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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Manoel da Costa Athaide

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.04.2024
1762 Brasil / Minas Gerais / Mariana
03.02.1830 Brasil / Minas Gerais / Mariana

São Francisco Recebe as Regras da Sua Ordem (detalhe do painel lateral da capela-mor), 0018
Manoel da Costa Athaide

Manoel da Costa Athaide (Mariana, Minas Gerais, 1762 – Idem, 1830). Pintor, dourador, encarnador, entalhador. Mestre Athaide é considerado um importante artista do barroco mineiro, destacando-se como um dos principais nomes da pintura rococó mineira do início do século XIX. A exemplo dos artistas da época, sua atividade como pintor inclui o exer...

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Manoel da Costa Athaide (Mariana, Minas Gerais, 1762 – Idem, 1830). Pintor, dourador, encarnador, entalhador. Mestre Athaide é considerado um importante artista do barroco mineiro, destacando-se como um dos principais nomes da pintura rococó mineira do início do século XIX. A exemplo dos artistas da época, sua atividade como pintor inclui o exercício de douramento e encarnação1 de imagens e elementos decorativos em talha, pinturas parietais2 e sobre painel, mas se concentra em pintura decorativa de forros e tetos de igrejas.

As informações sobre a trajetória do artista são incertas. Seu pai, o português Luiz da Costa Athaide, aparece eventualmente nos livros de registros de Ordens Religiosas como prestador de serviços não especificados, sendo provável que tenha contribuído para a formação do filho. Também não se sabe ao certo quem foram os mestres do pintor mineiro. Segundo o historiador Carlos Del Negro, a semelhança entre as pinturas de forro de João Batista de Figueiredo (17-- - 17--) e Athaide indicam que o primeiro teria sido mestre do segundo. Entretanto, outros nomes aparecem associados ao pintor, como o de João Nepomuceno Correia e Castro (1752-1795), autor da pintura da nave do Santuário do Bom Jesus dos Matosinhos (1777-1784), e de Antônio Martins da Silveira (17-- - 17--), autor da decoração pictórica do teto da capela-mor do Seminário Menor de Mariana (1782). Ao lado deles e do pintor Bernardo Pires da Silva (17-- - 17--), Athaide compõe a chamada Escola de Mariana.

As mais antigas notícias sobre seu trabalho como artista datam de 1781 e se referem a obras de pintura e douramento de retábulos3. Contudo, adentrando o século XIX, realiza trabalhos de vulto: encarna e doura as estátuas em madeira dos Passos da Paixão, esculpidas por Aleijadinho (1730-1814) e seu ateliê, além de retocar a pintura do teto da nave e a pintura das Capelas dos Passos do Horto e da Prisão no Santuário do Bom Jesus dos Matosinhos, em Congonhas do Campo, entre 1799 e 1819. Um de seus mais bem-sucedidos trabalhos é novamente realizado com Aleijadinho, na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto: entre 1801 e 1812, Athaide pinta o teto da nave da capela, representando a Assunção da Virgem como tema central. Empregando a técnica da quadratura, “com um medalhão central e elementos arquitetônicos que extrapolam ilusoriamente os limites físicos do edifício”4, lega-nos um dos exemplares mais perfeitos da pintura de perspectiva do período colonial brasileiro.

Como os artistas-artesãos da época, Athaide segue cânones importados de Portugal. Em geral, as cenas a serem executadas são copiadas de gravuras e estampas de missais e livros sagrados, sendo o artista responsável apenas pela adaptação da imagem ao espaço e aos recursos técnicos disponíveis. Por exemplo, no caso dos seis painéis imitando azulejo (executados entre 1803 e 1804), que representam cenas da vida de Abraão e decoram a capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Athaide copia seis gravuras de uma edição francesa da Bíblia ilustrada por Jean-Louis Demarne (1752?-1829). Tal fato não representa demérito nenhum ao artista colonial, pois seu talento se revela exatamente na sabedoria com que faz tal transposição, simplificando as composições originais a fim de adaptá-las ao reduzido espaço para execução. Em comparação com elas, percebe-se um caráter intimista no tratamento das cenas e maior expressividade do desenho, que elimina o aspecto solene presente no modelo. Essa linha expressiva que tende a criar corpos volumosos e lânguidos, que quase não conhece ângulos retos e transforma a anatomia dos corpos em traços curvos, é uma das características mais marcantes da obra de Athaide.

