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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

xilogravura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.01.2021
Técnica de produção e reprodução de imagens que consiste na gravação em relevo de uma matriz de madeira (xýlo, em grego) para a impressão de estampas sobre outros suportes. A imagem é produzida por meio da remoção de matéria da matriz, de modo que a estampa obtida traz impressa a tinta fixada nas áreas não retiradas da madeira.

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Técnica de produção e reprodução de imagens que consiste na gravação em relevo de uma matriz de madeira (xýlo, em grego) para a impressão de estampas sobre outros suportes. A imagem é produzida por meio da remoção de matéria da matriz, de modo que a estampa obtida traz impressa a tinta fixada nas áreas não retiradas da madeira.

Entre as práticas que têm em comum o uso de carimbos de madeira para reproduzir imagens, encontra-se a estamparia de tecidos desde a Antiguidade no Oriente. A xilogravura, no entanto, começa a ganhar forma nas imagens religiosas medievais na China, no Japão e, pouco mais tarde, na Europa, onde as cartas de jogar também passam a ser gravadas a partir do século XV. Neste contexto, “gravador” designa o entalhador que abre a madeira, e não necessariamente o autor do desenho ou da impressão, sendo a estampa quase sempre o resultado de um processo colaborativo. 

As estampas, desde o barroco, compõem uma rede de circulação mundial. No Brasil, livros ilustrados em diferentes técnicas são encontrados nos inventários das bibliotecas jesuíticas, servindo à conversão, à produção intelectual e arquitetônica. Reproduções de pinturas1 avulsas ou inseridas em livros informam a produção de artistas como Aleijadinho (1738-1814) e Manuel da Costa Ataíde (1762-1830). Já no século XIX, o estudo do desenho da figura humana por meio de estampas estrangeiras torna-se prática institucionalizada na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). 

Nos primórdios da impressão por tipos móveis, a xilogravura é a única técnica a possibilitar a impressão simultânea de texto e imagem, resultando desta combinação livros ilustrados mais acessíveis. Nesse momento, emprega-se a madeira de fio, com corte paralelo às fibras, gravada por ferramentas que pertencem ao domínio do entalhador: faca, formão, goiva. Entre os séculos XVIII e XIX o interesse editorial é dirigido para a madeira de topo, dada sua superior capacidade de tiragem e versatilidade para traduzir pinturas. As fibras se alinham perpendicularmente ao corte, obtendo uma superfície em retícula que permite a produção de gradações e o uso do buril, instrumento de grande precisão oriundo da gravação em metal.

A imprensa produzida no Brasil tem início com a chegada da Corte Portuguesa em 18082. Suprindo a carência de manuais ilustrados que instruíssem as atividades econômicas na colônia, Frei José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811) funda em Lisboa a Tipografia do Arco do Cego (1799-1801). Com a transferência da Corte, seu maquinário é incorporado à Impressão Régia (1808), que forma muitos dos profissionais atuantes nas tipografias que proliferam a partir de 1823. O Colégio das Fábricas também forma profissionais para a estamparia de tecidos, cartas de jogar e papéis de parede.

Na imprensa oitocentista, diversos profissionais anunciam seus serviços como xilógrafos e/ou professores de técnicas gráficas, como o gravador português Manuel Joaquim da Costa Pinheiro (1832-1903) e seu filho Alfredo Pinheiro (1858-190?), que produzem xilogravuras de tradução e colaboram com o Brazil Illustrado3. Os irmãos gravadores alemães Heinrich (1823-1882) e Carl Fleiuss (-1878) e o pintor e litógrafo alemão Carl Linde (1830-1873) fundam a oficina Fleiuss Irmãos & Linde, o Imperial Instituto Artístico (1860), a revista Semana Ilustrada (1861-1876), que ilustram com xilogravuras, e também publicam em fascículos a História Natural Popular dos Animais (1865). 

Nas exposições do Liceu de Artes e Ofícios e da Aiba, as gravuras são exibidas como artes industriais, e estão ausentes do ensino. Em 1882, é criada a cadeira de xilogravura na Aiba, que permanece vazia, priorizando-se o estudo da gravação de medalhas. A partir da década de 1910, o Liceu começa a oferecer oficinas em diferentes técnicas gráficas.

