Graça Aranha
Texto
José Pereira da Graça Aranha (São Luís, Maranhão, 1868 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1931). Romancista, ensaísta, dramaturgo e diplomata. No ambiente doméstico da infância, realiza grande parte de seus estudos e presencia o trabalho do pai, que em casa mantém a redação e a tipografia do jornal O País, convivendo tanto com figuras de vulto da política e do comércio maranhense quanto com empregados da casa, que fecundam sua imaginação com narrativas. Em 1882, ingressa na Faculdade de Direito de Recife, onde toma contato com as ideias da chamada escola de Recife, principalmente sob a influência do escritor Tobias Barreto (1839-1889), seu mestre. Ao se formar, atua na área jurídica, inclusive com passagem por Cachoeiro de Santa Leopoldina (Espírito Santo), cenário de seu primeiro romance, Canaã (1902). Em 1897, ainda com essa obra em preparação, figura entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL). De 1900 a 1921, trabalha como diplomata na Europa. Em 1911, é encenada em Paris, no Thêatre de l’Oeuvre, sua peça Malazarte.
Em 1921, publica o livro de ensaios A Estética da Vida e, em 1925, Espírito Moderno, que traz seu discurso inaugural na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e os pronunciados na ABL em 1924, ano em que rompe com a instituição ao ver rejeitada sua proposta de renovação da mesma. Após concluir o romance A Viagem Maravilhosa (1929), inicia a autobiografia O Meu Próprio Romance (1931), interrompida por sua morte.
Análise
Em sua autobiografia, Graça Aranha expressa a intenção de mostrar que toda sua vida se pauta no impulso de libertação, o que aproxima, em essência, a imagem que constrói de si e a dos protagonistas de seus romances.
Em Canaã, o imigrante alemão Milkau, após um período de crise existencial e isolamento, procura, no Brasil, desenvolver a “simpatia humana” e integrar-se com o universo através de sensações despertadas pela natureza; daí a recorrência de passagens que exploram cores, formas, sons e cheiros. Em A Viagem Maravilhosa, Tereza também se entrega aos sentidos como forma de evasão ao casamento infeliz e de busca da liberdade, processo que se acentua ao conhecer o amor com Filipe. Essa semelhança de aspirações deve-se nitidamente à defesa que o escritor faz do ideal da filosofia monista de fusão de matéria e espírito no todo infinito, o que só se consegue pela religião, pela filosofia, pela arte ou pelo amor, segundo tese de A Estética da Vida (1921). Eis aí o cerne de seu pensamento.
Outro ponto marcante de sua produção é a valorização da imaginação, que ele vê como o “traço característico coletivo” da cultura brasileira. Referências a lendas, como a do Curupira e da Mãe-d’água, aparecem em Canaã e na peça Malazarte (1911) e prenunciam um repertório de destaque no modernismo, mesmo sem compartilhar do “espírito satírico-paródico” de alguns dos integrantes do grupo, como observa o escritor José Paulo Paes (1926-1998). A literatura de Graça Aranha, apesar de ser ele um entusiasta e articulador do movimento que culminou na Semana de 22, nunca adere plenamente à estética modernista e, mesmo em seus momentos mais próximos, deflagra um estilo peculiar ao autor.
Exposições 2
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13/2/1922 - 17/2/1922
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27/8/2023 - 15/1/2022
Fontes de pesquisa 14
- ARANHA, Graça. A estética da vida. Rio de Janeiro: Paris: Garnier, 1921.
- ARANHA, Graça. A viagem maravilhosa. Rio de Janeiro: Garnier, 1929.
- ARANHA, Graça. Canaã. 2ª. ed. rev. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1904.
- ARANHA, Graça. Espírito moderno. São Paulo: Cia. Graphico: Editora Monteiro Lobato, 1925.
- ARANHA, Graça. Introdução. In: Machado de Assis e Joaquim Nabuco: correspondência. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. p. 21-86
- ARANHA, Graça. Malazarte. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1973.
- ARANHA, Graça. O meu próprio romance. [São Paulo]: Companhia Editora Nacional, 1931.
- ARANHA, Graça. Uma carta de Graça Aranha. In: ALMEIDA, Renato. A formação moderna do Brasil. Rio de Janeiro: Alvaro Pinto, 1923. p. 43-55
- GARBUGLIO, José Carlos. O universo estético-sensorial de Graça Aranha. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1966.
- KLAXON: mensário de arte moderna. São Paulo, n. 8-9, dez. 1922- jan. 1923.
- MEDEIROS, Maurício de. Graça Aranha. In: Homens notáveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. p. 171-175
- OCTAVIO FILHO, Rodrigo. Conversa sobre Graça Aranha. Rio de Janeiro: PEN Clube do Brasil, 1945.
- OCTAVIO FILHO, Rodrigo. Nova conversa sobre Graça Aranha. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955.
- PAES, José Paulo. Canaã e o ideário modernista. São Paulo: Edusp, 1992.
Como citar
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GRAÇA Aranha.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa277038/graca-aranha. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7