Leonilson
![Sem Título, 1990 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302190989.jpg)
Sem Título, 1990
Leonilson
Acrílica sobre tela
70,00 cm x 65,00 cm
Texto
José Leonilson Bezerra Dias (Fortaleza, Ceará, 1957 – São Paulo, São Paulo, 1993). Pintor, desenhista, escultor. Destaca-se como um dos grandes artistas plásticos da chamada Geração 80.
Em 1961, muda-se com a família para São Paulo. Entre 1977 e 1980, cursa educação artística na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Frequenta, de 1978 a 1981, o Centro de Estudos Aster. Nesse último ano, em Madri, realiza sua primeira individual na galeria Casa do Brasil e viaja para outras cidades da Europa. Retorna ao Brasil em 1982.
Sua obra é predominantemente autobiográfica, com vocação para o registro da subjetividade, e está concentrada nos últimos dez anos de sua vida. Segundo a crítica Lisette Lagnado (1961), cada peça realizada pelo artista é construída como uma carta para um diário íntimo. A princípio, sua obra se aproxima da visualidade dos trabalhos de Antonio Dias (1944-2018), porém com mais potência erótica. As formas nos desenhos são envoltas por um contorno escuro, como no grafite estadunidense. Em paralelo, começa a elaborar elementos que são permanentemente retomados até o fim de sua vida: o livro aberto, a torre, o radar, o átomo, o coração, a espiral, o relógio, a bússola e a ampulheta, entre outros.
Em 1989, começa a fazer uso de costuras e bordados, que passam a ser recorrentes em sua produção. É em 1989 que expõe Anotações de viagem na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, apresentando peças feitas com botões, pedras semipreciosas e bordados, que introduzem um novo e fundamental procedimento em seu trabalho: a costura. As peças sugerem correspondência com os bordados de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), admirado por Leonilson.
Entretanto, o universo da costura lhe é familiar, por ser filho de um comerciante de tecidos e ter também o hábito de ver a mãe bordar. Para Lagnado, além destes dados, há em sua obra certa similitude com o modo de vida dos shakers, membros de seita religiosa estadunidense, como o uso marcante de mapas ou o costume de bordar a roupa de cama com iniciais ou números.
Na constituição de uma expressão pessoal e subjetiva, desde 1984, Leonilson realiza formas orgânicas em seus desenhos e pinturas, que se aproximam cada vez mais de cartografias do corpo. Toma também consciência da necessidade de constituir com as palavras uma linguagem própria, tema de O pescador de palavras (1986). Nas obras Sua montanha interior protetora (1989) e Oceano, aceita-me? (1991) aparece a visão da natureza incomensurável, como o abismo, o vulcão, a corredeira com pedras, o oceano. A postura romântica do artista é revelada também na pintura O inconformado (1988), na qual um personagem é representado dentro de um carro em que não cabe, devido a suas proporções desmedidas, e em Leo não consegue mudar o mundo (1989), em que o inconformismo se atrela à impotência. Sua produção começa a sofrer, então, um despojamento formal, mas o conteúdo não muda: usa palavras carregadas de valor moral como "sinceridade", "honestidade" e "integridade". Por outro lado, as palavras servem para manifestar estados íntimos como: "alegre", "tímido", "solitário", "hipócrita", "cheio”, “vazio", "cético" ou "confuso".
Em 1991, descobre estar vivendo com HIV e o fato repercute de forma dominante em sua obra. Em O perigoso (1992), série de sete desenhos, trata com ironia a própria condição. No primeiro desenho, há uma gota do seu sangue. Nos outros, pequenas figuras de mãos associadas a procedimentos médicos ou crucifixos são mescladas a diversas palavras, como nomes de flores, adquirindo uma dimensão alegórica relacionada à simbologia cristã da pureza e da morte.
Alguns trabalhos desta fase podem ser vistos como autorretratos. Por exemplo, em El puerto (1992), um espelho coberto com retalho de uma camisa do artista contém, bordadas com linha azul, informações sobre sua idade, peso e altura. É uma obra que versa sobre o luto e a ausência da figura.
