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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Gilvan Samico

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.08.2024
15.06.1928 Brasil / Pernambuco / Recife
25.11.2013 Brasil / Pernambuco / Recife
Reprodução fotográfica Cesar Barreto

O Retorno, 1995
Gilvan Samico
Xilogravura, c.i.e.
55,50 cm x 90,30 cm

Gilvan José Meira Lins Samico (Recife, Pernambuco, 1928 – Idem, 2013). Gravador, pintor, desenhista, professor. Dialogando com as anedotas bíblicas e míticas e a estética da literatura de cordel, Gilvan Samico representa a cultura popular brasileira com força expressiva e apuro técnico. 

Texto

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Gilvan José Meira Lins Samico (Recife, Pernambuco, 1928 – Idem, 2013). Gravador, pintor, desenhista, professor. Dialogando com as anedotas bíblicas e míticas e a estética da literatura de cordel, Gilvan Samico representa a cultura popular brasileira com força expressiva e apuro técnico. 

Começa na pintura como autodidata. Em 1948, integra a Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), que tem importante papel na renovação da arte pernambucana. O objetivo dessa associação é criar um amplo movimento cultural na cidade, envolvendo áreas como artes plásticas, teatro e música e incentivando pesquisas sobre a cultura popular e suas manifestações. Em 1952,  funda, ao lado de outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, centro de estudos de desenho e gravura, voltado para uma arte de caráter social e idealizado pelo gravador Abelardo da Hora (1924-2014)
Viaja para São Paulo em 1957, onde tem aulas na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna (MAM) com Lívio Abramo (1903-1992). Dessa convivência, guarda a preocupação em explorar as possibilidades formais da madeira e o interesse pelas texturas muito elaboradas. Na década de 1950, passa a criar ritmos lineares, que se harmonizam perfeitamente na estrutura geral de suas obras.

Em 1958, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde cursa gravura com Oswaldo Goeldi (1865-1961) na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). O contato com o gravador é percebido no emprego de atmosferas noturnas em seus trabalhos, utilizando número reduzido de traços, e na aplicação muito precisa da cor. 

Sua obra é marcada definitivamente pela descoberta do romanceiro popular, por meio da literatura de cordel e pela criativa utilização da xilogravura. O espaço de suas gravuras é povoado por personagens bíblicos e figuras provenientes de lendas e narrativas populares, além de muitos animais e seres fantásticos, como leões, serpentes, dragões. Samico relaciona a vasta presença dos bichos em seus trabalhos com os cenários de sua infância: “Eu vivia numa época de espaços abertos, habitados por bichos, muitas árvores. Convivia com esses espaços e com cobras, bois, cavalos, passarinhos, sapos... tudo isso passou a ser minha referência”1

Na década de 1960, paralelamente à inovação temática, o artista passa a utilizar o branco com muita força expressiva. A profundidade é pouco evocada em suas obras, que enfatizam a dimensionalidade, sendo as figuras representadas como signos, o que ocorre, por exemplo, em O boi feiticeiro e o cavalo misterioso (1963). Já a xilogravura Suzana no banho (1966) apresenta características formais que se tornam constantes na obra do artista: além das tramas gráficas diferenciadas, que conferem ritmo à composição, emprega a simetria e a compartimentação geométrica do espaço.

Em 1965, fixa residência em Olinda. Atua como professor no cursos de xilogravura da Universidade Federal da Paraíba (UFPA). Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), permanece por dois anos em Paris. 

Em 1971, é convidado pelo escritor Ariano Suassuna (1927-2014) a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel. À valorização das raízes da cultura brasileira soma-se o rigor técnico de Samico. De acordo com o pintor João Câmara Filho (1944), no trabalho do gravador, “o pródigo da execução é uma coisa de grande encantamento popular”.  

Nas décadas de 1980 e 1990, dedica-se mais longamente à realização de cada gravura, chegando a produzir uma matriz por ano. Para cada trabalho, realiza dezenas de desenhos preparatórios e exercita com a goiva2 toda uma variedade de cortes, até encontrar a textura ideal para os  assuntos tratados. Em 1998, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), em Recife, realiza a exposição retrospectiva Gilson Samico: 40 anos de gravura, exibida no ano seguinte no Museu de Arte da Pampulha (MAP), em Belo Horizonte. 

Nos trabalhos  da década de 2000, o artista simplifica a estrutura e a própria trama linear, adicionando motivos originários da arquitetura: arcos, rosáceas e molduras. A obra A espada e o dragão (2000), por exemplo, apresenta técnica apurada e uso muito criterioso da cor. 

Com contornos que vão do caráter mais noturno aos tons mais solares, Gilvan Samico realiza gravuras capazes de contar histórias, dialogando com a cultura nordestina e as referências míticas e bíblicas. A dedicação e o empenho do artista garantem um cuidadoso rigor técnico aos seus trabalhos.

Notas

1. SAMICO, Gilvan. Linhas, trançados e cores: no reino de Gilvan Samico. Curadoria de Renata Pimentel. Paraty: Centro Cultural Sesc, 2015. Exposição realizada no período de 2 jul. a 10 out. 2015.

2. Ferramenta de seção côncavo-convexa com corte, utilizada por artesãos e artistas para talhar peças de madeira, metal ou pedra.

Obras 30

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Reprodução fotográfica Fritz Simons

A Fonte

Xilogravura
Reprodução fotográfica César Barreto

A Mão

Xilogravura

Exposições 249

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Fontes de pesquisa 12

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997. R750.81 A973d 2.ed
  • DRÄNGER, Carlos (coord.). Pop Brasil: arte popular e o popular na arte. Curadoria Paulo Klein; tradução João Moris, Beatriz Karan Guimarães, Maurício Nogueira Silva. São Paulo: CCBB, 2002. SPccbb 2002/pb
  • FONTES: Louzada, v.1, v.10. dddd
  • GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. R759.981 L533d
  • Morre o artista plástico pernambucano Gilvan Samico. Diário de Pernambuco. Disponível em; . Acesso em: 25 nov. 2013. Não catalogado
  • SAMICO, Gilvan. Gilvan Samico. Textos de Weydson Barros Leal, Agnaldo Farias, Frederico Morais, Ariano Suassuna, Moacir dos Anjos, Ferreira Gullar. Recife : MAMAM, 2005. (Artistas do MAMAM). 84 p.
  • SAMICO, Gilvan. Gilvan Samico: obras de 1980 - 1994. São Paulo: Sylvio Nery da Fonseca Escritório de Arte, 1995. , il. color.
  • SAMICO, Gilvan. Samico. Rio de Janeiro : Centro Cultural Banco do Brasil, 1998.
  • SAMICO, Gilvan. Samico: 40 anos de gravura. Tradução Carolyn Brisset. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1997. 132 p., il. color.
  • SAMICO, Gilvan. Samico: do desenho à gravura. São Paulo : Pinacoteca do Estado, 2004.

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