Grupo Grimm
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Definição
Entre os anos de 1884 e 1886 um grupo de sete jovens artistas encontra-se regularmente para pintar nas praias e arredores da cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do artista alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O grupo, posteriormente conhecido como "Grupo Grimm", é formado pelos pintores Antônio Parreiras (1860 - 1937), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), França Júnior (1838 - 1890), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892) e o pintor alemão Thomas Driendl (1849 - 1916), que por vezes substitui o mestre. Sua atuação caracteriza-se pela pintura de paisagem ao ar livre e tem origem na própria Academia Imperial de Belas Artes - Aiba do Rio de Janeiro. Georg Grimm, pintor bávaro que chega ao Brasil no final dos anos 1870 do século XIX, após cursar a Academia de Munique, é um dos motivadores da valorização da pintura de paisagem como gênero autônomo e incentivador da pintura de observação direta da natureza na história da arte brasileira.
Em 1882, Grimm conhece um relativo sucesso no meio artístico carioca com uma exposição de 128 quadros de sua autoria. Suas vistas de cores fortes e luminosas de diversas partes do mundo logo causam impacto num ambiente acanhado, acostumado com as tintas pálidas da maior parte dos paisagistas da época. O artista é então convidado, por membros da família imperial e a contragosto da Aiba, a ocupar a cadeira de "paisagem, flores e animais", em substituição a Victor Meirelles (1832 - 1903) e Zeferino da Costa (1840 - 1915). A primeira providência do mestre é ministrar suas aulas fora dos recintos da instituição. Até então, a pintura de paisagem é realizada dentro do ateliê, assim como a pintura histórica. Grimm exige que seus alunos pintem a partir do estudo exaustivo do motivo in loco, pois apenas dessa forma é possível evitar ou minimizar a ação dos modelos estéticos consagrados pelo ensino oficial, liberando o olho do artista para a percepção e expressão naturalista da paisagem.
Passa a trabalhar com seus alunos nos recantos que escolhia, em plena natureza, o que não foi aceito pela Aiba. Em 1884, tanto Grimm como Caron, Castagneto, Driendl, França Júnior e Garcia y Vasquez são premiados na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. Contudo, a incompatibilidade entre seu método de ensino e o empregado pelo ensino oficial faz com que o artista não renove seu contrato. Muda-se para Niterói e ministra suas aulas ao ar livre. Os alunos o seguem, abandonando a vida escolar.
Apesar do viés naturalista da produção de Grimm, nota-se que suas pinturas atestam os resquícios de uma formação rígida, muitas vezes limitada pelos padrões que gostaria de abolir. Em seus quadros a carência de emotividade é compensada pela reprodução fiel e detalhista de todos os aspectos da paisagem. Neste sentido, talvez sua importância seja maior como professor do que como artista. Entre seus alunos, destacam-se Castagneto e Parreiras. Garcia y Vasquez é o melhor paisagista na opinião do mestre. Contudo sua produção é limitada por períodos de instabilidade emocional que levam ao suicídio do artista. Nota-se que no início todos, inclusive Castagneto, foram extremamente influenciados pela obra do mestre, a ponto do crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comentar que "foram sete discípulos que, pela maneira de sentir e interpretar a natureza, pela maneira de traçar e usar das tintas, deram sete Grimms".
Sobre as conseqüências da atuação de Grimm, considera-se que a mais importante é ter chamado a atenção para a pintura de paisagem. Sobre seus métodos de ensino, parece que a Aiba esperaria ainda vários anos para passar por um processo de renovação. Aliás, como observa o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), o ensino de paisagem foi extinto em 1890, posto que os professores se negavam a levar os alunos a trabalhar ao ar livre. O grupo de Niterói se dispersa por volta de 1886 quando o mestre se muda para Teresópolis. Caron, Castagneto e Garcia y Vasquez passam uma temporada na Europa que serve para deixar seus trabalhos mais comportados do que propriamente levá-los ao impressionismo. Ao que tudo indica, eles não tiveram contato com os impressionistas em suas estadas européias, preferindo o ateliê de pintores mais acadêmicos como o pintor francês Hector Hanoteau (1823 - 1890). Castagneto, o que parece ir mais longe na busca pela expressão livre da paisagem, sobretudo marinhas, parece não fazer discípulos na época. Parreiras, o mais bem-sucedido do grupo, dedica-se às pinturas históricas e de nus já como professor da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Retorna à paisagem e a potência dos primeiros trabalhos só no final dos anos 1930 do século XX.
Fontes de pesquisa 5
- BARATA, Mário. A arte no século XIX: do neoclassicismo e romantismo até o ecletismo. In: ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983.
- CAMPOFIORITO, Quirino. A Proteção do Imperador e os pintores do Segundo Reinado: 1850 - 1890. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. 80 p., il. color. (História da pintura brasileira no século XIX, 4).
- DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira: pintura e esculptura. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. (Arte: ensaios e documentos).
- LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm. In: SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981, p. 56-71.
- LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980.
Como citar
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GRUPO Grimm.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo537095/grupo-grimm. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7