Iole de Freitas

Sem Título, 1993
Iole de Freitas
Estanho, cobre e latão
250,00 cm x 240,00 cm
Coleção Gilberto Chateaubriand - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ)
Texto
Iole Antunes de Freitas (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1945). Escultora, gravadora, artista multimídia. A obra de Iole de Freitas privilegia a constante experimentação de representar o corpo no espaço, ora pensando-os como dois elementos distintos que se relacionam, ora como elementos que se entrelaçam formando um só objeto artístico.
Aos seis anos de idade, a artista se muda para o Rio de Janeiro. Entra em contato com a arte de vanguarda por meio de sua formação em dança contemporânea, ainda na juventude. Aos 19 anos, em 1964, ingressa na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro, onde cursa design até 1965. Em 1970, muda-se para Milão, que, à época, destaca-se como o centro artístico da Europa, lugar no qual surgem práticas artísticas inovadoras que constituem a arte contemporânea. Lá, Iole trabalha como designer no Corporate Image Studio, da Olivetti, sob orientação do arquiteto alemão Hans Von Klier (1934-2000), até 1971.
É nesse ambiente de livre experimentação que a artista inicia sua carreira nas artes plásticas. A longa experiência em dança é determinante nos primeiros trabalhos, em que explora sua própria imagem, tendo o corpo como objeto de investigação. Em fotografias e filmes em Super-8, Iole capta gestos e ações de seu corpo em movimento, refletido em superfícies diversas (vidro, tecido, parede, espelho). Explora sua relação com o espaço, dando-o a conhecer de maneira nada óbvia, fragmentada, muitas vezes em composições. A sequência fotográfica Spectro, produzida em 1972, por exemplo, expõe a sombra de seu corpo, em diferentes posições, refletida na parede. Já Glass pieces, life slices (1975) consiste em uma fotografia de outras fotografias (que registram partes do corpo de Iole) dispostas em fundo de tecido, entre cacos de vidro. Do lado esquerdo, é possível ver parte do rosto da artista e sua mão, que segura uma faca.
No início dos anos 1980, passa a se dedicar ao campo tridimensional, produzindo relevos. A relação entre corpo e espaço continua sendo explorada. O objeto de investigação deixa de ser seu próprio corpo para ser outros corpos, tecidos e construídos pela artista. Considerando elementos centrais à arte da escultura, como peso e gravidade, Iole de Freitas testa diferentes materiais na produção de suas esculturas, como arame, fios, tubos, panos e telas metálicas. A série Aramões (1984), composta de estruturas cerradas de fios, tubos, serras e tecidos, é a obra mais representativa dessa fase da artista. Segundo o crítico de arte Rodrigo Naves (1955), nelas "a fragmentação que aparecia nas fotografias adquire um aspecto novo, mais denso e significativo (...) As questões da obra encontram uma expressão mais direta e plástica, sem a necessidade de referência literal ao corpo humano"1. Em 1986, recebe a Bolsa Fulbright-Capes para pesquisa no Museum of Modern Art (MoMA) [Museu de Arte Moderna], em Nova York. Retorna ao Brasil e, no período de 1987 a 1989, atua como diretora do Instituto Nacional de Artes Plásticas da Fundação Nacional de Artes (Funarte), no Rio de Janeiro.
As esculturas produzidas pela artista “extravasam o próprio corpo” e passam a se apropriar dos espaços em que se instalam. A relação entre arquitetura e escultura começa a se destacar em sua obra. Na década de 1990, produz peças de grandes dimensões, algumas delas projetadas para locais específicos, como a Capela do Morumbi, em São Paulo, e o Galpão Embra, em Belo Horizonte. Essas obras revelam o diálogo com o espaço expositivo e seus elementos arquitetônicos. Em 1996, as telas metálicas são distribuídas diretamente no espaço de exposição, sem envolver estruturas. No ano seguinte, trabalhos com tela de metal vazada e ardósia integram a sua retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.
A produção de peças em grandes dimensões demanda a busca por novos materiais. A artista passa a trabalhar, então, com placas semitransparentes de policarbonato, que garantem a leveza e a fluidez das obras, estruturadas por tubos de aço inox. Sua escultura ganha um novo aspecto, com formas sinuosas mais intensas, que tentam atribuir nova dinâmica ao local onde estão instaladas. A instalação realizada na Pinacoteca de São Paulo, em 2010, é um exemplo dessa produção. Nela, cinco placas translúcidas e retorcidas de policarbonato, suspensas por barras de aço, cortam o vão do pátio interno entre os blocos do museu, contrastando com eles, sem, contudo, comprometer suas características arquitetônicas. De acordo com a própria artista, nessa obra “os elementos vão atravessando o espaço, preenchendo-o com novas curvaturas e linhas. Com a incidência da luz, formam novos ambientes que oferecem múltiplas possibilidades estéticas e espaciais não só através do olhar, mas também pelo deslocamento do próprio corpo”2.