No Nordeste brasileiro, a xilogravura se populariza nos folhetos da literatura de cordel produzidos por cantadores e gravadores de narrativas poéticas, como Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e Mestre Noza (1897-1984).

No decorrer do século XX, a xilogravura se concentra no campo artístico. Valoriza-se a madeira de fio e deixa de prevalecer a distinção entre desenhista e gravador, tornando-se desenho e gravação um processo único. A xilogravura passa a ser explorada enquanto linguagem singular em obras como Mangue (1944), de Lasar Segall (1891-1957). A obra de Oswaldo Goeldi (1895-1961) explora um mínimo de incisões, realçando a densidade da tinta. Sua atuação como professor na Escolinha de Arte do Brasil (1952) e na Escola Nacional de Belas Artes (1955), intensifica o interesse pela exploração da linguagem xilográfica. Destacam-se ainda artistas como Lívio Abramo (1903-1992), Fayga Ostrower (1920-2001), Renina Katz (1925) e Gilvan Samico (1928-2013)

Enquanto técnica voltada para a reprodução, a xilogravura conecta diferentes continentes e áreas do conhecimento no período colonial. Ao longo de sua história, transita entre a visualidade popular e a erudita, conquistando o estatuto de uma linguagem artística singular em meio à produção contemporânea.

 

Notas:

1. Gravuras que reproduzem obras de outras linguagens também são conhecidas como estampas de tradução, como assim as define o historiador italiano Giulio Carlo Argan em O valor crítico da “gravura de tradução”. In: Imagem  e Persuasão: Ensaios sobre o Barroco. Companhia das Letras, São Paulo, 2004.

2. Anteriormente, as atividades gráficas eram proibidas pela Coroa Portuguesa, sob o temor de traições políticas e falsificações.

3. Periódico editado pelo publicista Félix Ferreira (1841-1898), grande defensor da difusão de obras de arte por meio da xilogravura. Ver: ARNONE, Marianne Farah. A gravura como difusora da arte: um estudo sobre a gravura brasileira no final do século XIX a partir da análise dos textos e produção crítica de Félix Ferreira. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

Fontes de pesquisa 11

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  • ARGAN, Giulio Carlo. O valor crítico da “gravura de tradução”. In: ______ Imagem e Persuasão: Ensaios sobre o Barroco. Companhia das Letras, São Paulo, 2004.
  • ARNONE, Marianne Farah. A gravura como difusora da arte: um estudo sobre a gravura brasileira no final do século XIX a partir da análise dos textos e produção crítica de Félix Ferreira. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
  • ARNONE, Marianne Farah. A gravura como difusora da arte: um estudo sobre a gravura brasileira no final do século XIX a partir da análise dos textos e produção crítica de Félix Ferreira. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
  • COSTELLA, Antonio. Introdução à gravura e à sua história. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2006.
  • ESTAÇÃO Pinacoteca (São Paulo); GABINETE de Gravura Guita e José Mindlin; PINACOTECA do Estado (São Paulo). Gravura e modernidade: gravura brasileira dos anos 1920 aos anos 1960 no acervo da Pinacoteca de São Paulo. São Paulo: Estação Pinacoteca, 2016.
  • FERREIRA, Orlando da Costa. Imagem e letra: introdução à bibliologia brasileira: a imagem gravada. [S.l.]: Edusp, 1994.
  • GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000.
  • LEVY, Hannah. Pintura e escultura I. São Paulo: Fausp/MEC/Iphan, 1978.
  • MARTINS, Renata Maria de Almeida. “A recepção da tradição emblemática renascentista na América Latina: o caso das Missões Jesuíticas na Amazônia”. In: BARGELLINI, Clara; DÍAZ, Patrícia (ed.). El Renacimiento Italiano desde la América Latina. Ciudad de México, 2018.
  • MUBARAC, Claudio. Anotações sobre o nascimento da gravura de estampa (mestres anônimos). ARS (São Paulo), São Paulo, v. 14, n. 28, p. 246-255, jul./dez. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-53202016000200246&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 jun. 2020.
  • SANTOS, Renata. A imagem gravada: a gravura no Rio de Janeiro entre 1808 e 1853. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. p. 56-59.

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