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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Ernesto De Fiori

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.11.2017
12.12.1884 Itália / Lazio / Roma
24.04.1945 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Rômulo Fialdini

São Jorge e o Dragão, 1943
Ernesto De Fiori
Óleo sobre tela
159,00 cm x 120,00 cm

Ernesto de Fiori (Roma, Itália 1884 - São Paulo, São Paulo, 1945). Escultor, pintor, desenhista. Muda-se para Munique aos 19 anos, onde estuda desenho com Gabriel von Hackl (1843-1926) na Königliche Akademie der Bildenden Künste [Real Academia de Belas Artes]. Em 1905, retorna a Roma e provavelmente recebe orientação do pintor e litógrafo alemão...

Texto

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Biografia

Ernesto de Fiori (Roma, Itália 1884 - São Paulo, São Paulo, 1945). Escultor, pintor, desenhista. Muda-se para Munique aos 19 anos, onde estuda desenho com Gabriel von Hackl (1843-1926) na Königliche Akademie der Bildenden Künste [Real Academia de Belas Artes]. Em 1905, retorna a Roma e provavelmente recebe orientação do pintor e litógrafo alemão Otto Greiner (1869-1916). Entre 1911 e 1914, reside em Paris, onde realiza as primeiras esculturas, com auxílio do artista suíço Hermann Haller (1880-1950), e frequenta o meio intelectual e artístico. Em 1915, um ano após passar 14 dias detido na França como espião, alista-se no Exército alemão e atua como correspondente de um periódico italiano. Depois de obter cidadania alemã, passa a combater como soldado. Em 1917, abandona o serviço militar e vai para Zurique. Entre 1918 e 1919, desenrola-se uma polêmica entre o artista e o grupo dadaísta, por divergências sobre o conceito de arte. Para De Fiori, não há arte nova sem referência ao passado, e ele se opõe a todo movimento que propõe o rompimento com a arte precedente. Em 1936, vem para o Brasil e instala-se em São Paulo. Escreve artigos para jornais das colônias alemã e italiana e, mais tarde, para O Estado de S. Paulo. Em 1938, participa do Programa de Integração das Artes do Ministério da Educação e Saúde (MES); modela uma série de esculturas que são recusadas por não atender às exigências oficiais. Paralelamente à escultura, dedica-se à pintura. Em seus quadros observam-se contrastes produzidos pelo uso de diversas técnicas, tais como pinceladas rápidas ou diluídas em solvente, uso de instrumentos dentados, entre outras. No inicio da década de 1940, participa de encontros com críticos de arte e artistas no ateliê de Rossi Osir (1890-1959) para discussão sobre arte. Sua pintura tem grande influência no meio artístico paulistano.

Análise

Em 1904, Ernesto de Fiori ingressa na Königliche Akademie der Bildenden Künste [Real Academia de Belas Artes], de Munique e frequenta a classe de desenho do pintor alemão Gabriel von Hackl. Posteriormente, conhece o escultor suíço Hermann Haller e o pintor alemão Karl Hofer (1878-1955), com os quais mantém intenso diálogo artístico. Começa a expor sua pintura, que se aproxima, em suas soluções pictóricas, da realizada pelo pintor suíço Ferdinand Hodler (1853-1918). De 1911 a 1914, vive em Paris, onde frequenta o Café du Dôme, local de grande efervescência cultural que reúne artistas, críticos e colecionadores. Nessa cidade, produz e participa de discussões sobre as novas tendências artísticas e trava contato com o pintor alemão Hugo Troendle (1882-1955) e o escultor italiano Arturo Martini (1889-1947). Conhece as obras de mestres franceses como Paul Cézanne (1839-1906) e Auguste Rodin (1840-1917).

De Fiori continua a pintar. Começa a modelar, realizando aprendizado técnico com Herman Haller. Faz suas primeiras esculturas em 1911, entre elas Ajoelhada e Moça Andando, destacando-se O Sofredor, que representa um jovem que, em gesto de sofrimento, se volta para trás e agarra o corpo com os braços. Nessa obra, a carga psicológica da figura é enfatizada pelo artista. Nas esculturas realizadas posteriormente, como, por exemplo, Anastasius, Ursula (ambas de 1912) e Dançarino (1914/1915), trabalha com a redução formal, em diálogo com o cubismo. Sua escultura adquire volumes arredondados e verifica-se a pesquisa de movimento nas figuras.