A obra de Iole de Freitas se destaca pelo movimento constante e coeso de corpo que se transforma sem perder sua essência. A fluidez com que a artista integra objeto e espaço, além de sua inquietação experimentativa, confere-lhe o status de um dos grandes nomes da escultura brasileira.
Notas
1. NAVES, Rodrigo. Entre lugar e passagem. In: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias.
2. FREITAS, Iole de. Instalação (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2009). Site Oficial da Artista. Disponível em: https://www.ioledefreitas.com.br/pinacoteca. Acesso em: 27 jun. 2022.
Obras 9
Aramão 4
Colunas
Sem Título
Sem Título
Sem Título
Exposições 227
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18/6/1973 - 23/6/1973
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28/11/1973 - 12/12/1973
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Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 21
- 10 escultores. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1989. [12] p., il. p&b.
- ARTE contemporânea: uma história em aberto. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 2004. [32] p., il. color.
- CHIARELLI, Tadeu. Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999.
- CHIARELLI, Tadeu. Artista coreografa formas espaciais: Iole de Freitas. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 set. 1994. Caderno 2, p. D2.
- ENTRE o desenho e a escultura. São Paulo: MAM, 1995. 32p. il. color.
- FREITAS, Iole de. Expansão. Coordenação Márcio Gobbi. Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003.
- FREITAS, Iole de. Harmonia dos mistos. Texto Esther Emilio Carlos. São Paulo: Foto Galeria Fotóptica, 1982. folha dobrada, il. p.b.
- FREITAS, Iole de. Iole de Freitas. Texto Paulo Venancio Filho, Rodrigo Naves; versão em inglês Stephen Berg. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1994. 48 p., il. color.
- FREITAS, Iole de. Iole de Freitas. Texto Paulo Venancio Filho. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 1990. folha dobrada, il. color.
- FREITAS, Iole de. Iole de Freitas. Texto de Paulo Sérgio Duarte. Rio de Janeiro: Galeria Paulo Klabin, 1987.
- FREITAS, Iole de. Iole de Freitas: esculturas. Coordenação Maria Clara Rodrigues; texto Paulo Venancio Filho. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1992. [16 p.], il. color.
- FREITAS, Iole de. O Corpo da escultura: a obra de Iole de Freitas 1972-1997. São Paulo: MAM, 1997. 48 p., il. p&b. color.
- FREITAS, Iole de. Spectro, 1972. Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo. Disponível em: https://mam.org.br/acervo/1998-010-000-freitas-iole-de/. Acesso em: 27 jun. 2022.
- FREITAS, Iole de. Uns nadas. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 2004.
- IOLE de Freitas. Galeria Raquel Arnaud. São Paulo. Disponível em: https://raquelarnaud.com/artistas/iole-de-freitas-2/. Acesso em: 27 jun. 2022.
- MATSUMOTO, Marli (coord.). 12 Esculturas. São Paulo: Gabinete de Arte Raquel Arnaud, 2002. 1 folha dobrada, il. color.
- MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte contemporânea. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso; tradução Arnaldo Marques, Ivone Castilho Benedetti, Izabel Murat Burbridge, Katica Szabó, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
- O MODERNO e o contemporâneo na arte brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand do Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro. Curadoria Agnaldo Farias; versão em inglês Ann Puntch. São Paulo: MASP, 1998.
- PRECURSOR e pioneiros contemporâneos. Curadoria Vitória Daniela Bousso; texto crítico Annateresa Fabris; tradução Izabel Murat Burbridge, Doris Hefti. São Paulo, 1997. 52 p., il. color.
- ROELS JR. , Reynaldo. Iole de Freitas. Galeria: Revista de Arte, São Paulo, n. 19, p. 38-42, 1990.
- SILVEIRA, Dôra (Coord.). Espelho da Bienal. Curadoria Ruben Breitman; versão em inglês Jullan Smyth; texto Mário Pedrosa e Paulo Reis; apresentação Italo Campofiorito. Niterói: MAC-Niterói, 1998. [16] p., 11 cartões-postais.
Como citar
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IOLE de Freitas.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9002/iole-de-freitas. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7