Família Artística Paulista (FAP)
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Histórico
A Família Artística Paulista, grupo formado em São Paulo em 1937, deve ser entendida no interior de uma cena ampliada, em que se destaca a criação de diversas associações de artistas. Na mesma cidade de São Paulo vêm à luz o Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró-Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, e o Grupo Santa Helena (1934). No Rio de Janeiro, por sua vez, forma-se o Núcleo Bernardelli (1934).Tais agremiações artísticas expressam, antes qualquer coisa, o êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país ao longo da década de 1930. Tributários das conquistas estéticas do modernismo, os grupos dialogam de formas distintas com esse legado recente. A SPAM, capitaneada por Lasar Segall (1891 - 1957), tem como principais integrantes figuras do primeiro modernismo, parecendo filiar-se mais diretamente à pauta elaborada pelos organizadores da Semana de Arte Moderna de 22. O CAM, liderado por Flávio de Carvalho (1899 - 1973), se afirma pela marcação de distâncias em relação à SPAM, tentando fazer valer um tom mais autônomo em suas atividades e realizações. O Santa Helena, por seu turno, aparece como uma reunião algo espontânea de artistas - na maioria recém-imigrados e, em grande parte, de origem italiana - em um ateliê comum no Palacete Santa Helena, na praça da Sé. Sem programas nem plataformas definidos, o grupo formado por Francisco Rebolo (1902 - 1980), Mario Zanini (1907 - 1971), Fulvio Pennacchi (1905 - 1992), Alfredo Volpi (1896 - 1988), entre outros, realiza seu trabalho a distância do meio artístico da época. É somente quando integram a Família Artística Paulista que esses artistas adquirem notoriedade e obtém reconhecimento da crítica especializada.
A agremiação Família Artística Paulista, fundada e dirigida por Rossi Osir (1890 - 1959) e Waldemar da Costa (1904 - 1982), conta com a participação de diversos artistas, além dos integrantes do Grupo Santa Helena, que tomam parte das três grandes exposições por ela realizadas. A primeira, de novembro de 1937, tem lugar no Hotel Esplanada e expõe obras de Bonadei (1906 - 1974), Volpi, Anita Malfatti (1889 - 1964), Clóvis Graciano (1907 - 1988), Pennacchi, Rossi Osir, Manoel Martins (1911 - 1979), entre outros. O segundo salão, no Automóvel Clube de São Paulo (1939), agrega novos integrantes, além dos antigos participantes: Candido Portinari (1903 - 1962), Nelson Nóbrega (1900 - 1997) e Ernesto de Fiori (1884 - 1945). Por ocasião desse segundo salão, o escritor e crítico Mário de Andrade (1893 - 1945) tenta definir os contornos de uma "escola paulista", marcada por uma espécie de modernismo de tom moderado e situada num lugar intermediário entre as experimentações da década de 1920 e a arte acadêmica, ainda viva no ambiente artístico paulistano de então. Em artigo posterior sobre Clóvis Graciano (1944), Mário enfatiza como as origens sociais do grupo infletem sobre sua produção. O que caracteriza esses artistas, diz ele, "é seu proletarismo. Isso lhe determina a psicologia coletiva e, conseqüentemente, sua expressão". O crítico chama a atenção, ainda, para como a formação desses artesãos e/ou pintores decoradores - em geral obtida nas escolas profissionalizantes da época, no Liceu de Artes e Ofícios, por exemplo -, ocorre totalmente à margem dos círculos de vanguarda. Sem dúvida, a produção plástica dos anos de 1930 se distancia da experimentação dos anos 1920, o que não quer dizer que não tenha dado bons frutos, como indica Lorenzo Mammì: "A geração que despontou na década de 30 foi decerto mais conservadora; tinha, porém, maior consciência de que os problemas da arte se resolviam em primeiro lugar no campo da arte, no embate concreto com suas tradições e suas técnicas. O Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, e a Família Artística Paulista, em São Paulo, foram conseqüência desse novo clima. Volpi foi seu produto mais valioso, ainda que as obras mais importantes dele tenham sido um fruto relativamente tardio".
O último salão da Família Artística Paulista ocorre no Rio de Janeiro, em 1940, com participações inéditas como as de Carlos Scliar (1920 - 2001), Paulo Sangiuliano (1907 - 1984) e Bruno Giorgi (1905 - 1993). O amplo leque de artistas reunidos nessas três exposições não permite localizar tendências ou estilos claramente definidos. De qualquer forma, parte dos historiadores e críticos tende a acentuar o caráter anti-vanguardista e anti-experimentalista da produção reunida nas exposições da FAP quando contraposta aos trabalhos dos artistas reunidos no Salão de Maio, fundado alguns meses antes, também em São Paulo, e que reúne em suas mostras, além de integrantes da geração modernista - Victor Brecheret (1894 - 1955), Lasar Segall, Cicero Dias (1907 - 2003) e Oswaldo Goeldi (1895 - 1961) -, nomes das vanguardas internacionais. Geraldo Ferraz, defensor do Salão de Maio, por exemplo, acusa os pintores da FAP de "tradicionalistas, defensores do carcamanismo artístico da paulicéia". Diferenças e polêmicas à parte, o fato é que vários artistas participam tanto dos Salões da FAP quanto dos Salões de Maio. Além disso, a consideração detida dos trabalhos que integram as exposições de ambas as agremiações permitem localizar, em cada uma delas, a presença de obras de corte acadêmico, ao lado de outras mais afinadas com os procedimentos de vanguarda.
Fontes de pesquisa 6
- ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva : Diâmetros Empreendimentos, 1976. (Debates, 133).
- ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre Clóvis Graciano. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, n. 10, p.156-175, 1971. Apêndice II [Texto publicado originalmente em 1944].
- ANDRADE, Mário de. Esta família paulista. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, n. 10, p.154-156, 1971. Apêndice I [Texto publicado originalmente no O Estado de S. Paulo].
- BATISTA, Marta Rossetti e LIMA, Yone Soares de. Coleção Mário de Andrade: artes plásticas. 2. ed. São Paulo: USP/IEB, 1998.
- MOTTA, Flávio L. A Família Artística Paulista. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, n. 10, p.137-142, 1971.
- VOLPI. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. (Espaço da arte brasileira).
Como citar
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FAMÍLIA Artística Paulista (FAP).
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo435942/familia-artistica-paulista-fap. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7