Milton Dacosta
![Auto-Retrato, 1937 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/005620001013.jpg)
Auto-Retrato, 1943
Milton Dacosta
Óleo sobre tela, c.i.d.
37,00 cm x 27,00 cm
Texto
Milton Rodrigues da Costa (Niterói, Rio de Janeiro, 1915 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988). Pintor, desenhista, gravador, ilustrador. Milton Dacosta, como é conhecido, constrói uma trajetória peculiar dentro da história da pintura brasileira. Conectado com a produção artística e os debates sobre arte de sua época, incorpora influências externas, mas as ressignifica a partir de um mergulho em si mesmo, revelando-se um artista em constante reflexão sobre seu trabalho. Nesse processo, se deixa permear por outros artistas, sem, contudo, abandonar sua subjetividade.
Em 1929, aos 14 anos, inicia estudos de desenho e pintura no ateliê do professor alemão August Hantv em Niterói. Frequenta por apenas três meses o curso livre de Marques Júnior (1887-1960) na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), Rio de Janeiro, fechada pela Revolução de 1930. Nessa época, conhece o pintor Antônio Parreiras (1860-1937), com quem mantém contato regular, visitando seu ateliê e mostrando os primeiros trabalhos que realiza. Interessa-se pela pintura pós-impressionista. Aos 16 anos, ajuda a fundar o Núcleo Bernardelli, conjunto independente de artistas instalados no porão da Enba, coordenados por Edson Motta (1910-1981).
No início, a produção de Dacosta se caracteriza por reproduzir os princípios da pintura moderna, tendo como modelo a Escola de Paris. Com uma disciplina sistemática, ele se preocupa em adquirir esses princípios, sem se importar muito com o tema a ser pintado — paisagens, nus, marinhas, vistas urbanas e retratos. Observa-se que sua produção não se preocupa com o detalhe pitoresco ou a fixação de uma "brasilidade". Ao contrário, de maneira autônoma, afirma-se em pinceladas modulares e estruturais, numa incorporação natural do que faz Paul Cézanne (1839-1906). Como observa o crítico Mário Pedrosa (1900-1981), em telas como Paisagem em Santa Teresa (1937), já se percebe que "a pintura de Dacosta é regida por um princípio de economia. Ele não se detém em demoradas elaborações, mas na captação sintética da estrutura plástica"1.
Na década de 1940, sua obra começa a mudar e passa a incorporar outras influências externas. Composição (1942), por exemplo, revela a aproximação do artista com a pintura metafísica do pintor italiano Giorgio de Chirico (1888-1978): a superfície da tela apresenta planos definidos de cor e espaço enigmático, ambos elementos fundamentais para o desenvolvimento do construtivismo da produção posterior do artista. O prêmio de viagem ao exterior, recebido na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes em 1944, potencializa esse processo. Dacosta parte para Nova York no ano seguinte e, posteriormente, para a Europa. Fixando-se em Paris e cursa a Académie de La Grande Chaumière, onde se dedica a estudar de perto os pintores conhecidos apenas por ilustrações, como impressionistas franceses Paul Cézanne e Henri Matisse (1869-1954), italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) e holandês Piet Mondrian (1872-1944). Nesse período frequenta o ateliê do pintor francês Georges Braque (1882-1963) e conhece o espanhol Pablo Picasso (1881-1973).
De volta ao Brasil, entre 1949 e 1951, Dacosta realiza as séries Figuras e Naturezas-Mortas, em que se percebe maior geometrização das figuras e do espaço, além da utilização da linha como um importante elemento estruturador. Nesses trabalhos, o artista conversa com o cubismo analítico; entretanto, diferentemente de Picasso, mantém a unidade da figura, o mistério de sua interioridade. Sua temporalidade está mais próxima da fixação do que da simultaneidade. Também a cor é densa e opaca, resistindo à total exterioridade da transparência. Esses trabalhos contêm uma das principais características de sua pintura: o conflito entre a clareza da estrutura, universal e despersonalizada, e a subjetividade do artista revelada na cor.
Nos anos de 1950, o pintor atinge sua maturidade artística, com telas abstratas de tendência construtivista. Em 1954, inicia as séries de naturezas-mortas organizadas como uma grade geométrica, que não perpassa a totalidade do quadro, ficando a composição centralizada, como em Natureza-morta sobre trilhos (1954). Inicia também a série Castelos e cidades, na qual a figura é reduzida a retângulos e quadrados coloridos, acumulados no centro da tela em coloração viva, mas sóbria, em geral sobre fundo preto. A série anuncia o singular cruzamento entre elementos artísticos de Piet Mondrian e do pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964), processo que produz uma poética própria, que se desenvolve, poucos anos depois, em puras abstrações construtivas, nas quais a tela é limitada ao jogo de linhas (verticais e horizontais) e poucos elementos geométricos no centro. Os quadros Em Vermelho (diversas versões, 1957-1958) e Em Branco (1959) representam essa nova ruptura na pintura de Dacosta, caracterizada, por ele próprio, como o fechamento de um caminho, como se tivesse chegado a uma parede e precisasse retornar.
Diante desse “muro branco”, na década de 1960, o artista retoma a pintura figurativa característica do início da carreira. A série de figuras femininas conhecidas como Vênus, com formas arredondadas e sensualizadas, apesar de rejeitada pela crítica, dá grande notoriedade ao artista entre o público.
Dacosta se destaca na história das artes plásticas do Brasil pela singularidade não apenas de sua pintura, mas também de sua trajetória, que é única e fiel às necessidades e aos desejos do artista. Deixa-se influenciar pelo externo sem perder de vista seu próprio caminho como pintor, construindo uma produção rica e peculiar da arte nacional.
Obras 46
A Piscina
Alexandre
Auto-Retrato
Auto-Retrato
Carrossel
Exposições 307
Fontes de pesquisa 46
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MILTON Dacosta.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1612/milton-dacosta. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7