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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Zeferino da Costa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.02.2021
25.08.1840 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
24.08.1915 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

A Partida (painel da nave principal), 1895
Zeferino da Costa
Pintura mural, c.i.d.
54,50 cm x 38,00 cm

João Zeferino da Costa (Rio de Janeiro RJ 1840 - idem 1915). Pintor, desenhista, decorador, professor. Em 1857, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. É orientado em pintura histórica por Victor Meirelles (1832 - 1903). Em 1868 recebe, pela composição Moisés Recebendo as Tábuas da Lei, ca.1870, o prêmio de viagem ao exterior. Parte...

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Biografia

João Zeferino da Costa (Rio de Janeiro RJ 1840 - idem 1915). Pintor, desenhista, decorador, professor. Em 1857, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. É orientado em pintura histórica por Victor Meirelles (1832 - 1903). Em 1868 recebe, pela composição Moisés Recebendo as Tábuas da Lei, ca.1870, o prêmio de viagem ao exterior. Parte para Roma, onde estuda com mestres renomados na Accademia di San Luca. Torna-se aluno de Cesare Mariani (1826 - 1901), autor de pintura histórica e decorador de igrejas. Retorna ao Brasil em 1877. É nomeado professor da Aiba, atividade que exerce até o fim da vida, tendo lecionado pintura histórica e paisagem até fixar-se definitivamente na cadeira de desenho. Em 1879 envia para a Exposição Geral de Belas Artes, 17 obras, entre as quais a tela A Pompeiana, 1879, que é duramente criticada por Gonzaga Duque (1863 - 1911). Talvez por esse motivo, após esta data nunca mais participa de exposições públicas. Em 1878, é escolhido pelo imperador dom Pedro II (1825 - 1891) para elaborar as pinturas da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, consideradas sua principal obra. Na cúpula pinta o tema da Virgem rodeada pelas virtudes da Fé, Esperança, Caridade, Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança e, na capela-mor, diferentes cenas da vida da Virgem. Viaja novamente a Roma para realizar estudos para os painéis que compõem a nave central da Candelária. Para esse trabalho, tem a colaboração de diversos alunos, entre eles Castagneto (1851 - 1900), Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939), Pinto Bandeira (1863 - 1896), Augusto Rodrigues Duarte (1848 - 1888). Em 1890, torna-se vice-diretor e professor de desenho de modelo-vivo da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Em 1917, dois anos após a sua morte, é publicado Mecanismos e Proporções da Figura Humana, livro de sua autoria ilustrado com diversos de seus desenhos.

Comentário Crítico

Discípulo de Victor Meirelles, Zeferino da Costa possui uma obra marcadamente dedicada a temas religiosos. O aprendizado com Cesare Mariani (1826 - 1901), aluno de Tommaso Minardi (1787 - 1871), fomenta em da Costa o amor ao tema sacro e às grandes decorações religiosas. A predileção por temas bíblicos já se evidencia nas telas do início de sua carreira, como Daniel na Cova dos Leões e Moisés Recebendo as Tábuas da Lei, ca.1870, e as produzidas durante sua estada em Roma, como São João Batista no Deserto. O nu feminino representado em A Pompeiana, 1879, - criticado por Gonzaga Duque como uma cocotte besuntada com óleos aromáticos, um trabalho inglório, ruim1 - traz uma certa afetação. Mais interesse despertam outras obras de sua mocidade, como o O Óbulo da Viúva, 1876, e A Caridade, 1872, pelos efeitos de claro-escuro, pelo modelado das figuras e pela correção anatômica. Também de temática religiosa, são obras que permitem perceber as razões de seu prestígio na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, bem como os motivos que o levam a ser considerado um conservador e um herdeiro da tradição. A inequívoca propaganda da virtude da caridade, representada pela senhora que visita a casa de uma família pobre trazendo provisões, encerra uma clara mensagem moral. O mesmo tema está presente em O Óbulo da Viúva, cena que retrata o gesto nobre da personagem que oferece aos pobres o pão que lhes falta. Em ambos os trabalhos, nota-se a organização teatral da cena.

