Mário de Andrade
![O Losango Cáqui, 1926 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000181026019.jpg)
Losango cáqui, 1926
Mário de Andrade
Brasiliana Itaú/Acervo Banco Itaú
Texto
Mário Raul de Moraes Andrade (São Paulo, São Paulo, 1893 – Idem, 1945). Poeta, cronista, romancista, crítico de literatura e arte, musicólogo e pesquisador do folclore brasileiro, fotógrafo. Personalidade de múltiplos talentos e singular influência no meio cultural brasileiro do século XX, é guiado pela busca de aspectos definidores da identidade nacional e pela valorização das manifestações artísticas e culturais do Brasil.
Conclui o curso de piano pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1917. Nesse ano, sob o pseudônimo de Mário Sobral, publica seu primeiro livro, Há uma gota de sangue em cada poema. A partir de 1918, colabora para a imprensa como crítico de música e literatura em veículos como A Gazeta, A Cigarra, Klaxon, Diário de São Paulo e Folha de S.Paulo. Publica no Jornal do Comércio, em 1921, a série Mestres do passado, releitura crítica do Parnasianismo, e a maior parte de sua produção, entre críticas, contos, crônicas e poemas, no Diário Nacional, até 1932. Um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna (1922), é vaiado durante a leitura de seus poemas. Nesse ano, lança seu segundo livro, Pauliceia desvairada, marco na literatura moderna brasileira. A obra revela o contato do autor com vanguardas como o futurismo, o expressionismo e o dadaísmo, e o “Prefácio interessantíssimo" expressa a complexa tarefa de conjugar a orientação moderna com a "língua brasileira". Essa posição é desenvolvida no ensaio A escrava que não é Isaura (1925), que propõe o "primitivismo" na poesia, marcado pela ênfase na expressividade e na inspiração e pela busca da síntese e da espontaneidade, obtidas tecnicamente pelo verso livre.
Em 1924, realiza com Olívia Guedes Penteado (1872-1934), Oswald de Andrade (1890-1954), Tarsila do Amaral (1886-1973) e outros artistas uma viagem de estudos às cidades históricas mineiras com o objetivo de mostrar o interior do país ao poeta franco-suíço Blaise Cendrars (1887-1961). A “caravana modernista” tem inúmeros desdobramentos para a produção do escritor, como o ensaio de 1935 sobre Aleijadinho (1730-1814), que consagra o escultor como grande gênio das artes nacionais, e as ações de preservação do patrimônio brasileiro.
Em 1928, lança Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, fundindo seu interesse pela música e pela imaginação coletiva brasileira; em 1930, publica Remate de males, livro de maturidade poética que une experimentalismo modernista e folclore brasileiro.
Provavelmente o maior responsável por divulgar a produção modernista e formular a pauta seguida pelos artistas, orienta temáticas e linguagens, valorizando aspectos como os que encontra na obra de Candido Portinari (1903-1962): apreço pelos valores plásticos e pelo caráter artesanal do trabalho artístico; interesse pelo assunto nacional; capacidade de traduzir a realidade humana do Brasil; compromisso com o social.
Promove pesquisas de nacionalização da música brasileira e publica Ensaio sobre música brasileira (1928) e Modinhas imperiais (1930). Em 1935, funda, com Paulo Duarte (1899-1994), o Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, do qual se torna o primeiro diretor e cria a Discoteca Pública, hoje Discoteca Oneyda Alvarenga. Em 1936, participa da proposta de elaboração do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), pelo qual viaja na década de 1940 como pesquisador. Em 1937, cria, com Dina Lévi-Strauss (1911-1999), a Sociedade de Etnografia e Folclore e se torna seu primeiro presidente.
Em 1938 idealiza a Missão de Pesquisas Folclóricas, expedição de pesquisadores pelas regiões Norte e Nordeste do Brasil para registrar e estudar a diversidade de melodias cantadas no trabalho, em festas e rezas. Em 1938, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde dirige o Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, além de ocupar a cátedra de história e filosofia da arte.
De volta a São Paulo em 1941, realiza estudo monográfico sobre a vida e a obra do artista setecentista frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), defendendo que a arte colonial brasileira seja observada em suas características originais, independentemente da arte europeia e da arte erudita brasileira.
Na década de 1940, a visão entusiasmada do modernismo das décadas de 1920 e 1930 se torna mais crítica e reflexiva no ensaio O movimento modernista. O texto define o caráter único do movimento como a fusão de três elementos encontrados em outros momentos da história cultural do país: “o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional"1. Na produção literária ocorre movimento semelhante: em poemas e contos, inquietações íntimas se somam a questionamentos sobre a realidade brasileira, evidente nos livros de publicação póstuma, Lira paulistana (1945), Café (1955) e Contos novos (1956).
Um capítulo à parte de sua produção é a volumosa correspondência com Manuel Bandeira (1886-1968), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Fernando Sabino (1923-2004), Augusto Meyer (1902-1970) e outros artistas.
As ideias e posições de Mário de Andrade contribuem decisivamente para desencadear novos movimentos e tendências artísticas e literárias. A qualidade de sua poesia e a perspicácia e veemência dos questionamentos que "sacudiram" o meio cultural brasileiro de seu tempo fazem dele um dos principais escritores e intelectuais do país.
Notas
1. ANDRADE, Mário. O movimento modernista. In: BERRIEL, Carlos E. O (org.). Mário de Andrade hoje. São Paulo: Editora Ensaio, 1990. p. 26.
Obras 80
Espetáculos 16
Exposições 38
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13/2/1922 - 17/2/1922
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1938 - 1937
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11/1990 - 11/1990
Mídias (2)
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 33
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Como citar
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MÁRIO de Andrade.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa20650/mario-de-andrade. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7