Agostinho da Motta
![Fábrica do Barão de Capanema, ca. 1862 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/003416001019.jpg)
Fábrica do Barão de Capanema, 1862
Agostinho da Motta
Óleo sobre cartão, c.i.e.
34,00 cm x 51,00 cm
Texto
Agostinho José da Motta (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1824 – Idem, 1878). Pintor, litógrafo, professor. Apesar de pouco conhecido, a qualidade de sua obra é consenso entre pesquisadores. É o primeiro pintor brasileiro do século XIX a se dedicar à pintura de paisagem e de natureza-morta.
Matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), em 1837, aos 13 anos. A maior parte de sua produção artística é composta de paisagens e naturezas-mortas. Sua interpretação da paisagem brasileira está entre as que melhor traduzem os princípios da Aiba, no que diz respeito tanto à formação de uma imagem nacional quanto à formação da imagem do Império, por meio de retratos e de registros do cenário da época.
Em 1850, recebe o prêmio de viagem ao exterior, concedido pelas Exposições Gerais de Belas Artes. Essa é a única vez que uma tela de paisagem vence o prêmio durante o Império; os demais vencedores, nesse período, são nomes da pintura histórica. Reside em Roma, de 1851 a 1855, onde estuda com o pintor francês Jean-Achille Benouville (1815-1891), que tem grande influência sobre seu trabalho, e realiza algumas telas de paisagens, como Vista de Roma (ca. 1850).
De volta ao Brasil, em 1856, é um dos fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1857, pinta uma de suas principais obras: Paisagem do Rio de Janeiro. Também em 1857, passa a lecionar no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Atua ainda como professor na Aiba, entre 1859 e 1878, onde inicialmente dá aulas de desenho. Posteriormente ocupa a cadeira de pintura de paisagem.
Em 1858, pinta os retratos de corpo inteiro do casal imperial dom Pedro II (1825-1891) e dona Teresa Cristina (1822-1889), que, inclusive, regularmente faz encomendas de quadros ao pintor. Assim, apesar de sua produção se concentrar na pintura de paisagem, sua arte estava a serviço da coroa, tal qual a pintura histórica. Enquanto esta serve para criar uma imagem edificante do Império e reafirmar a monarquia em território nacional, as paisagens e as naturezas-mortas produzidas na Aiba reafirmam a ideia de um país exótico e de diversidade natural.
É um dos pintores que mais buscam retratar o caráter exótico da fauna e da flora brasileiras. Suas pinturas de flores – ele é um dos pioneiros do gênero no país – são calcadas nessa ideia de diversidade. Em cada tela, há uma grande variedade de espécies, dispostas de maneira a ressaltar as formas, as cores e a exuberância dessa flora.
O mesmo acontece, de modo ainda mais acentuado, em suas pinturas de frutas, tema mais comum em sua produção de naturezas-mortas. Embora certos artistas da Aiba, em especial Jean-Baptiste Debret (1768-1848), tenham aclimatado os ditames da academia francesa para o Brasil, a partir das pinturas de frutas de Motta é possível notar como o rigor formal importado da Europa predomina em quase toda a produção acadêmica da época. Essas pinturas ganham popularidade na corte, o que lhe rende comissões de muitos trabalhos. Predomina nelas mais uma vez a variedade de espécies: mangas, jacas, frutas-do-conde, pêssegos, carambolas, abacates, quase sempre recortadas de modo a exibir camadas e cores, em transições tonais em que o pintor aproveita para exibir seu domínio técnico de perspectiva e o uso competente das sombras para realçar o volume dos objetos.
De acordo com a historiadora Letícia Squeff, as pinturas de fruta de Motta têm proximidade com a obra do pintor holandês Albert Eckhout (1610-1666), na medida em que as frutas são retratadas abertas e em cores gritantes. Sua precisão descritiva é o que desperta os sentidos e, segundo a historiadora, chama a atenção para a fartura da terra. Apesar da influência de Eckhout e Debret, as pinturas de frutas do pintor brasileiro apresentam singularidades importantes. Entre elas, a autora destaca o fato de que as frutas não estão dispostas em uma mesa ou janela, mas no solo. Além disso, a abertura delas parece ter sido feita à força, como se tivessem caído do chão, o que confere um efeito de naturalidade. Essas características podem ser observadas na tela Mamão e melancia (1860).
São as paisagens, no entanto, o tema mais conhecido da obra do artista. São marcadas pela precisão topográfica, pelo registro exato das dimensões dos cenários – que o formalismo do artista, no que diz respeito à perspectiva, só faz por ressaltar – e pela competência com que capta as transposições entre as muitas cores que compõem os exteriores trabalhados. Paisagem do Rio de Janeiro é um exemplo claro de como os cenários escolhidos pelo pintor, embora representados dentro de todas as regras que dita o academicismo francês, entre eles o de paysage composé, conferem a seus quadros a dimensão de identidade nacional, que a Aiba reforça em seus alunos e o público aceita sem restrições.
Destaca-se também a tela Fábrica do Barão de Capanema (1862). Segundo Sonia Gomes Pereira, nessa obra o artista parece se afastar da concepção clássica de paisagem composta, não só pela forma como o quadro se estrutura (sua composição), mas pela própria temática. O foco é uma construção sobre pedras, em tom mais claro, com a vegetação mais escura ao fundo. Além disso, o céu quase não aparece e a luz, segundo a autora, provoca um efeito mais natural. Em 1872, é condecorado pelo imperador dom Pedro II com o título de oficial da Ordem da Rosa.
A pintura de Agostinho da Motta demonstra que, durante o Império, mesmo com a prevalência do academicismo da Aiba, há espaço para a construção de valores estéticos próprios que comporiam uma ideia de brasilidade, evidenciando a importância desse artista para a pintura nacional.
Obras 6
Fábrica do Barão de Capanema
Mamão e Melancia
Melão e Ananás
Natureza-Morta
Natureza-Morta
Exposições 31
Fontes de pesquisa 15
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- FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
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Como citar
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AGOSTINHO da Motta.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa22177/agostinho-da-motta. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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