A instalação na Capela do Morumbi, de 1993, seu último trabalho, tem um sentido espiritual. Nos tecidos leves e brancos, expressa a fragilidade da vida. Há referências irônicas à autoridade e à hipocrisia, nas camisas moles que revestem as cadeiras e nos bordados "da falsa moral" e "do bom coração", mas também à esperança, no bordado "Lázaro". Por essa mostra e por outra individual realizada no mesmo ano, recebe, em 1994, homenagem póstuma e prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). No mesmo ano de sua morte, familiares e amigos fundam o Projeto Leonilson, com o objetivo de organizar os arquivos do artista e de pesquisar, catalogar e divulgar suas obras.
A obra de Leonilson repercute até os dias de hoje pela linguagem intimista empregada e chama a atenção pelo traço corajoso do artista ao ousar se expor ao público.
Obras 59
A Consequência do Sonho
As Fadas
As Montanhas ao Longe
Cada Delícia Tem Seu Preço
Cheio, Vazio
Espetáculos 1
Exposições 299
Mídias (2)
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 22
- BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
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- CHIARELLI, Tadeu (org). Alegoria. São Paulo: MAM, [2002].
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- ESPELHO cego : seleções de uma coleção contemporânea. Tradução Rogério Hafez; apresentação Milú Villela. São Paulo : MAM, 2001.
- FONTES: LAGNADO, Lisette. São tantas as verdades CAT-G Le585 1995; R750.81*A973d; Spmam 1996/q; Gomp1998; CAT-G Rjmam 1995/ao; Rjpi 1997/ar; Spmam 1996/a; Spmam 19998/ab; SPpmr 1988; Bienal Brasil Século XX; Spici 1991; SPgsp 1992; Le 585 1997, 1993, 1989, 1988, 1990, 1987, 1985, 1983, 1991, 1998; 741.981 Le585m; 708.981 M986mam.
- LAGNADO, Lisette. Leonilson: são tantas as verdades. Versão em inglês Adriano Pedrosa, Alberto Dwek, Ann Puntch e Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Galeria de Arte do Sesi, 1995.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- LEONILSON, sob o Peso dos Meus Amores. Direção Carlos Nader. São Paulo: Itaú Cultural, 2012 (43 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8TKHN2LcChA. Acesso em: 29 mai. 2023.
- LEONILSON. Leonilson. Belo Horizonte: Gesto Gráfico Galeria e Escola de Arte, 1990.
- LEONILSON. Leonilson. São Paulo: Galeria Luisa Strina, 1987.
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- LEONILSON. Leonilson. São Paulo: Galeria de Arte São Paulo, 1991.
- LEONILSON. Leonilson. Texto Felipe Chaimovich. São Paulo: Thomas Cohn Arte Contemporânea, 1998.
- LEONILSON. Leonilson: Brasília. Brasília: Espaço Capital Arte Contemporânea, 1985.
- LEONILSON. Leonilson: catálogo raisonné : 1971-1980 - vol. 1. Organização Ana Lenice Dias, Gabriela Dias Clemente. São Paulo: Projeto Leonilson, 2017. v. 1 .
- LEONILSON. Leonilson: catálogo raisonné : 1981-1989 - vol. 2. Organização Ana Lenice Dias, Gabriela Dias Clemente. São Paulo: Projeto Leonilson, 2017. v. 2.
- LEONILSON. Leonilson: catálogo raisonné : 1990-1993 - vol. 3. Organização Ana Lenice Dias, Gabriela Dias Clemente. São Paulo: Projeto Leonilson, 2017. v. 3 .
- LEONILSON. Leonilson: o solitário inconformado. Americana: MAC, 1997.
- LEONILSON. Leonilson: pinturas e desenhos. Porto Alegre: Galeria Tina Presser, 1983.
- LEONILSON: use, é lindo, eu garanto. Concepção Ivo Mesquita, Lisette Lagnado, Marcelo Mattos Araújo; tradução John Norman. São Paulo, SP: Cosac Naify, 1997.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
Como citar
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LEONILSON.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8742/leonilson. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7