interesse por assuntos sociais, representando os contratempos do cotidiano, no trabalho e no lazer, em charges cáusticas. É um dos criadores do Salão dos Humoristas, em 1914, e membro do Conselho Superior de Belas Artes, de 1915 a 1925.
Belmiro de Almeida revela, ao longo de sua carreira, grande ecletismo: experimenta constantemente novas técnicas, às quais alia a interpretação pessoal e a maestria na execução das obras. Artista de espírito polêmico e inconformado, sua obra tem caráter inovador no panorama das artes brasileiras.
Notas
1. DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 212.
2. Ibidem, p. 213.
Obras 43
A Portuguesa
A Tagarela
Adolescente
Arrufos
Auto-Retrato aos 25 Anos de Idade
Exposições 94
Fontes de pesquisa 34
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BELMIRO de Almeida.
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