Zeferino da Costa exerce grande influência como professor. Orienta vários artistas, entre eles Augusto Rodrigues Duarte, Baptista da Costa (1865 - 1926), Castagneto, Belmiro de Almeida (1858 - 1935), Henrique Bernardelli (1858 - 1936), Rodolfo Amoedo (1857 - 1941), Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939), Firmino Monteiro (1855 - 1888), Rodolfo Chambelland (1879 - 1967) e Lucílio de Albuquerque (1877 - 1939). Adota orientação mais progressista e apóia movimentos estudantis pela modernização do ensino artístico, às vésperas da República. No ano de 1875, envia uma carta aos professores da Aiba, na qual propõe que, nas aulas de desenho, as gravuras utilizadas como modelos sejam substituídas por fotografias, tal como era então feito na Europa. Segundo o pesquisador Alfredo Galvão, "esforçou-se, antes de Jorge Grimm e Antônio Parreiras, para que os alunos de paisagem fizessem os estudos ao ar livre".2

Considerado um mestre na composição e desenhista talentoso, nas grandes decorações da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro, nota-se seu domínio da técnica, ao resolver grandes espaços com auxílio de um desenho sólido e de discreta palheta. Alguns estudiosos, contudo, apontam diferenças entre os painéis da Virgem, mais suaves e etéreos, e as cenas da nave central, que retratam os episódios da fundação do templo, em que Zeferino adota um desenho mais objetivo e documentário.3 Sua obra considerada mais significativa é a série de seis painéis que decoram a nave central da Igreja. Os painéis narram diversos momentos da história que leva à fundação do templo: a partida de Antonio Martins de Palma; o grande temporal e a promessa, quando a virgem da Candelária é invocada; a chegada ao Rio de Janeiro; a inauguração da Primeira Capela; o lançamento da pedra fundamental da grande igreja, em 1775, e a inauguração da Igreja, com a sagração solene em 1810. A minúcia da reconstituição do período chama a atenção nessa série de painéis.

Para o crítico de arte José Roberto Teixeira Leite, a pintura de Zeferino da Costa é tecnicamente correta, seguindo a tradição européia, mas fria e sem vibração. De acordo com o crítico de arte Laudelino Freire "não se lhe pode negar a qualidade de operoso; mas também não se pode deixar de reconhecer que foi sóbrio em sua produção, toda ela representada parte naquela Igreja e parte recolhida à Escola de Belas Artes".4

 

Notas

1 Comentando as obras enviadas por Zeferino da Costa à Exposição de Belas Artes em 1879, Gonzaga Duque tece severas críticas à A Pompeiana, afirmando que "É incompreensível este inglório trabalho, este de retratar cocottes esbodegadas, em um moço de grande talento e de grandes aptidões de artista. Qual a causa de aparecer pompeana esta ruim, esta ignóbil figura, lavada em óleo, emplastada de gorduras aromáticas, besuntada de veloutine para disfarçar a alambuzada estrutura de suas formas? Pompeana por quê?" Apud LEITE, José Roberto Teixeira.  500 anos da pintura brasileira. CD-ROM. Rio de Janeiro: Log On Informática, 1999.

2 GALVÃO, Alfredo. João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: Departamento Gráfico do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1973.

3 TAVARES, André. Acerca de Zeferino da Costa e da pintura para a Igreja de Nossa Senhora da Candelária. Rotunda, Campinas, número 1, abril de 2003.

4 149

Obras 15

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução Fotográfica Autoria Desconhecida

A Pompeana

Óleo sobre tela

Exposições 28

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Fontes de pesquisa 19

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da pintura no Brasil. 2.ed. [Rio de Janeiro]: [s.n.], 1942. v. 1.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • GALVÃO, Alfredo. João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: Departamento Gráfico do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1973.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LEVY, Carlos Roberto Maciel. Iconografia e paisagem: Cultura Inglesa collection. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1994.
  • MACHADO, Arnaldo. Aspectos de marinha na obra de João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: ABM, 1984. 69 p., il. p&b, color.
  • MAURICIO, Virgilio. Algumas figuras. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1918. 185 p.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
  • SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
  • TAVARES, André. Acerca de Zeferino da Costa e da pintura para a Igreja de Nossa Senhora da Candelária. Rotunda, Campinas, número 1, abril de 2003.
  • TAVARES, André. Os painéis da nave da Igreja de Nossa Senhora da Candelária: um artigo de 1905. Rotunda, Campinas, número 1, abril de 2003.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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