Oswaldo Goeldi
![Palmeiras, s.d. [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/002009012019.jpg)
Palmeiras
Oswaldo Goeldi
Xilogravura
23,00 cm x 15,60 cm
Texto
Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1895 – idem 1961). Gravador, desenhista, ilustrador e professor. Aplicando técnicas como a xilogravura e a litografia, Oswaldo Goeldi alcança expressividade sombria com temas mórbidos em seus desenhos.
Muda-se para Belém, Pará, com 1 ano, onde vive até os 6 anos, quando a família se transfere para Berna, na Suíça. Ingressa no curso de engenharia da Escola Politécnica de Zurique, em 1914, mas interrompe os estudos em razão da convocação para a 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Em 1917, após a morte do pai, abandona a engenharia, transfere-se para Genebra e passa seis meses na École des Arts et Métiers [Escola de Artes e Ofícios]. Abandona o curso por julgá-lo acadêmico demais e faz aulas no ateliê dos pintores suíços Serge Pahnke (1875-1950) e Henri van Muyden (1860-1936). A primeira exposição individual (1917) na Galeria Wyss, em Berna, promove o encontro com a obra do ilustrador austríaco Alfred Kubin (1877-1959), grande influência artística e com quem se corresponde por vários anos. O contato é decisivo para a formação de Goeldi, que se interessa pelo aspecto imaginativo e sombrio das cenas de Kubin. Os desenhos do período, ambientados em cenários aterradores, incorporam temas mórbidos. Nessa década, aproxima-se do pintor suíço Hermann Kümmerly (1897-1964) e faz as primeiras litografias.
Em 1919, fixa-se no Rio de Janeiro e atua como ilustrador nas revistas Para Todos, Leitura Para Todos e Ilustração Brasileira. Expõe no saguão do Liceu de Artes e Ofícios (1921), mas a mostra é mal recebida pela imprensa e lhe dá a medida da resistência do meio artístico brasileiro ao panorama europeu. Apesar da recepção negativa, o evento o aproxima de escritores, artistas e intelectuais interessados na renovação criativa, como Manuel Bandeira (1886-1968), Di Cavalcanti (1897-1976) e Rachel de Queiroz (1910-2003).
Em 1922, a família tenta enviá-lo para a Europa, e os intelectuais próximos a Goeldi evitam a partida e se esforçam para garantir a permanência dele no país. Em 1923, conhece Ricardo Bampi, que o inicia na xilogravura. Esse ofício lhe serve para "impor uma disciplina às divagações a que o desenho o levava"1. Nos anos de 1920, muda-se para Niterói, onde pode trabalhar isolado. Contribui para o periódico O Malho, e colabora com imagens para os livros Canaã (1928), de Graça Aranha (1868-1931), e Mangue (1929), de Benjamin Costallat (1897-1961). As ilustrações, no entanto, não são publicadas.
O álbum 10 Gravuras em Madeira de Oswaldo Goeldi (1930) conta com introdução de Manuel Bandeira e inclui trabalhos como Abandono (1930), no qual a composição remete a uma luta da luz para conquistar presença em meio à superfície escura. Com recursos das vendas, passa uma temporada na Europa, onde visita Kubin, expõe em Berna, Berlim e, com Kümmerly, em Muri, na Suíça. Deixa trabalhos do período em coleções na Suíça, Áustria e Alemanha.
De volta ao Brasil, em 1932, experimenta o uso da cor nas xilogravuras. O primeiro trabalho colorido é publicado em 1937 em ilustrações no livro Cobra Norato, do poeta Raul Bopp (1898-1984). Aos poucos, vai tomando outros rumos e se afasta de Kubin, num movimento de consolidação de uma linguagem própria e singular. A partir da década de 1930, as ilustrações referem-se mais à realidade do que a mundos fantásticos. Os sulcos feitos na madeira revelam o que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) chama de "a irrealidade do real"2: o assombro parte do nosso cotidiano.
Em 1941, trabalha na ilustração das Obras Completas do escritor russo Dostoiévski (1821-1881), publicadas pela Editora José Olympio. Também realiza imagens para a revista Clima e para livros de Cassiano Ricardo (1895-1974). Em 1950 expõe na 25ª Bienal de Veneza e, em 1951, ganha o prêmio de gravura da 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Os trabalhos dessa década contam com cores mais fortes, como em O Ladrão (ca.1955), que apresenta formas coloridas nos intervalos da mancha negra que predomina na cena.
No ano de 1952, dá aulas na Escolinha de Arte do Brasil, e, em 1955, leciona na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, onde abre uma oficina de xilogravura. Realiza a primeira retrospectiva (1956), no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Anos mais tarde, o Centro Cultural Banco do Brasil realiza exposição comemorativa do centenário do seu nascimento (1995), no Rio de Janeiro.
Os tons escuros e o traçado preciso de Oswaldo Goeldi dão forma ao assombro e à estranheza. O vasto legado do artista envolve trabalhos em parceria com escritores e intelectuais.
Notas:
1. NAVES, Rodrigo. Goeldi. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. (Espaço da arte brasileira). p. 21. Citação do livro ZILIO, Carlos (org.). Oswaldo Goeldi. Rio de Janeiro: Solar Grandjean de Montigny, [s.d.]. 108 p.
2. DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A Goeldi. In: ______. Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1988.
Obras 29
Abandono
Casa do Terror
Casa Vermelha
Céu Vermelho
Exposições 316
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 18
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
- BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
- BRITO, Ronaldo. Oswaldo Goeldi. Versão em inglês Steve Yolen. Rio de Janeiro: Instituto Cultural The Axis, 2002.
- GERALDO, Sheila Cabo. Goeldi: modernidade extraviada. Rio de Janeiro: Diadorim, 1995.
- GOELDI, Oswaldo. Oswaldo Goeldi. São Paulo: Galeria Thomas Cohn, 1999.
- GOELDI, Oswaldo. Oswaldo Goeldi: mestre visionário. São Paulo: Galeria de Arte do Sesi, 1996.
- GOELDI, Oswaldo. Oswaldo Goeldi: um auto-retrato. Organização Sérgio Laks e Noemi Silva Ribeiro. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.
- GRAVURA moderna brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes. Curadoria Rubem Grilo. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1999.
- GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000.
- LEITE, José Roberto Teixeira. A gravura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Rio, 1965.
- MATRIZES do expressionismo no Brasil: Abramo, Goeldi e Segall. Curadoria Tadeu Chiarelli, Lauro Cavalcanti, Marcelo Araújo; tradução Peter Naumann. São Paulo: MAM, 2000.color.
- NAVES, Rodrigo. Goeldi. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. (Espaço da arte brasileira).
- PEREIRA, Ricardo. A importância do desenho nas obras de Oswaldo Goeldi, Adir Botelho, Adir Botelho e Quirino Campofiorito. Rio de Janeiro: UFRJ. Publicação eletrônica disponível em: http://www.eba.ufrj.br/pintura/pesquisas.html. Acesso em: 10 set. 2015.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- RAMOS, Nuno. Para Goeldi. São Paulo: AS Studio, 1996.
- REIS JÚNIOR. Goeldi. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. (Panorama das artes plásticas).
- SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
- ZILIO, Carlos (org.). Oswaldo Goeldi. Rio de Janeiro: Solar Grandjean de Montigny, s/d.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
OSWALDO Goeldi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa10588/oswaldo-goeldi. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7