Victor Brecheret
![Figura, déc. 40 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/008892001019.jpg)
Figura, 0040
Victor Brecheret
Terracota
56,00 cm x 17,00 cm
Acervo Itaúsa S.A.
Texto
Vittorio Brecheret (Farnese, Itália, 18941 – São Paulo, Brasil, 1955). Escultor. O artista é um dos precursores do movimento modernista brasileiro nas artes. Sua obra é marcada pela busca incessante de diferentes técnicas da escultura, do mármore à terracota, e de temas relevantes da cultura nacional.
Inicia sua formação artística em 1912, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), onde estuda desenho, modelagem e entalhe em madeira. Em 1913, viaja para Roma e torna-se discípulo de Arturo Dazzi (1881-1966), escultor italiano que se destaca pelo gosto por figuras monumentais elaboradas com grande síntese formal. Em Roma, estuda atentamente as obras de Auguste Rodin (1840-1917), considerado o precursor da escultura moderna, e se aproxima de seu naturalismo. Conhece também o escultor croata Ivan Mestrovic (1883-1962), cuja linguagem dramática e heroica fascina Brecheret e o influencia. Ainda na Itália, participa de algumas mostras coletivas e recebe destaques da crítica.
Quando retorna a São Paulo, em 1919, já é um escultor com amplo domínio técnico. Improvisa um ateliê em espaço cedido pelo engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928) no Palácio das Indústrias. É descoberto por modernistas como Di Cavalcanti (1897-1976), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), que passam a divulgar sua obra.
São de 1919 as esculturas Ídolo e Eva, que apresentam um tratamento naturalista da anatomia e uma contida dramaticidade, expressa por meio de torções do corpo e de volumes trabalhados em luz e sombras acentuadas. Mário de Andrade denomina esse período da obra de Brecheret (em oposição à época posterior, em Paris) de fase de sombras, na qual estas sempre se valorizam mais do que a luz. Em 1920 o escultor realiza a maquete para o Monumento às Bandeiras, no qual evoca a saga dos bandeirantes na conquista de novas terras. No ano seguinte, recebe bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e viaja para Paris.
Embora ausente, participa da Semana de Arte Moderna de 1922 com 12 esculturas de diferentes dimensões e materiais. Entre as peças está a famosa Cabeça de Cristo (nº 7), mais conhecida como Cristo de Trancinhas, obra em bronze polido de uma cabeça com expressão funérea e a boca semiaberta, emoldurada por duas tranças. De acordo com Daisy Peccinini, a escultura, que pertence a Mário de Andrade, causa polêmica na época e inspira este autor na escrita de Paulicéia Desvairada (1922).
Em Paris, Brecheret busca fundir três fontes de maneira pessoal: a ênfase ao volume geométrico da escultura cubista, o tratamento sintético da forma dado pelo escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e a estilização elegante do art déco. A convergência dessas matrizes pode ser percebida em Tocadora de Guitarra (1923). Nessa fase, o escultor reduz a dramaticidade vista em suas obras anteriores, produzindo formas simplificadas e de forte cunho ornamental.
A escultura Mise au Tombeau [O Sepultamento], de 1923 – no Cemitério da Consolação, em São Paulo – é uma das obras de maior destaque de seu período francês. Organizada em formas lineares, tem uma suavidade melódica, e o tema é tratado com muita simplificação formal, evocando um clima de grande serenidade.
Em 1936, depois de tantos anos alternando sua estada entre França e Brasil, Victor Brecheret fixa-se em São Paulo, onde recebe encomendas de esculturas públicas e também de trabalhos com temas religiosos. Retoma o projeto do Monumento às Bandeiras, concluído apenas em 1953. A obra se destaca pelas figuras elaboradas com grande síntese formal, pela preocupação com os volumes e pela simplificação dos detalhes e linhas estilizadas. O monumento consegue resumir o apelo narrativo e alegórico do tema: em sua composição convergem uma forte marcação horizontal e um movimento de arrasto que culmina na figura da Glória, que enfeixa heroicamente todo o grupo escultórico. O tratamento da superfície é mais áspero, se comparado ao de obras anteriores, enfatizando a matéria.
A partir da década de 1940, o artista se aproxima dos temas ligados à cultura indígena, em esculturas realizadas em bronze ou terracota. Nessa fase, em que alcança o ponto alto de sua carreira, também trabalha com pedras de formas circulares, nas quais interfere realizando suaves incisões, como nas obras Luta da Onça ou Índia e o Peixe (1947/1948). Nestas, evoca o caráter sagrado ou mágico das pedras e retoma, assim, de maneira muito pessoal, formas e arquétipos indígenas, ainda que se aproxime da escultura do inglês Henry Moore (1898-1986) e do alemão Hans Arp (1886-1966). Em trabalhos como Luta dos Índios Kalapalos (1951) produz formas nas quais dialoga com a abstração. Em Índio e Suassuapara (1951), o artista parte de dois volumes que se aglutinam e trabalha superfícies vazias ou cheias, nas quais se inserem incisões.
