Antonio Gomide
![Bailarinas, 1946 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/011601001019.jpg)
Bailarinas, 1946
Antonio Gomide
Óleo sobre tela, c.i.d.
38,00 cm x 46,00 cm
Texto
Antônio Gonçalves Gomide (Itapetininga, São Paulo, 1895 – Ubatuba, São Paulo, 1967). Pintor, escultor, decorador e cenógrafo. Antônio Gomide se destaca pela diversidade técnica realiza pinturas a óleo, aquarelas, desenhos, afrescos, cartões para vitrais e projetos decorativos. Apesar de pouco lembrado, é considerado um artista fundamental para o modernismo brasileiro pelo caráter versátil e inovador de sua obra, além de ser um dos precursores da arte decorativa no Brasil.
Muda-se com a família para a Suíça em 1913 e frequenta a Academia de Belas Artes de Genebra até 1918, onde estuda com os artistas suíços Eugène Gilliard (1861-1921) e Ferdinand Hodler (1853-1918). Viaja para a França na década de 1920 e trabalha com o pintor francês Marcel Lenoir (1872-1931), com quem aprende a técnica do afresco. De 1924 a 1926, com um ateliê em Paris, conhece pintores ligados ao cubismo e a outros movimentos de vanguarda, como o art déco.
Um exemplar desse estilo na obra de Gomide é o quadro Retrato de Vera Azevedo (1920), que, na opinião da crítica Maria Alice Milliet, representa a assimilação máxima do art déco no Brasil, pelo caráter altamente estilizado. Já os quadros Paisagem com barcos e Ponte de Saint-Michel (ambos de 1923) revelam a geometrização e a simplificação formal cubistas, aliados a uma paleta com suaves passagens de tons que remete ao pintor francês Paul Cézanne (1839-1906).
Algumas obras de Gomide revelam ainda afinidades estilísticas com a produção de Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) e Victor Brecheret (1894-1955), artistas com os quais o pintor convive em sua estada em Paris. Uma das mais conhecidas é Cristo (1925), em que permanece o trabalho com volumes, do cubismo, mas exclusivamente de formas circulares, ovais e cilindrícas. Num jogo de luz e sombra, a composição de diferentes planos geométricos articulados produz uma distorção da forma, resultando no que Aracy do Amaral (1930) chamou de “falsa escultura”1
O tema religioso aparece também em outras obras, inclusive em formatos diferentes. De volta ao Brasil em 1929, o artista passa a fazer cerâmicas, tapeçarias e vitrais para igrejas. Uma dessas obras é o afresco Santa Ceia (1933-1934), no qual retoma a técnica aprendida com Lenoir, na França, e reinterpreta elementos da arte renascentista. Elvira Vernashi, autora do livro Gomide (1989), que compila a vida e obra do pintor, afirma que o artista passa a produzir trabalhos de cunho religioso por sugestão de amigos, para atingir um público comprador sem, contudo, perder de vista a qualidade estética.
A produção de Antônio Gomide nas artes decorativas vai além dos objetos de temática religiosa. Com trabalho inovador, atua como artista-decorador em diversos projetos em São Paulo. Realiza parcerias com o arquiteto modernista Gregori Warchavchik (1896-1972) e os artistas Regina Graz (1897-1973) e John Graz (1891-1980). Ao lado desses dois, é considerado um dos introdutores do estilo art déco no Brasil.
A partir do final da década de 1940, o artista se concentra em pintar figuras femininas, especialmente as mulheres de origem afro. São nus e cenas de dança representadas por meio de diferentes técnicas, mas com um elemento comum: a sensualidade – expressa por meio das cores, que se contrastam entre suaves e fortes, e da voluptuosidade das figuras. Nas pinturas de danças, predomina o ritmo, mais do que a fidelidade às linhas e formas. De acordo com Elvira Vernashi, Gomide busca “captar o caráter da religiosidade afro do nosso povo"2. São exemplos dessa fase as obras Roda de samba (1954) e Cena de samba (1956).
Apesar da intensa produção artística, seu papel no desenvolvimento da arte moderna brasileira é pouco lembrado. Ainda que não tenha participado da Semana de 22, sua obra tem consonância com os princípios estéticos dos principais movimentos de vanguarda do início do século XX. O curador Walter Zanini (1925-2013), responsável pela primeira exposição retrospectiva do artista, realizada em 1968 no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade São Paulo (USP), refere-se ao pintor como “o impossível omitido da história do nosso modernismo”3. À época, como diretor do museu, Zanini realiza uma grande aquisição de obras do artista, a fim de constituir um acervo para pesquisa. A relevância de Antônio Gomide é reconhecida também por Mário de Andrade (1893-1945), que, em exposição de 1927.
É essencial conhecer Antônio Gomide e reconhecer seu papel na constituição da cultura brasileira, afinal, o artista e sua obra trazem muitos traços de brasilidade, como a inventividade, a pluralidade e a versatilidade. Caracteriza-se, assim, como um nome de relevo das artes plásticas no Brasil.
Obras 42
A Samaritana
Amazonas
Árvores
Aspectos de São Paulo
Auto-Retrato
Exposições 174
Exposições virtuais 1
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21/8/2022 - 24/6/2021
Fontes de pesquisa 19
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Como citar
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ANTONIO Gomide.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa5781/antonio-gomide. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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