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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

José Maria de Medeiros

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
03.09.1849 Portugal / Açores / Faial
1925 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

A Morte de Sócrates, 1878
José Maria de Medeiros
Óleo sobre tela
96,00 cm x 128,50 cm

José Maria de Medeiros (Açores, Portugal, 1849 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1925). Pintor, desenhista, professor. Cultiva o gênero histórico, os retratos e as pinturas de gênero. É considerado um pintor representativo dos resultados do ensino acadêmico brasileiro e dos contornos românticos que o neoclassicismo adquire no Brasil.

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José Maria de Medeiros (Açores, Portugal, 1849 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1925). Pintor, desenhista, professor. Cultiva o gênero histórico, os retratos e as pinturas de gênero. É considerado um pintor representativo dos resultados do ensino acadêmico brasileiro e dos contornos românticos que o neoclassicismo adquire no Brasil.

Açoriano, chega ao Brasil por volta de 1865 e ingressa no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1868, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde é aluno de Victor Meirelles (1832-1903) e Antônio de Souza Lobo (1840-1909), entre outros. Tem como colegas de estudo Almeida Júnior (1850-1899), Firmino Monteiro (1855-1888), Estevão Silva (1845-1891), Henrique Bernardelli (1858-1936), Pedro Peres (1850-1923) e Augusto Rodrigues Duarte (1848-1888). Depois de se transferir para o Rio de Janeiro, nunca mais sai do país: não empreende a famosa viagem à Europa, ao contrário da maior parte dos pintores da época.

Recebe a medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes, de 1871. Com o quadro Retrato de senhora, recebe a grande medalha de ouro na 24ª edição da exposição geral, em 1876. Em 1878, torna-se professor de desenho figurado na Aiba, por concurso. A partir de 1882, quando se naturaliza brasileiro, passa a professor catedrático. Ainda em 1882, pinta o quadro Lindoia, que retrata o episódio do poema épico O Uraguay (1769), de Basílio da Gama (1741-1795).

Em 1884, na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, expõe os quadros A morte de Sócrates (1878) e Iracema (1881), sendo agraciado com o título de Oficial da Ordem da Rosa. Esses dois quadros, pertencentes ao Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), são emblemáticos da trajetória do pintor, que vai do neoclassicismo ao romantismo. Em A morte de Sócrates figura um tema neoclássico por excelência, de louvor às virtudes antigas. Na composição, o pintor segue os preceitos acadêmicos na representação das paixões: uma figura à esquerda está de costas e esconde o rosto para não ver a morte do filósofo, à direita, uma outra dobra o corpo e esconde o rosto entre as mãos, outro cruza os braços, demonstrando um misto de preocupação e tristeza. Ao centro, iluminado, o sábio conversa, com gestos comedidos, mostrando serenidade.

A tela Iracema, ao contrário, é explicitamente de vertente romântica, a começar pelo tema. A heroína do romance homônimo de José de Alencar (1829-1877), de 1865, encontra-se em pé, do lado esquerdo da composição, ao lado da flecha fincada na areia, transpassando um guaiamum e um ramo de maracujá, que divide a tela em duas. À esquerda, uma praia próxima às bordas de uma floresta. À direita, uma praia longínqua, o mar e a linha do horizonte. O desenho e a composição são mais bem acabados aqui. As cores são mais claras e exuberantes, para corresponder à natureza e às paixões românticas que o tema exige. O quadro resultou numa distinção ao pintor, mas foi criticado por alguns comentadores contemporâneos, como Gonzaga Duque (1863-1911).

As críticas, segundo a historiadora Ana Maria Tavares Cavalcanti, referiam-se especialmente à figura de Iracema, principalmente no que tange à “ausência de expressão fisionômica” e à incapacidade de “nos inspirar uma paixão”1. Os críticos reconhecem, no entanto, o esforço do artista e a melhoria na execução de seu traço, principalmente no tratamento minucioso que dá à paisagem no quadro.

Para Cavalcanti, a tela é um marco tanto do talento do pintor para a pintura de paisagem — embora ele se concentre na pintura histórica – quanto da mudança que se observa no meio artístico carioca na década de 1880. Nesse momento, a pintura histórica perde seu lugar de prestígio para a pintura de paisagem, que agrada mais o público e a crítica. Isso se explica pelo fato de que, no Brasil, a paisagem natural, por sua singularidade e exuberância, é em si um símbolo de brasilidade, contribuindo na formação de uma identidade nacional.

Aqueles que admiram o pintor, como Laudelino Freire (1873-1937) e Quirino Campofiorito (1902-1993), não o consideram um grande pintor, mas um artista “modesto, tímido, honesto e de merecimento”2. O artista tem como discípulos Eliseu Visconti (1866-1944), Baptista da Costa (1865-1926), Belmiro de Almeida (1858-1935) e Oscar Pereira da Silva (1867-1939), entre outros.

Em 1891, o artista deixa a Aiba e passa a exercer o magistério no ensino público de segundo grau e, em 1897, no Instituto Profissional João Alfredo. Faz duas exposições individuais, uma em 1897 e outra em 1899, na Galeria Rezende, Rio de Janeiro. Em 1948, sua obra é incluída na Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA, Rio de Janeiro.

O apreço de José Maria de Medeiros ao ensino da pintura e a constante busca pelo desenvolvimento de seus traços fazem desse pintor uma figura fundamental ao estudo da pintura acadêmica no Brasil.

Notas

1. CAVALCANTI, Ana Maria Tavares. “Iracema” de José Maria de Medeiros: entre pintura histórica e pintura de paisagem. Revista Z Cultural, Rio de Janeiro, ano 7, n. 1, 1º sem. 2024. Disponível em: http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/iracema-de-jose-maria-de-medeiros-entre-pintura-historica-e-pintura-de-paisagem-de-ana-maria-tavares-cavalcanti/. Acesso em: 30 out. 2023.

2. CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX: a proteção do Imperador e os pintores no Segundo Reinado 1850-1890. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. vol. 4, p. 25.

Obras 2

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Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Iracema

Óleo sobre tela

Exposições 12

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Fontes de pesquisa 10

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Rio de Janeiro: Spala, 1992. 2v.
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • GONZAGA-DUQUE, A arte brasileira. Introdução e notas Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. 270 p.LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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