Variando entre a intensa dramaticidade de corpos e rostos e a simplicidade das formas, Victor Brecheret contribui para a constituição de uma arte autenticamente brasileira, ainda que com influências externas importantes. Sua obra vasta e diversificada tecnicamente revela uma história nacional, cuja identidade poética se traduz em um caráter de síntese formal e requintada simplicidade.
Nota
1. Segundo a historiadora Daisy Peccinini, biógrafa de Victor Brecheret, embora existam documentos que apontem São Paulo como local de nascimento, o escultor nasceu na Itália e migrou para o Brasil aos 9 anos de idade em companhia de um tio materno.
Obras 1
Figura
Exposições 261
Links relacionados 3
Fontes de pesquisa 28
- A FIGURA feminina no acervo do MAB. Curadoria José Luis Hernandez Alfonso. São Paulo: MAB, [199-?].
- ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Catálogo crítico da obra de Victor Brecheret. 1969. Monografia - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1969.
- AMARAL, Aracy. Victor Brecheret. In: _______. Artes plásticas na Semana de 22. 5. ed. São Paulo, SP: Editora 34, 1998. 335 p., p.246-248.
- ASSIS, Célia de (coord.). Monumentos urbanos: obras de arte na cidade de São Paulo. São Paulo: Prêmio, 1998.
- BATISTA, Marta Rossetti. Bandeiras de Brecheret: história de um monumento: 1920 - 1953. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1985.
- BATISTA, Marta Rossetti. Os Artistas brasileiros na Escola de Paris: anos 20. 1987. 265 f. Tese (Doutorado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 1987.
- BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
- BORGES, Beatriz. Os trabalhadores deixados pelo escultor Victor Brecheret. El País Brasil, 21 fev. 2014. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/21/cultura/1393021114_061561.html. Acesso em: 30 maio 2020.
- BRASIL Europa: encontros no século XX. Curadoria Marc Pottier, Jean Boghici. Brasília: Caixa Cultural, 2000.
- BRECHERET, Victor. A Arte sacra de Brecheret. Curadoria Emanoel Araújo. São Paulo: Museu de Arte Sacra, 2000.
- BRECHERET, Victor. Exposição comemorativa do 20º aniversário de falecimento. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1976.
- BRECHERET, Victor. Exposição retrospectiva de Victor Brecheret. São Paulo: MAB, 1969.
- BRECHERET, Victor. Programa municipal de preservação e divulgação da arte escultórica: primeira metade do século XX. Curitiba: Prefeitura, 1996.
- BRECHERET, Victor. Tributo a Brecheret: a cidade e o atelier: o escultor de São Paulo. Curadoria Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1994.
- BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: 100 anos. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1994.
- BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: 1894 - 1955. Rio de Janeiro: Revan, 1989.
- BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: esculturas e desenhos. São Paulo: Galeria Millan, 1986.
- BRITO, Mário da Silva. História do modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, INL, 1971. 322 p. (Vera Cruz. Série literatura brasileira, 63).
- FABRIS, Annateresa. O múltiplo de Brecheret. Piracema, Rio de Janeiro, v. 4, p. 88-95, 1995. Quadrimestral.
- Fundação Escultor Victor Brecheret. São Paulo, 2006. Disponível em: < http://www.victor.brecheret.nom.br/index.html >.
- MELLO, César Luís Pires de (org.). Brecheret: edição comemorativa. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Marca D'Água, 1989.
- MILLIET, Maria Alice. Tendências construtivas e os limites da linguagem plástica. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte moderna. Organização Nelson Aguilar; coordenação Suzanna Sassoun; tradução Izabel Murat Burbridge, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
- MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet - 1948 - 1949. 2.ed. São Paulo: Martins, 1981.
- MODERNIDADE: arte brasilieira do século XX. Prefácio Celso Furtado; apresentação Pierre Dossa; texto crítico Aracy Amaral, Roberto Pontual. Paris: Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, 1988. 352 p.
- PECCININI, Daisy. Brecheret e a semana. Revista USP, São Paulo, n. 94, p. 39-48, jun./ago. 2012. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/45024/48636. Acesso em: 30 maio 2020.
- PELLEGRINI, Sandra Brecheret (org.). Brecheret: 60 anos de notícia. São Paulo: [s.n.], 1976.
- TRIDIMENSIONALIDADE: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999.
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
VICTOR Brecheret.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1634/victor-brecheret. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7