Quirino Campofiorito
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Nu Feminino com Tina de Banho, 1932
Quirino Campofiorito
Óleo sobre tela, c.i.d.
59,50 cm x 59,50 cm
Texto
Biografia
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Obras 13
A Camponesa
A Geléia Francesa
Auto-Retrato
Café-Colheita (Tríptico)
Café-Exportação (Tríptico)
Exposições 94
Fontes de pesquisa 22
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- CAMPOFIORITO, Quirino. Quirino Campofiorito: exposição retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes; Niterói: Museu Antonio Parreiras, 1992. Exposição realizada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro no período de 22 out. a 22 de nov. e no Museu Antonio Parreiras, em Niterói, no período de 1 a 20 dez. de 1992.
- CAMPOFIORITO, Quirino. Quirino Campofiorito: retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1992. CAT-G C198 1992
- CAMPOS, Beatriz Pinheiro de. Quirino Campofiorito e Mário Pedrosa: entre a figuração e a abstração. A crítica de arte e o surgimento da arte abstrata no (1940 a 1960). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2014.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). R703.0981 C376d v.1 pt. 1
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- MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.
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Como citar
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QUIRINO Campofiorito.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa146/quirino-campofiorito. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7