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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Drummond de Andrade

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.08.2024
31.10.1902 Brasil / Minas Gerais / Itabira
17.08.1987 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Coleção Brasiliana Itaú / Reprodução Fotográfica Horst Merkel

Alguma Poesia, 1930
Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 1902 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1987). Poeta, cronista, contista, ensaísta e tradutor. É um dos principais poetas da segunda geração do modernismo brasileiro. Sua obra extensa e variada pode ser dividida em fases e se destaca quanto aos gêneros literários e à diversidade em sua composição...

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Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 1902 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1987). Poeta, cronista, contista, ensaísta e tradutor. É um dos principais poetas da segunda geração do modernismo brasileiro. Sua obra extensa e variada pode ser dividida em fases e se destaca quanto aos gêneros literários e à diversidade em sua composição poética e por contemplar temas ligados à condição de ser humano e de estar no mundo. 

Muda-se para Belo Horizonte aos 8 anos. Em 1925, forma-se em farmácia, profissão que nunca exerce. Funda, com o poeta Emílio Moura (1902-1971), o periódico modernista A Revista, que publica apenas três números. Estreia na literatura em 1930, com Alguma Poesia.

Segundo o crítico literário Antonio Candido (1918-2017), o conflito central da poética drummondiana é marcado pelas “inquietudes”, que aparecem ora como “formas ligeiras de humor”, ora como “autonegação pelo sentimento de culpa”. Essas inquietudes surgem na forma de “alusões à náusea, à sujeira” do mundo ou de “mergulho em estados angustiosos de sonho, sufocação e, no caso extremo, sepultamento”1. As particularidades decorrentes das motivações históricas também marcam as várias fases de sua trajetória poética. 

A primeira fase é a irônica ou gauche, representada pelos dois primeiros livros do poeta: Alguma Poesia e Brejo das Almas (1934). Além do humor e da ironia, outros traços marcantes se destacam no livro de estreia, como o diálogo com o modernismo dos anos 1920. Os frutos da aproximação com as propostas dos modernistas podem ser reconhecidos no cultivo de gêneros como o poema cartão-postal e o poema-minuto, ou na incorporação de certos procedimentos vanguardistas, como os cubistas. Drummond explora sistematicamente as contradições resultantes do choque entre a modernização e as marcas renitentes do atraso, mas com certo distanciamento, como um observador, sem tomar partido.

A fase da lírica social, de poesia participante, surge no livro Sentimento do Mundo (1940), concebido quando da transferência do poeta para o Rio de Janeiro, depois de assumir o cargo de chefe de gabinete do Ministério da Educação em 1934. O impacto da grande cidade é traduzido nos versos pelo sentimento reinante de alienação. A obra marca a incorporação da matéria social na poesia drummondiana.

A intensificação da poética social é sentida na coletânea José (1942), a começar pelo poema que dá nome ao livro (marca da identificação com o homem comum). A reiteração do tema da alienação na grande cidade desdobra-se no sentimento de opressão e no tema da solidão na multidão, como se vê no poema “A bruxa”. 

O principal livro de inspiração social de Drummond é A Rosa do Povo (1945). À lírica de guerra, presente em poemas verdadeiramente épicos como “Carta a Stalingrado” e “Telegrama de Moscou”, e aos poemas que tratam da opressão do regime Vargas ou dos conflitos de classe, soma-se a reflexão metalinguística. O poeta alcança, dialeticamente, o êxito da comunicação poético-social. A tensão estabelecida entre comunicação e não comunicação, abertura e fechamento do discurso, ou entre transitividade e intransitividade do verbo poético, pode ser observada logo na abertura desse livro, com a oposição existente entre os dois poemas metalinguísticos “Consideração do poema” e “Procura da poesia”, que se ocupam da arte poética e que se mantêm em forte tensão dialética, numa relação de avesso e complemento entre o engajamento político-social e o engajamento com as palavras.

A fase seguinte é marcada por uma poesia mais filosófica, meditativa, e por uma visão de mundo melancólica e pessimista, produto em parte da desilusão do poeta com a militância nos anos 1940. Há também uma maior preocupação com a forma e um tom classicizante. Em Claro Enigma (1951), considerado ao lado de A Rosa do Povo o ápice de sua trajetória poética, estão reunidos poemas de natureza filosófica, meditativa, como “A máquina do mundo”; lírico-amorosa, como “Campo de flores”; e de temática familiar, como “Os bens e o sangue”, alguns de seus maiores poemas. 

Na sequência, Drummond publica os livros da série Boitempo, que integram a poética da fase memorialista, em que resgata as lembranças da infância, da cidade natal, da família. O estilo dominante nesses livros parece indicar uma superação das inquietudes que são a principal fonte de conflito na lírica do poeta itabirano.

Além de poeta, Drummond é também grande prosador. Publica, em 1944, Confissões de Minas, sua primeira crônica; em 1951, o livro de prosa de ficção Contos do Aprendiz; e, em 1952, Passeios na Ilha, uma coletânea de ensaios, crônicas e “poemas em prosa”, publicados ao longo de sua contribuição ao jornal Correio da Manhã. Essas obras repassam a mesma matéria dos livros de poesia, só que num menor grau de tensão. Entre 1969 e 1984, Drummond dedica-se à crônica no Jornal do Brasil.

Sem deixar de lado suas raízes e a preocupação com questões sociais e artísticas que marcaram o cenário nacional no século XX, a multiplicidade de sua obra faz de Carlos Drummond de Andrade um dos maiores nomes da literatura brasileira em âmbito mundial. 

Nota

1. CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 72-73.

Obras 69

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Espetáculos 31

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Espetáculos de dança 1

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Exposições 5

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Fontes de pesquisa 13

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  • ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
  • CAMILO, Vagner. Drummond: da Rosa do povo à rosa das trevas. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.
  • CAMILO, Vagner. No atoleiro da indecisão: Brejo das almas e as polarizações ideológicas nos anos 1930. In: ABDALA JR., Benjamin; CARA, Salete A. (org.). Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
  • CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: CANDIDO, Antonio. Recortes. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
  • CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
  • CANDIDO, Antonio. Poesia e ficção na autobiografia. In: _______. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1987.
  • Catálogo de 15 anos de Ponto de Partida - 1995. Não catalogado
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Igor Almeida]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • GLEDSON, John. Poesia e poética em Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Duas Cidades, 1981.
  • GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil). 792.092 G932n
  • Programa do Espetáculo - As Artimanhas de Scapin - 2003. Não Catalogado
  • Programa do Espetáculo - As Malandragens de Scapino - 1982. Não catalogado
  • SIMON, Iumna M. Drummond: uma poética do risco. São Paulo: Ática, 1978.

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