Manuel Bandeira
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Mafuá do Malungo, 1948
Manuel Bandeira
Brasiliana Itaú/Acervo Banco Itaú
Texto
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho (Recife, Pernambuco, 1886 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1968). Poeta, ensaísta, tradutor e professor. Influenciada por diferentes escolas e movimentos literários, sua produção poética atravessa correntes diversas, como o parnasianismo, o modernismo e o concretismo. Seu estilo marca significativamente a geração modernista da década de 1920. Os temas centrais de sua obra são a memória, a morte, o erotismo e o lirismo das coisas simples.
A infância e a formação escolar de Manuel Bandeira são importantes em sua produção poética. Nascido no Recife, cresce na casa do avô, na Rua da União. Aos dez anos, muda-se para o Rio de Janeiro, onde completa o ginásio no Colégio Dom Pedro II, tendo como professores os escritores José Veríssimo (1857-1916) e João Ribeiro (1860-1934). Em 1903 ingressa na Escola Politécnica em São Paulo, porém interrompe os estudos por causa do diagnóstico de tuberculose. Inicia o tratamento em Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro. Entre junho de 1913 e outubro de 1914, interna-se no sanatório suíço de Clavadel, em Davos, momento em que aprofunda a leitura dos clássicos em línguas estrangeiras e se dedica aos estudos de tradução.
De volta ao Rio de Janeiro, publica A cinza das horas (1917), seu primeiro livro de poemas, com tiragem de duzentos exemplares. A poética introdutória é pautada pela rigidez parnasiana e pelo lirismo simbolista. Em forma de sonetos, os versos exprimem musicalidade acentuada pela alternância entre sons abertos e fechados. Em decorrência da enfermidade do poeta, o livro possui teor pessimista e sombrio, expresso nos poemas “Desencanto” e “Renúncia”. A cinza das horas, bem visto pela crítica contemporânea, recebe resenhas e comentários positivos em diversos jornais.
No livro seguinte, Carnaval (1919), o poeta varia entre a tradição dos sonetos e a fluidez dos versos livres, abandonando parcialmente o método parnasiano. A temática carnavalesca, alegre e festiva, é retratada em tom erótico no poema “Sonho de uma Terça-Feira Gorda”. Com foco na sonoridade das palavras, o poeta apropria-se de elementos do cotidiano em tom satírico e jocoso. Tais características atraem a atenção do movimento modernista de São Paulo.
Em 1920, muda-se para a Rua do Curvelo (atual Rua Dias de Barros), em Santa Tereza, e torna-se vizinho do jornalista Ribeiro Couto (1898-1963), que introduz o jovem poeta no círculo das artes modernistas. Bandeira inicia correspondência com o escritor paulista Mário de Andrade (1893-1945), cuja obra influencia sua poética. O poema “Os sapos”, do livro Carnaval, é declamado por Ronald de Carvalho (1893-1935) na abertura da Semana de Arte Moderna em 1922, realizada na capital paulista. A composição satiriza o fazer poético dos parnasianos, configurando o estilo do poema-piada, gênero popular entre os modernistas do período. Bandeira contribui com a Revista Klaxon.
A morada na Rua do Curvelo impacta significativamente a produção do poeta. Em contato com outros artistas, assimila inovações literárias ao abordar temas corriqueiros que partem da observação de hábitos sociais. No livro Libertinagem (1930), encontram-se poemas com características típicas da primeira geração modernista: versos livres, uso de onomatopeias, voz poética próxima da linguagem oral, ironia, emprego de múltiplos gêneros textuais. A temática é inovadora e eclética, variando entre odes memorialistas (“Evocação do Recife”, "Porquinho-da-Índia"), descrições de cenas do cotidiano ("Poema Tirado de uma Notícia de Jornal", “Pneumotórax”) e manifestos personalistas (“Poética”, "Vou-me Embora pra Pasárgada").
Os anos seguintes são marcados pela atuação no magistério. É premiado, em 1937, pela Sociedade Felipe d'Oliveira pelo conjunto de sua obra. A partir de 1938, leciona literatura no Colégio Dom Pedro II. Em 1940, inscreve-se para o posto na Academia Brasileira de Letras, para o qual é eleito no mesmo ano. A partir de 1943, leciona literatura hispano-americana na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, período em que investe na produção de textos didáticos e de cunho escolar, entre eles biografias e antologias dos poetas românticos. Também datam desse período ensaios sobre literatura e traduções de clássicos da língua inglesa, alemã, francesa e espanhola, de variados gêneros.
Itinerário de Pasárgada (1954) é um importante relato autobiográfico sobre a formação literária e humanista de Manuel Bandeira. No memorial em prosa, redigido por sugestão dos escritores Fernando Sabino (1923-2004) e Paulo Mendes Campos (1922-1991), o autor narra sua relação íntima com a poesia e remonta à infância no Recife, à formação escolar no Rio de Janeiro, à estadia na Suíça, à amizade com os modernistas, ao contexto de publicação de seus livros e à filiação à Academia. Ao comentar a própria obra e compará-la com a de escritores e artistas de outras expressões, em especial a música e o desenho, o escritor reflete sobre o fazer poético e o papel da literatura.
Em sua obra poética, aprofunda o experimentalismo por meio da desconstrução lógica e espacial dos versos, amplificando as possibilidades interpretativas. Nesse sentido, aproxima-se da estética concretista, a exemplo dos poemas “Ponteio” e “A Onda” de Estrela da tarde (1960). Em 1966 recebe, em Brasília, a Ordem do Mérito Nacional por ocasião dos seus 80 anos de idade.
No decorrer de sua obra, Manuel Bandeira atravessa diversos movimentos poéticos com autenticidade e diligência. A um só tempo lírica e inovadora, sua produção é crucial no panorama da literatura brasileira.
Obras 23
Espetáculos 19
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7/11/1953 - 11/11/1953
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Exposições 7
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13/2/1922 - 17/2/1922
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26/10/2001 - 14/1/2000
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30/11/2003 - 2/3/2002
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19/9/2015 - 15/11/2015
Fontes de pesquisa 15
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
- ANDRADE, Carlos Drummond de. Nota Preliminar. In: Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
- ARRIGUCCI JR., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. 17.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
- BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
- CAMPOS, Haroldo de. Bandeira, o desconstelizador. In: CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1970.
- COMPANHIA TEATRAL AS GRAÇAS. Site oficial do grupo. Disponivel em e . Acessado em: 19 maio 2011. Espetáculo: Itinerário de Pasárgada - 1999. Não catalogado
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
- LANCIANI et al. Libertinagem – Estrela da Manhã/Manuel Bandeira: edición crítica. Madri; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Lima, Guatemala, San José; Santiago de Chile: ALLCA XX, 1998.
- MORAES, Marcos Antonio de. Correspondência de Mário de Andrade e Manuel Bandeira. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.
- MOURA, Murilo Marcondes de. Manuel Bandeira. São Paulo: Publifolha, 2001.
- Programa do Espetáculo - Baixa Sociedade ou Apenas 500 Milhões de Dólares - 1979. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - O Círculo de Giz Caucasiano - 2007. Não catalogado
- REGIS, Maria Helena Camargo. O coloquial na poética de Manuel Bandeira. Florianópolis: Editora da UFSC, 1986.
- ROSENBAUM, Yudith. Manuel Bandeira: uma poesia da ausência. São Paulo: Edusp; Rio de Janeiro: Imago, 1993.
Como citar
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MANUEL Bandeira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1381/manuel-bandeira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7