No que diz respeito à pintura de perspectiva de forro, o artista mineiro segue o esquema de inspiração rococó elaborado em meados da segunda metade do século XVIII, em Minas Gerais: medalhão em forma de "quadro recolocado" emoldurado de rocalhas e colocado no centro do teto, sustentado por maciços elementos arquitetônicos (pilastra, coluna, arco e frontão curvilíneo) assentados na parte média das paredes reais da igreja. O espaço arquitetônico ilusório tende a ser recheado de anjos, figuras bíblicas, concheados, laçarias, ramalhetes de flores e outros motivos delicados que se prendem uns aos outros por curvas e contracurvas, dando leveza e ritmo à  composição. Inclusive, o artista é conhecido por seus anjos e virgens mulatos, cuja inspiração teria sido sua companheira e seus filhos. Do mesmo modo, a paleta do artista, rica em tons de vermelho, azul, branco, amarelo, sépia e marrom, deve ser compreendida segundo os padrões do período. O forro da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mariana, pintado em 1823, é um exemplo.

Em 1828, pinta um de seus mais importantes trabalhos, o painel A última ceia, no Colégio do Caraça, em Santa Bárbara, Minas Gerais. De acordo com Castro e Souza de Deus, a obra sacramenta a originalidade de Athaide, na medida em que o pintor representa uma das mais célebres cenas religiosas com diversos elementos anedóticos, que dão um tom de informalidade a um momento dramático da história cristã5. A tela é apontada por historiadores da arte como o marco formal do fim do barroco no Brasil.

A superioridade técnica, marcada pelo perfeito desenho de perspectiva e corpos em escorço, pela harmonia cromática e pelo desenho altamente expressivo, faz de Mestre Athaide um dos expoentes do barroco no Brasil, sendo peça-chave para a história da arte brasileira.

Notas

1. “Revestimento de imagens e figuras de seres humanos que imita a cor de carne”. Encarnação, In: Dicionário Aulete Digital, Rio de Janeiro: Lexicon Editora. Disponível em: https://www.aulete.com.br/encarna%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 12 jun. 2022.

2. Pinturas executadas sobre paredes.

3. “Numa igreja, construção ornamental, feita de madeira ou de mármore, na parte posterior de um altar”. Retábulo, In: Dicionário Aulete Digital, Rio de Janeiro: Lexicon Editora. Disponível em: https://www.aulete.com.br/ret%C3%A1bulo. Acesso em: 12 jun. 2022.

4. MONTEIRO, Cenise Maria de Oliveira. O barroco e o rococó de Manoel da Costa Athaíde: o forro da nave da Capela da Ordem de São Francisco da Penitência em Ouro Preto, MG. Linguagens nas Artes, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 68, jan.-jul. 2020.

5. CASTRO, Henrique Moreira de; SOUZA DE DEUS, José Antônio. Um olhar etnográfico sobre as paisagens culturais barrocas do hinterland brasileiro nas Minas Oitocentistas. In: 12 Encuentro de Geógrafos de América Latina. Montevidéu, 3-7 abr. 2009.

Obras 32

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Exposições 6

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Fontes de pesquisa 35

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  • PINTURA Colonial. Apresentação Ernest Robert de Carvalho Mange; texto Frederico Morais, Lélia Coelho Frota, José Roberto Teixeira Leite. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1994. 51 p. , il. color. (Cadernos história da pintura no Brasil, 7).
  • PINTURA Colonial. Apresentação Ernest Robert de Carvalho Mange; texto Frederico Morais, Lélia Coelho Frota, José Roberto Teixeira Leite. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1994. 51 p. , il. color. (Cadernos história da pintura no Brasil, 7). IC 759.981 I59c 07
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