Mario Pedrosa

Mario Pedrosa, s.d.
Texto
Mario Xavier de Andrade Pedrosa (Timbaúba, Pernambuco, 1900 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981). Crítico de arte, jornalista, professor. Combativo e militante, procura não apenas compreender a arte de seu tempo, mas também intervir em seu processo de produção.
A densidade teórica de sua produção crítica lhe confere a qualificação de "pensador de arte"1, sempre envolvido com as questões relevantes e as expressões artísticas de seu tempo. Defensor da arte abstrata, exerce um papel crucial para o movimento neoconcreto, no fim da década de 1950, e para o novo realismo, na década de 1960. Dedica-se a pensar e a propor uma arte adequada ao Brasil, a entender a dinâmica específica da arte brasileira. Aos 13 anos, é enviado para estudar em Lausanne, Suíça. De volta ao Brasil, forma-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, trabalha na imprensa como redator de política internacional, escreve artigos de crítica literária e se filia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Viaja para a Alemanha em 1927, onde estuda filosofia, sociologia, economia e estética na Universidade de Berlim.
De volta ao Brasil, juntamente com o jornalista Fúlvio Abramo (1909-1993) e outros, funda um grupo de posição trotskista e se envolve no movimento político comunista internacional. Por sua militância política, é preso em 1932, durante o governo Getúlio Vargas (1930-1937). Em 1933, realiza a conferência As tendências sociais da arte de Käthe Kollwitz (1867-1945), sobre o trabalho da gravurista alemã que representa em suas obras a classe operária, a fome, a guerra e a pobreza.
Em 1937, com o golpe de Estado e a instauração do Estado Novo (1937-1945), o crítico se exila em Paris. Transfere-se posteriormente para Nova York, onde trabalha no Museum of Modern Art (MoMA) e colabora ativamente com revistas de cultura, política e arte. Volta clandestinamente ao Brasil em 1940. É preso e deportado para os Estados Unidos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, retorna ao Brasil, participa da luta pela derrubada da ditadura Vargas, torna-se colaborador do jornal Correio da Manhã e funda e dirige o semanário Vanguarda Socialista, no Rio de Janeiro. Incorpora-se à Esquerda Democrática, que dá origem ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Nos anos 1950, colabora como crítico de arte no jornal carioca A Tribuna da Imprensa e se torna professor de história do Brasil no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Na mesma época, assina artigos sobre artes visuais no Jornal do Brasil e na Folha de S.Paulo. No final dos anos 1950, passa uma temporada no Japão, quando escreve um estudo sobre as relações da arte japonesa com a arte contemporânea ocidental, e organiza o Congresso Internacional de Críticos de Arte, que debate a criação de Brasília e reúne muitas personalidades de destaque internacional.
No início dos anos 1960, dirige a Bienal Internacional de São Paulo e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Escrevendo, em 1966, a respeito das experimentações da arte brasileira, identifica uma mudança de parâmetros da produção nacional que extrapola os limites da arte moderna, o que o leva a cunhar o conceito de arte pós-moderna. Nessa produção, afirma que as ideias têm primazia sobre as propriedades estéticas do objeto. Com o início da ditadura militar (1964-1985)2, vive como exilado político no Chile, onde atua como professor de história da arte e diretor de museu. Retorna ao Brasil em outubro de 1977. Em 1980, assina o manifesto de criação do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo.
Seus textos revelam a familiaridade com os movimentos artísticos internacionais de vanguarda, nutrida pela convivência com figuras como o crítico de arte argentino Jorge Romero Brest (1905-1989), o escritor francês André Breton (1896-1966) e artistas como o pintor espanhol Joan Miró (1893-1980), sobre o qual escreve importantes ensaios.
Enquanto a maioria dos críticos da época se concentra no conteúdo e ignora os aspectos da forma, Pedrosa valoriza a arte abstrata e os problemas de percepção da forma ao criticar grandes nomes do modernismo brasileiro, como Lasar Segall (1889-1957), Candido Portinari (1903-1962) e Tarsila do Amaral (1886-1973). Ele defende a arte abstrata em suas vertentes mais construtivas e apóia jovens artistas formuladores do neoconcretismo, no qual enxerga uma nova linguagem para as artes plásticas brasileiras.
Seu primeiro livro, Arte, necessidade vital (1949), é uma coletânea de textos publicados em jornais e revistas. O artigo que dá nome ao livro é uma conferência em que rejeita a noção de arte como imitação da natureza e afirma que a atividade artística se estende a todos os seres humanos, não sendo ocupação exclusiva de poucos.
Pedrosa valoriza a produção dos doentes mentais reunida no Museu de Imagens do Inconsciente, fascinado pelos trabalhos de internos como Emygdio de Barros (1895-1986), Raphael (1912-1979) e Carlos Pertuis (1910-1977), a quem conhece por intermédio de Almir Mavignier (1925-2018). Outro tema de seu interesse é o ensino da arte e seu papel no desenvolvimento de habilidades técnicas, no amadurecimento emocional e na criatividade.
Com sua crítica combativa e experimental, Mário Pedrosa mobiliza uma geração de artistas e redireciona a reflexão sobre arte no Brasil, defendendo suas convicções artísticas, mesmo que para isso precise nadar contra a maré, e suas convicções políticas, mesmo contrariando ditadores e sofrendo represálias. Com a pena sempre a postos para registrar suas ideias no papel, torna-se um dos mais importantes críticos de arte do Brasil, tamanha sua produção e projeção internacional.
Notas
1. AMARAL, Aracy. Mario Pedrosa: um homem sem preço. In: MARQUES NETO, José Castilho (Org). Mario Pedrosa e o Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001. p. 53.
Obras 2
Exposições 16
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20/2/1953 - 1/3/1953
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13/12/1954 - 26/2/1953
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2/7/1955 - 12/10/1955
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Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 9
- ARANTES, Otília Beatriz Fiori. Mário Pedrosa: itinerário crítico. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. 192 p., il. p&b color.
- BRITO, Ronaldo. As lições avançadas do mestre Pedrosa. In: ______. Experiência crítica: textos selecionados. Organização Sueli de Lima. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. Texto publicado originalmente em Opinião, agosto de 1975.
- MARQUES NETO, José Castilho (org.). Mario Pedrosa e o Brasil. Texto Antonio Candido, Aracy Amaral, Sônia Salzstein, Paul Singer, Otília Beatriz Fiori Arantes, Dainis Karepovs, Iná Camargo Costa, Isabel Loureiro, João Machado, Lélia Abramo, Luciano Martins, Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. 223 p., il. p&b. (Pensamento Radical).
- PEDROSA, Mário. Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo : Edusp, 1998.
- PEDROSA, Mário. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. Organização Aracy Amaral. São Paulo, SP: Perspectiva, 1981. (Debates, 170).
- PEDROSA, Mário. Forma e percepção estética: textos escolhidos II. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo: Edusp, 1996.
- PEDROSA, Mário. Modernidade cá e lá: textos escolhidos IV. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo: Edusp, 2000. 357 p., il. color., p&b.
- PEDROSA, Mário. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975. (Debates, 106).
- PEDROSA, Mário. Política das artes: textos escolhidos I. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo: Edusp, 1995.
Como citar
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MARIO Pedrosa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa445/mario-pedrosa. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7