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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Igreja de São Francisco de Assis

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.04.2023
1765 Brasil / Minas Gerais / Ouro Preto
1890

Assunção da Virgem (forro da nave), 1804
Manoel da Costa Athaide
Óleo sobre madeira

A Igreja de São Francisco de Assis, localizada em Ouro Preto, Minas Gerais, é considerada uma das obras-primas do barroco brasileiro, além de ser uma das maiores realizações do Aleijadinho (1730-1814). A Igreja é uma das raras construções em que o projeto, a obra escultórica e a talha são de autoria de um mesmo artista, o que confere grande unid...

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A Igreja de São Francisco de Assis, localizada em Ouro Preto, Minas Gerais, é considerada uma das obras-primas do barroco brasileiro, além de ser uma das maiores realizações do Aleijadinho (1730-1814). A Igreja é uma das raras construções em que o projeto, a obra escultórica e a talha são de autoria de um mesmo artista, o que confere grande unidade e harmonia ao conjunto. Não há descompassos entre arquitetura e ornamentação. Mesmo a pintura e o douramento - do forro, retábulos e laterais -, sob a responsabilidade de  Manoel da Costa Athaide (1762 - 1830), encontram-se em perfeita sintonia com o conjunto. A encomenda do risco para a igreja, feita ao então jovem escultor, arquiteto e entalhador, se efetiva em 1766, logo após a morte do pai do artista, importante arquiteto e mestre de obras local. O Aleijadinho altera o plano primeiro da igreja, arredondando-lhe as torres e elaborando novo frontispício e ornamentos para as fachadas, que se enriquecem em graça e detalhes pela mestria com que maneja a arte do cinzel.

Os modelos barrocos europeus se aclimatam e se desenvolvem no Brasil ao longo do século XVIII, resvalando em soluções rococó - mais leves, simples e suaves - nas vilas e cidades de Minas Gerais a partir de 1760. Aí, as construções perdem suas feições monumentais, e os templos adquirem toques intimistas e dimensões reduzidas. A decoração em pedra-sabão constitui outro traço peculiar e original do barroco mineiro que se expande por diversos núcleos de mineração da colônia. A vida urbana de Vila Rica (elevada à categoria de cidade em 1714 e batizada Ouro Preto, em 1897) abriga uma população heterogênea, um intenso comércio e diversos tipos de artes: música, literatura (os integrantes da Arcádia), arquitetura, pintura e escultura. A predominância de mulatos nas artes plásticas mineiras, nesse período, é explicada em função da relativa liberdade desse segmento na obtenção de serviços que não podem ser feitos nem pelos escravos, nem pelos brancos, que não realizam trabalhos manuais. É nesse ambiente urbano que surgem novos profissionais, como o Aleijadinho, cujo aprendizado se dá pela prática no canteiro de obras, na elaboração de riscos, na escultura em pedra-sabão e na talha de altares. O contato com artistas mais experientes é outro fator decisivo na formação do artista: além de seu pai, Manuel Francisco Lisboa, ele se beneficia das relações com João Gomes Batista (desenhista e medalhista), e com José Coelho de Noronha e Francisco Xavier de Britto (entalhadores).

O conjunto da Igreja de São Francisco de Assis, com suas proporções reduzidas, arquitetura e decoração, constitui um exemplo bem acabado dos contornos que o rococó europeu adquire entre nós, podendo ser descrito como uma seqüência integrada de três volumes - nave, capela-mor e sacristia - de proporções harmônicas e ornamentação sóbria. A decoração, com anjos, elementos vegetais, fitas, guirlandas e entrelaçados em madeira e pedra-sabão, confere movimento e dinamismo à obra. A planta da igreja mostra um espaço modelado por superfícies convexas, em que as torres cilíndricas, recuadas, conectam de modo sutil o frontispício e o corpo da igreja. A elevação principal é outro elemento a dotar de leveza o conjunto, que parece menor do que efetivamente é. A solução de recuar as torres - que são deslocadas do plano da fachada a partir de uma espécie de movimento em rotação - dá destaque ao frontispício. Na composição deste, a portada ocupa lugar central, dominando a superfície entre as duas janelas do coro. O medalhão, no alto, permite aferir a mão precisa do entalhador.

No interior da igreja, a luz difusa é filtrada pelas janelas laterais. As quatro janelas do coro, por sua vez, jogam a luz em direção ao teto da nave central, pintado por Athaide. Os púlpitos são instalados no arco-cruzeiro, na passagem da nave para a capela, o que promove uma perfeita articulação dos espaços. Em pedra-sabão, os púlpitos dialogam com as talhas. A talha do retábulo, por exemplo, se articula às existentes nos quatro cantos do forro, com medalhões ao centro, em que figuram os santos da ordem em semi-relevo. No retábulo e em suas duas colunas laterais, o ouro sobre fundo palha ameniza os contrastes. A Santíssima Trindade do retábulo, com a virgem ao centro, mostra-se uma peça de grande valor escultórico. Nela destacam-se a ênfase nas expressões faciais das figuras e os efeitos dos olhos, característicos das esculturas do Aleijadinho. O motivo da lua crescente com as pontas voltadas para baixo, que arremata a peça, repete-se no forro de Athaide, acentuando o diálogo entre escultura e pintura.

As portadas, púlpitos e lavatórios da Igreja de São Francisco de Assis são consideradas obras maiores da escultura em pedra sabão. Germain Bazin, referindo-se ao retábulo e ao conjunto da capela-mor da igreja, declara ser surpreendente que "a realização mais perfeita desse rococó português aconteça no Brasil, e não na metrópole, e que seja devida a um mestiço". Vale lembrar que essa significativa presença mulata nas artes do período é lida por diversos intérpretes - Mário de Andrade (1893 - 1945), Gilberto Freyre (1900 - 1987) e Roger Bastide (1898 - 1974), por exemplo - como o fator determinante da particularidade do barroco em Minas Gerais.

Obras 11

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Fontes de pesquisa 6

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  • ANDRADE, Mário de. A arte religiosa no Brasil: crônicas publicadas na Revista do Brasil em 1920. Organização Cláudio Giordano; comentário Claudete Kronbauer. São Paulo: Experimento : Giordano, 1993. 99 p., il. p&b.
  • BAZIN, Germain. A Arquitetura religiosa barroca no Brasil. Tradução Gloria Lucia Nunes. Rio de Janeiro: Record, ca. 1956. 398 p., 2 v.
  • OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. O rococó religioso no Brasil e seus antecedentes europeus. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. 343 p., 221 il. p&b.
  • SANTOS, Paulo. Subsídios para o estudo da arquitetura religiosa de Ouro Preto. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos, 1951. 170 pp., il p&b.
  • VASCONCELLOS, Sylvio de. Vila Rica: formação e desenvolvimento - residências. São Paulo: Perspectiva, 1977. 214 p., il. p&b. (Debates, 100).
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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