Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Victor Brecheret

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
22.02.1894 Brasil / São Paulo / São Paulo
17.12.1955 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Caio Kauffmann/Itaú Cultural

Figura, 0040
Victor Brecheret
Terracota
56,00 cm x 17,00 cm
Acervo Itaúsa S.A.

Vittorio Brecheret (Farnese, Itália, 18941 – São Paulo, Brasil, 1955). Escultor. O artista é um dos precursores do movimento modernista brasileiro nas artes. Sua obra é marcada pela busca incessante de diferentes técnicas da escultura, do mármore à terracota, e de temas relevantes da cultura nacional.

Texto

Abrir módulo

Vittorio Brecheret (Farnese, Itália, 18941 – São Paulo, Brasil, 1955). Escultor. O artista é um dos precursores do movimento modernista brasileiro nas artes. Sua obra é marcada pela busca incessante de diferentes técnicas da escultura, do mármore à terracota, e de temas relevantes da cultura nacional.

Inicia sua formação artística em 1912, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), onde estuda desenho, modelagem e entalhe em madeira. Em 1913, viaja para Roma e torna-se discípulo de Arturo Dazzi (1881-1966), escultor italiano que se destaca pelo gosto por figuras monumentais elaboradas com grande síntese formal. Em Roma, estuda atentamente as obras de Auguste Rodin (1840-1917), considerado o precursor da escultura moderna, e se aproxima de seu naturalismo. Conhece também o escultor croata Ivan Mestrovic (1883-1962), cuja linguagem dramática e heroica fascina Brecheret e o influencia. Ainda na Itália, participa de algumas mostras coletivas e recebe destaques da crítica.

Quando retorna a São Paulo, em 1919, já é um escultor com amplo domínio técnico. Improvisa um ateliê em espaço cedido pelo engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928) no Palácio das Indústrias. É descoberto por modernistas como Di Cavalcanti (1897-1976), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), que passam a divulgar sua obra. 

São de 1919 as esculturas Ídolo e Eva, que apresentam um tratamento naturalista da anatomia e uma contida dramaticidade, expressa por meio de torções do corpo e de volumes trabalhados em luz e sombras acentuadas. Mário de Andrade denomina esse período da obra de Brecheret (em oposição à época posterior, em Paris) de fase de sombras, na qual estas sempre se valorizam mais do que a luz. Em 1920 o escultor realiza a maquete para o Monumento às Bandeiras, no qual evoca a saga dos bandeirantes na conquista de novas terras. No ano seguinte, recebe bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e viaja para Paris. 

Embora ausente, participa da Semana de Arte Moderna de 1922 com 12 esculturas de diferentes dimensões e materiais. Entre as peças está a famosa Cabeça de Cristo (nº 7), mais conhecida como Cristo de Trancinhas, obra em bronze polido de uma cabeça com expressão funérea e a boca semiaberta, emoldurada por duas tranças. De acordo com Daisy Peccinini, a escultura, que pertence a Mário de Andrade, causa polêmica na época e inspira este autor na escrita de Paulicéia Desvairada (1922).

Em Paris, Brecheret busca fundir três fontes de maneira pessoal: a ênfase ao volume geométrico da escultura cubista, o tratamento sintético da forma dado pelo escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e a estilização elegante do art déco. A convergência dessas matrizes pode ser percebida em Tocadora de Guitarra (1923). Nessa fase, o escultor reduz a dramaticidade vista em suas obras anteriores, produzindo formas simplificadas e de forte cunho ornamental. 

A escultura Mise au Tombeau [O Sepultamento], de 1923 – no Cemitério da Consolação, em São Paulo – é uma das obras de maior destaque de seu período francês. Organizada em formas lineares, tem uma suavidade melódica, e o tema é tratado com muita simplificação formal, evocando um clima de grande serenidade.

Em 1936, depois de tantos anos alternando sua estada entre França e Brasil, Victor Brecheret fixa-se em São Paulo, onde recebe encomendas de esculturas públicas e também de trabalhos com temas religiosos. Retoma o projeto do Monumento às Bandeiras, concluído apenas em 1953. A obra se destaca pelas figuras elaboradas com grande síntese formal, pela preocupação com os volumes e pela simplificação dos detalhes e linhas estilizadas. O monumento consegue resumir o apelo narrativo e alegórico do tema: em sua composição convergem uma forte marcação horizontal e um movimento de arrasto que culmina na figura da Glória, que enfeixa heroicamente todo o grupo escultórico. O tratamento da superfície é mais áspero, se comparado ao de obras anteriores, enfatizando a matéria. 