Engajado na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em 1915, como correspondente de um jornal italiano, retoma suas atividades artísticas em 1917, em Zurique. Em 1918, escreve um artigo-manifesto em que critica a arte dos dadaístas e esclarece seu conceito de nova arte: ela deve manter o diálogo com a tradição, a fim de poder diferenciar o que é novo; buscar meios que expressem "o sentimento do mundo recém-acordado" e "a totalidade da vida, suas intuições".1 Além de volumes e cores, a arte deve ser feita de qualidades espirituais que nos transmitam sensações, como alegria e dor. Na Europa e depois no Brasil, De Fiori expressa suas idéias em vários artigos.

Suas figuras passam a ser realizadas mais livremente, sem os limites da esquematização, mais fiéis à forma humana, adquirindo certo vínculo expressionista, como A Banhista (1917), figura feminina, em pé, em postura que expressa tranquilidade e sentimento. Na década de 1920, muda-se de Zurique para Berlim e realiza seus primeiros retratos, como a cabeça da bailarina Carina Ari (1922). Modela três versões de Adão (1920), uma figura masculina que caminhando se volta para trás em cumprimento, com a mão direita levantada. Faz também esculturas, desenhos e litografias de boxeadores. Realiza ainda a série do Homem em Marcha, o busto de Marlene Dietrich (ca.1929), O Fugitivo (1936), entre outras obras. O tema central de suas esculturas é sempre o corpo humano, sugerindo movimento ou estático, executado em áspero modelado, com forte carga psicológica.

Em 1938, abandona a Alemanha, dominada pelo nazismo, e chega a São Paulo. Suas primeiras esculturas realizadas no Brasil são, por exemplo, retratos de Menotti Del Picchia (1892-1988), Francisco Matarazzo e Greta Garbo, que fez de memória. Em paralelo, faz nus femininos, nos quais acentua a plasticidade dos corpos. A pintura que realiza aqui, valoriza a figuração, executando paisagens, em uma primeira etapa, com cenas de mata, de fazendas, de queimadas e do beira-rio. A viagem fluvial que faz de Presidente Prudente, São Paulo, até Guaíra é a fonte para seus quadros. Nas telas, cor e forma fundem-se, as cores vão sendo sobrepostas a outras, gerando formas que se entrecruzam com novas cores e formam a composição. Pinceladas diluídas e rápidas sugerem as figuras, como podemos ver em Paisagem com Vacas (1942). No começo dos anos 1940, pinta cenas urbanas de São Paulo: ruas em traçados angulosos, com árvores e transeuntes solitários e apressados, por vezes com arranha-céus, chaminés, avenidas ou igrejas ao fundo. Em Paisagem Urbana (1941) as figuras são formadas pela fusão com outros elementos pictóricos, inclusive com a cor do papel no caso dos guaches, que integra a composição como tinta. Em sua terceira exposição individual em São Paulo, apresenta algumas pinturas com tema como São Jorge e o Dragão ou batalhas. Segundo o artista, referem-se à luta travada no mundo: guerras de filosofias e religiões, tempos de ódio e violência. Pinta, assim, guerreiros que lutam pela liberdade e pela dignidade humanas.

A presença de Ernesto de Fiori em São Paulo, no fim da década de 1930 e começo dos anos 1940, contribui para abrir novos horizontes no ambiente artístico da cidade, ainda muito acanhado. Sua pintura, figurativa, porém gestual e livre, marca a produção de artistas ligados à Família Artística Paulista (FAP), como Mario Zanini (1907-1971) e Joaquim Figueira (1904-1943), e também o trabalho de Alfredo Volpi (1896-1988), principalmente em algumas de suas marinhas.

Notas

1. Ernesto de Fiori, citado em: LAUDANNA, Mayra. A pintura em Ernesto de Fiori. In: DE FIORI, Ernesto. Ernesto de Fiori: uma retrospectiva. Curadoria Mayra Laudanna. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1997, p.26.

Obras 29

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

A Igrejinha

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

As Amigas

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Cena de Rua

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Rômulo Fialdini

Figura

Óleo sobre tela

Exposições 339

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Fontes de pesquisa 25

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