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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Ariano Suassuna

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
16.06.1927 Brasil / Paraíba / João Pessoa
23.07.2014 Brasil / Pernambuco / Recife
Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 1927 – Recife, Pernambuco, 2014). Romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta e professor. Destaca-se pelas obras e pela militância em defesa da arte popular brasileira.

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Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 1927 – Recife, Pernambuco, 2014). Romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta e professor. Destaca-se pelas obras e pela militância em defesa da arte popular brasileira.

Durante os estudos primários, entra em contato com a cultura popular nordestina, que marca grande parte de seus trabalhos. No período do ensino secundário, publica seu primeiro poema. Ingressa na Faculdade de Direito do Recife em 1946 e participa do núcleo fundador do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), que encena a peça Uma mulher vestida de sol, de sua autoria, no ano seguinte.

Seu trabalho mais conhecido, O auto da Compadecida, é escrito quase uma década depois, em 1955. Como o próprio título sugere, é proposto um auto, modalidade do teatro medieval que tem como tema a religiosidade. Suassuna, no entanto, reelabora essa forma teatral a partir de uma perspectiva radicalmente regionalista e apresenta uma obra moderna, que expõe, examina e incorpora um sistema estético do passado sob o crivo particular da tradição popular nordestina.

Essa atitude estética do autor permeia a produção do autor, desde os poemas ao modo da poesia de cordel que publica ao longo da vida, principalmente em jornais, até a obra que considera seu principal trabalho, dividido em livros distintos, o romance Quaderna, o decifrador, que começa a escrever em 1958.

Esse romance, que incorpora boa parte da pesquisa da arte popular nordestina empreendida nos escritos anteriores, tem um primeiro momento, Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, e um segundo, História do Rei Degolado / Ao Sol da Onça Caetana. O cronista-fidalgo, rapsodo-acadêmico e poeta-escrivão dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna é o narrador criado pelo autor que se encontra preso, no ano de 1938, tentando se defender, por meio da escrita, das acusações que fazem sobre ele.

Para isso começa a narrar os fatos, acontecidos e inventados, que o colocaram naquela situação. Esses eventos, no entanto, sempre ganham uma coloração ambígua: ora são contados como grandes façanhas de cavaleiros e nobres medievais, ora são narrados como miserável disputa sertaneja em que muitos morrem de forma grotesca por pequenas disputas pelo poder, principalmente no sertão nordestino entre Paraíba e Pernambuco. Esse lugar, segundo o narrador, é palco de um curto reinado de sua família no século XIX. Esses fatos do passado, retirados muitas vezes de acontecimentos históricos, são a base da justificativa da realeza de Quaderna, que se julga, na década de 1930, o pretendente ao trono do Império do Brasil. O personagem sempre deixa claro que esse império não tem ligação com os "reis e imperadores estrangeirados e falsificados da Casa de Bragança".

Para sua defesa, o narrador levanta inclui gravuras de artistas nordestinos, poemas de cordel, distorções de fatos históricos, mitos do sertão etc. A distribuição desse material é feita por meio de folhetos, ao modo da tradição popular nordestina, e aproxima essa estranha epopeia das formas literárias que antecedem historicamente o romance burguês, que surge em um mundo que aparentemente perde seus mitos. As narrativas de Quaderna causam uma confusão temporal que, em alguma medida, se assemelha à de O auto da Compadecida. Esse recurso estilístico fez alguns estudiosos classificarem esses livros como romances míticos.

Existe uma tentativa declarada do autor de erguer uma espécie de mitologia brasileira com base popular nordestina a partir da tradição oral da região. Os folhetos de cordel com suas xilogravuras, comercializados nas feiras populares, ganham ares de história oficial para Quaderna. Eles apresentam danças, cavalhadas e mitologias locais, sobretudo as crenças sebastianistas, nas quais o narrador alicerça seu pretenso poder real. No entanto, essa estranha mitologia brasileira acontece também como procedimento essencialmente moderno, dentro de uma construção literária em que o centro é dado por um narrador que quer convencer o corregedor, os soldados, as damas e, por fim, o leitor de que é uma pessoa que viveu uma "terrível história de amor e de culpa; de sangue e de justiça; de sensualidade e violência; de enigma, de morte e disparate", e que merece o perdão de todos e, quem sabe, a sua redenção e a de seu povo.

Essa armação narrativa dos "romances" de Quaderna atualiza o século XX brasileiro, ligando tradição popular a uma forma de poder ancorada em mitos pré-burgueses. Trata-se de uma perspectiva similar à que o escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) dá forma no início da era moderna com Dom Quixote, ao contrapor o mundo da cavalaria e seus valores específicos em extinção e o nascente mundo burguês.

Suassuna se torna professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1956 e se aposenta em 1994. Em 1970, funda o movimento armorial, destinado à criação de uma arte erudita nordestina alicerçada nas raízes populares. Lança o Romance d'A pedra do reino e o príncipe do Sangue do Vai-e-Volta em 1971 e História d'O rei degolado / Ao sol da Onça Caetana em 1977. Atua como secretário de educação da prefeitura do Recife, em 1975, e assume a Secretaria Estadual de Cultura de Pernambuco, em 1995. Torna-se membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1989.

Com efervescente atuação intelectual, Ariano Suassuna é consagrado como um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea.

Espetáculos 66

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Exposições 5

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Fontes de pesquisa 13

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  • ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
  • ARIANO Suassuna. Texto Idelette Muzart Fonseca dos Santos, Wilson Martins, Carlos Newton Junior, Ligia Maria Pondé Vassallo, Millôr Fernandes, Marcos Vinicios Vilaça, Raduan Nassar; direção de edição Antonio Fernando De Franceschi; fotografia Eduardo Simões; colaboração Celso Furtado, Guel Arraes, Luiz Fernando Carvalho, Rogério Reis, Adam Sun, João Alexandre Barbosa, Maria Eugênia, Mariângela Alves de Lima, Rosana Tokimatsu, Marco Maciel, Moacyr Scliar, Luiz Santos. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2000. 203 p., il. p&b. (Cadernos de literatura brasileira, 10).
  • BRASIL, Ubiratan. Matrimônio inspirado no circo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23 ago. 2011. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,matrimonio-inspirado-no-circo,762259,0.htm >. Não catalogado
  • CARVALHO, Nelly. Ariano Professor. In: Linguagens da Vida. Recife: Universidade Federal de Pernambuco/Editora Universitária, 1998.
  • DOSSIÊ ARIANO SUASSUNA. Teatro e Cultura Popular. O Percevejo, ano 8, n. 8, Rio de Janeiro, 2000.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Júlia do Vale]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • GUIDARINI, Mário. Os pícaros e os trapaçeiros de Ariano Suassuna. São Paulo: Ateniense, 1992.
  • HELIODORA, Barbara. Quem é quem nas artes e nas letras no Brasil: parte teatro. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1966.
  • MAGALDI, Sábato. Apresentação do teatro brasileiro. Rio de Janeiro: Inacen/Funarte, 1962.
  • MORAES, Maria Thereza Didier de. Emblemas da Sagração Armorial: Ariano Suassuna e o Movimento Armorial (1970-1976). Recife: Universidade Federal de Pernambuco/Editora Universitária, 2000.
  • PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Debates, 211).
  • Programa do Espetáculo - A Pedra do Reino - 2006. Não catalogado
  • VICTOR, Adriana: LINS, Juliana. Ariano Suassuna. Um perfil biográfico. São Paulo: Jorge Zahar, 2007.

Como citar

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