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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Agostinho da Motta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 18.10.2024
18.06.1824 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
21.08.1878 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Eduardo Castanho/Itaú Cultural

Fábrica do Barão de Capanema, 1862
Agostinho da Motta
Óleo sobre cartão, c.i.e.
34,00 cm x 51,00 cm

Agostinho José da Motta (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1824 – Idem, 1878). Pintor, litógrafo, professor. Apesar de pouco conhecido, a qualidade de sua obra é consenso entre pesquisadores. É o primeiro pintor brasileiro do século XIX a se dedicar à pintura de paisagem e de natureza-morta. 

Texto

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Agostinho José da Motta (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1824 – Idem, 1878). Pintor, litógrafo, professor. Apesar de pouco conhecido, a qualidade de sua obra é consenso entre pesquisadores. É o primeiro pintor brasileiro do século XIX a se dedicar à pintura de paisagem e de natureza-morta. 

Matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), em 1837, aos 13 anos. A maior parte de sua produção artística é composta de paisagens e naturezas-mortas. Sua interpretação da paisagem brasileira está entre as que melhor traduzem os princípios da Aiba, no que diz respeito tanto à formação de uma imagem nacional quanto à formação da imagem do Império, por meio de retratos e de registros do cenário da época. 

Em 1850, recebe o prêmio de viagem ao exterior, concedido pelas Exposições Gerais de Belas Artes. Essa é a única vez que uma tela de paisagem vence o prêmio durante o Império; os demais vencedores, nesse período, são nomes da pintura histórica. Reside em Roma, de 1851 a 1855, onde estuda com o pintor francês Jean-Achille Benouville (1815-1891), que tem grande influência sobre seu trabalho, e realiza algumas telas de paisagens, como Vista de Roma (ca. 1850). 

De volta ao Brasil, em 1856, é um dos fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1857, pinta uma de suas principais obras: Paisagem do Rio de Janeiro. Também em 1857, passa a lecionar no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Atua ainda como professor na Aiba, entre 1859 e 1878, onde inicialmente dá aulas de desenho. Posteriormente ocupa a cadeira de pintura de paisagem.

Em 1858, pinta os retratos de corpo inteiro do casal imperial dom Pedro II (1825-1891) e dona Teresa Cristina (1822-1889), que, inclusive, regularmente faz encomendas de quadros ao pintor. Assim, apesar de sua produção se concentrar na pintura de paisagem, sua arte estava a serviço da coroa, tal qual a pintura histórica. Enquanto esta serve para criar uma imagem edificante do Império e reafirmar a monarquia em território nacional, as paisagens e as naturezas-mortas produzidas na Aiba reafirmam a ideia de um país exótico e de diversidade natural.

É um dos pintores que mais buscam retratar o caráter exótico da fauna e da flora brasileiras. Suas pinturas de flores – ele é um dos pioneiros do gênero no país – são calcadas nessa ideia de diversidade. Em cada tela, há uma grande variedade de espécies, dispostas de maneira a ressaltar as formas, as cores e a exuberância dessa flora. 

O mesmo acontece, de modo ainda mais acentuado, em suas pinturas de frutas, tema mais comum em sua produção de naturezas-mortas. Embora certos artistas da Aiba, em especial Jean-Baptiste Debret (1768-1848), tenham aclimatado os ditames da academia francesa para o Brasil, a partir das pinturas de frutas de Motta é possível notar como o rigor formal importado da Europa predomina em quase toda a produção acadêmica da época. Essas pinturas ganham popularidade na corte, o que lhe rende comissões de muitos trabalhos. Predomina nelas mais uma vez a variedade de espécies: mangas, jacas, frutas-do-conde, pêssegos, carambolas, abacates, quase sempre recortadas de modo a exibir camadas e cores, em transições tonais em que o pintor aproveita para exibir seu domínio técnico de perspectiva e o uso competente das sombras para realçar o volume dos objetos.

De acordo com a historiadora Letícia Squeff, as pinturas de fruta de Motta têm proximidade com a obra do pintor holandês Albert Eckhout (1610-1666), na medida em que as frutas são retratadas abertas e em cores gritantes. Sua precisão descritiva é o que desperta os sentidos e, segundo a historiadora, chama a atenção para a fartura da terra. Apesar da influência de Eckhout e Debret, as pinturas de frutas do pintor brasileiro apresentam singularidades importantes. Entre elas, a autora destaca o fato de que as frutas não estão dispostas em uma mesa ou janela, mas no solo. Além disso, a abertura delas parece ter sido feita à força, como se tivessem caído do chão, o que confere um efeito de naturalidade. Essas características podem ser observadas na tela Mamão e melancia (1860). 

São as paisagens, no entanto, o tema mais conhecido da obra do artista. São marcadas pela precisão topográfica, pelo registro exato das dimensões dos cenários – que o formalismo do artista, no que diz respeito à perspectiva, só faz por ressaltar – e pela competência com que capta as transposições entre as muitas cores que compõem os exteriores trabalhados. Paisagem do Rio de Janeiro é um exemplo claro de como os cenários escolhidos pelo pintor, embora representados dentro de todas as regras que dita o academicismo francês, entre eles o de paysage composé, conferem a seus quadros a dimensão de identidade nacional, que a Aiba reforça em seus alunos e o público aceita sem restrições.

Destaca-se também a tela Fábrica do Barão de Capanema (1862). Segundo Sonia Gomes Pereira, nessa obra o artista parece se afastar da concepção clássica de paisagem composta, não só pela forma como o quadro se estrutura (sua composição), mas pela própria temática. O foco é uma construção sobre pedras, em tom mais claro, com a vegetação mais escura ao fundo. Além disso, o céu quase não aparece e a luz, segundo a autora, provoca um efeito mais natural. Em 1872, é condecorado pelo imperador dom Pedro II com o título de oficial da Ordem da Rosa.

A pintura de Agostinho da Motta demonstra que, durante o Império, mesmo com a prevalência do academicismo da Aiba, há espaço para a construção de valores estéticos próprios que comporiam uma ideia de brasilidade, evidenciando a importância desse artista para a pintura nacional.

 

Obras 6

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Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Natureza-Morta

Óleo sobre tela

Exposições 31

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Fontes de pesquisa 15

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • BERGER, Paulo (org.). Pinturas e pintores do Rio antigo. Apresentação de Sérgio Sahione Fadel. Textos de Paulo Berger, Herculano Gomes Mathias e Donato Mello Júnior. Rio de Janeiro: Kosmos, 1990.
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MARTINS, Carlos (org.). Revelando um acervo: coleção brasiliana. São Paulo: BEI Comunicação, 2000. (Brasiliana).
  • MORALES DE LOS RIOS FILHO, Adolfo. Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira. Rio de Janeiro: Noite, 1941.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • PEREIRA, Sonia Gomes. Paisagem e academia: a pintura de Agostinho José da Mota. In: COLÓQUIO DO COMITÊ BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA ARTE, 33., 2013, Rio de Janeiro. Arte e suas instituições [...]. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013. p. 445-464. Disponível em: http://www.cbha.art.br/coloquios/2013/anais/pdfs/s3_soniagomes.pdf. Acesso em: 27 out. 2023.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • SQUEFF, Letícia. A natureza-morta eloquente de Agostinho José da Motta: belas-artes e literatura no Segundo Reinado. Teresa, n. 12-13, p. 483-495, 2013. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/teresa/article/view/99416. Acesso em: 27 out. 2023.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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