A partir da década de 1940, o artista se aproxima dos temas ligados à cultura indígena, em esculturas realizadas em bronze ou terracota. Nessa fase, em que alcança o ponto alto de sua carreira, também trabalha com pedras de formas circulares, nas quais interfere realizando suaves incisões, como nas obras Luta da Onça ou Índia e o Peixe (1947/1948). Nestas, evoca o caráter sagrado ou mágico das pedras e retoma, assim, de maneira muito pessoal, formas e arquétipos indígenas, ainda que se aproxime da escultura do inglês Henry Moore (1898-1986) e do alemão Hans Arp (1886-1966). Em trabalhos como Luta dos Índios Kalapalos (1951) produz formas nas quais dialoga com a abstração. Em Índio e Suassuapara (1951), o artista parte de dois volumes que se aglutinam e trabalha superfícies vazias ou cheias, nas quais se inserem incisões. 

Variando entre a intensa dramaticidade de corpos e rostos e a simplicidade das formas, Victor Brecheret contribui para a constituição de uma arte autenticamente brasileira, ainda que com influências externas importantes. Sua obra vasta e diversificada tecnicamente revela uma história nacional, cuja identidade poética se traduz em um caráter de síntese formal e requintada simplicidade. 

Nota

1. Segundo a historiadora Daisy Peccinini, biógrafa de Victor Brecheret, embora existam documentos que apontem São Paulo como local de nascimento, o escultor nasceu na Itália e migrou para o Brasil aos 9 anos de idade em companhia de um tio materno.

Obras 1

Abrir módulo
Reprodução fotográfica Caio Kauffmann/Itaú Cultural

Figura

Terracota

Exposições 261

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 28

Abrir módulo
  • A FIGURA feminina no acervo do MAB. Curadoria José Luis Hernandez Alfonso. São Paulo: MAB, [199-?].
  • ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Catálogo crítico da obra de Victor Brecheret. 1969. Monografia - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1969.
  • AMARAL, Aracy. Victor Brecheret. In: _______. Artes plásticas na Semana de 22. 5. ed. São Paulo, SP: Editora 34, 1998. 335 p., p.246-248.
  • ASSIS, Célia de (coord.). Monumentos urbanos: obras de arte na cidade de São Paulo. São Paulo: Prêmio, 1998.
  • BATISTA, Marta Rossetti. Bandeiras de Brecheret: história de um monumento: 1920 - 1953. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1985.
  • BATISTA, Marta Rossetti. Os Artistas brasileiros na Escola de Paris: anos 20. 1987. 265 f. Tese (Doutorado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 1987.
  • BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
  • BORGES, Beatriz. Os trabalhadores deixados pelo escultor Victor Brecheret. El País Brasil, 21 fev. 2014. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/21/cultura/1393021114_061561.html. Acesso em: 30 maio 2020.
  • BRASIL Europa: encontros no século XX. Curadoria Marc Pottier, Jean Boghici. Brasília: Caixa Cultural, 2000.
  • BRECHERET, Victor. A Arte sacra de Brecheret. Curadoria Emanoel Araújo. São Paulo: Museu de Arte Sacra, 2000.
  • BRECHERET, Victor. Exposição comemorativa do 20º aniversário de falecimento. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1976.
  • BRECHERET, Victor. Exposição retrospectiva de Victor Brecheret. São Paulo: MAB, 1969.
  • BRECHERET, Victor. Programa municipal de preservação e divulgação da arte escultórica: primeira metade do século XX. Curitiba: Prefeitura, 1996.
  • BRECHERET, Victor. Tributo a Brecheret: a cidade e o atelier: o escultor de São Paulo. Curadoria Daisy Valle Machado Peccinini de Alvarado. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1994.
  • BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: 100 anos. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1994.
  • BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: 1894 - 1955. Rio de Janeiro: Revan, 1989.
  • BRECHERET, Victor. Victor Brecheret: esculturas e desenhos. São Paulo: Galeria Millan, 1986.
  • BRITO, Mário da Silva. História do modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, INL, 1971. 322 p. (Vera Cruz. Série literatura brasileira, 63).
  • FABRIS, Annateresa. O múltiplo de Brecheret. Piracema, Rio de Janeiro, v. 4, p. 88-95, 1995. Quadrimestral.
  • Fundação Escultor Victor Brecheret. São Paulo, 2006. Disponível em: < http://www.victor.brecheret.nom.br/index.html >.
  • MELLO, César Luís Pires de (org.). Brecheret: edição comemorativa. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Marca D'Água, 1989.
  • MILLIET, Maria Alice. Tendências construtivas e os limites da linguagem plástica. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte moderna. Organização Nelson Aguilar; coordenação Suzanna Sassoun; tradução Izabel Murat Burbridge, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet - 1948 - 1949. 2.ed. São Paulo: Martins, 1981.
  • MODERNIDADE: arte brasilieira do século XX. Prefácio Celso Furtado; apresentação Pierre Dossa; texto crítico Aracy Amaral, Roberto Pontual. Paris: Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, 1988. 352 p.
  • PECCININI, Daisy. Brecheret e a semana. Revista USP, São Paulo, n. 94, p. 39-48, jun./ago. 2012. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/45024/48636. Acesso em: 30 maio 2020.
  • PELLEGRINI, Sandra Brecheret (org.). Brecheret: 60 anos de notícia. São Paulo: [s.n.], 1976.
  • TRIDIMENSIONALIDADE: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: