Carmela Gross
![Sem Título, 1988 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000473008013.jpg)
Sem Título, 1988
Carmela Gross
Acrílica e óleo sobre tela
120,00 cm x 300,00 cm
Texto
Maria do Carmo Costa Gross (São Paulo, São Paulo, 1946). Artista visual. Seu percurso, iniciado durante a ditadura civil-militar (1964-1985), é bastante marcado pelo experimentalismo, pela observação do processo artístico e pela crítica social. Sua produção engloba desenhos, gravuras, pinturas, esculturas e intervenções públicas.
As primeiras obras de Carmela Gross, nos anos 1960, são realizadas enquanto estuda artes plásticas na Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, no curso de formação de professores de desenho. A cena artística durante o final dos anos 1960 se presta a experimentações conceituais e técnicas, ainda que o governo da ditadura civil-militar cerceie a liberdade de expressão no país. Conceitualmente, na produção de Gross, a discussão sobre o limite da arte se encontra desde os primeiros trabalhos, como Nuvens (1968): um conjunto de seis peças de madeira pintadas com material industrial (esmalte) representando nuvens, cuja perfeição da forma sugere que se trata da replicação de um desenho. A ligação com a arte pop na escolha do tema e do material é evidenciada pela repetição na execução (que não implica a marca individual do artista) e pela crítica à avidez da sociedade de consumo.
A partir de 1972, a artista é vinculada à área de poesias visuais no departamento de artes plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Carmela apresenta em São Paulo a série Carimbos (1978), onde retoma as fronteiras formais e os processos de produção. Nessa obra, 80 folhas de papel de 70 cm x 100 cm são carimbadas com signos que se referem a partes constituintes de um trabalho de arte-modelo (carimbos-manchas; carimbos-rabiscos; carimbos-linhas). A artista propõe uma versão-padrão do fazer artístico, ordenada e reprodutível, que, a partir da linguagem, do uso de signos da cultura de massa e da realidade cotidiana, debruça-se sobre questões simbólicas do uso do espaço expositivo ou urbano.
Em 1981, conclui o mestrado em artes na ECA e, em 1987, o doutorado, ambos sob orientação do crítico de arte e curador Walter Zanini (1925-2013). Essas pesquisas acadêmicas, Projeto para a construção de um céu (1981) e Pintura-desenho (1987), tornam-se obras e são expostas respectivamente na Bienal de São Paulo, em 1981, e no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP) em 1987.
Em 1983, cria a obra Quasares, onde acentua o interesse pelo papel como suporte, mas é o embasamento teórico que articula o resultado formal. O título se refere aos objetos celestes que, pela distância, não são identificáveis, apenas percebidos pela radiação que emitem. A obra apresenta 11 lâminas de papel com impressão offset, cobertas por vidro transparente, dispostas no chão. As imagens do papel são geradas pela escolha de pequenas ilustrações impressas que, por meio da atuação da artista, são desconfiguradas até ficarem irreconhecíveis. Essa desconstrução retoma conceitualmente a feitura do desenho e revela novas leituras e significados.
A artista recebe uma bolsa de estudos, em 1991, e passa quatro meses no The European Ceramics Workcentre, em Hertogenbosch, Holanda. O resultado da residência artística é apresentado na exposição Facas, inaugurada em 1994 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, e em 1995 no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo.
Carmela explora a relação com a cidade pela primeira vez com A negra (1997), escultura cuja forma é criada pela acumulação de camadas de tule preto, fixadas em uma estrutura de ferro móvel, criando um grande volume vertical com mais de três metros. A obra é apresentada na avenida Paulista como parte da mostra Diversidade da Escultura Brasileira Contemporânea, produzida pelo Itaú Cultural. O estranhamento no contato entre obra e fluxo urbano cotidiano ativa novas possibilidades de reflexões críticas, estéticas e sociais.
Em 2000, o livro Carmela Gross, com entrevistas e panorama de sua trajetória artística, é publicado pela editora Cosac Naify. Duas mostras retrospectivas acontecem em São Paulo nos anos 2000. A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta a exposição Um Corpo de Ideias (2010), com trabalhos realizados entre 1965 e 2010, e a Chácara Lane, em 2016, recebe Arte à Mão Armada. As mostras recebem instalações inéditas, pensadas para os espaços institucionais onde são exibidas: em Iluminuras (2010), luzes de emergência são fixadas em toda extensão da fachada da Estação Pinacoteca; em Escada-Escola (2016), a artista conecta, por uma escada-escultura, a escola pública vizinha à Chácara Lane, como um convite para os alunos acessarem o espaço.
Ao longo da carreira, a artista participa de sete edições da Bienal de São Paulo (1967, 1969, 1981, 1983, 1989, 1998 e 2002), além de outros eventos importantes no país. Também está presente na 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou (2007) e na 5ª Bienal do Mercosul (2015), em Porto Alegre. Como artista, produz obras públicas relevantes para as cidades de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Laguna (Santa Catarina) e Paris (França). Seus trabalhos fazem parte de coleções importantes, como a do MAM de São Paulo, a do MAC USP e a da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Devido ao seu aguçado olhar crítico social, Carmela Gross se destaca no cenário da arte contemporânea como um nome importante da produção brasileira.
Obras 32
A Montanha
Alagados
Buracos
Cabeças
Cachoeira
Exposições 390
Intervenções 1
-
4/9/2021 - 28/11/2021
Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Fontes de pesquisa 27
- 34ª BIENAL Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 2020. Exposição realizada no período de 4 set. 2020 a 5 dez. 2021. Disponível em: http://34.bienal.org.br/exposicoes/7311. Acesso em: 15 jul. 2021. Exposição realizada no período de 04 set. 2020 a 05 dez. 2021.
- AMARAL, Aracy. Carmela Gross 1993: um olhar em perspectiva. In: GROSS, Carmela. Hélices. Rio de Janeiro: MAM, 1993.
- AMARANTE, Leonor. As Bienais de São Paulo: 1951-1987. São Paulo: Projeto, 1989. 408 p., il. p&b., color.
- ARTE e artistas plásticos no Brasil 2000. São Paulo: Meta, 2000.
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- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 20., 1989, São Paulo. 20ª Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1989. Exposição realizada no período de 14 out. a 10 dez. 1989. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/20___bienal_de_s__o_paulo_-_vol._i_.
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- CORRÊA, Sílvia Denise Alves. Carmela Gross. Fólios, Centro Mário Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/cms/index.php?option=com_content&view=article&id=57:carmela-gross-&catid=14:folios&Itemid=10. Acesso em: julho 2017.
- DUARTE, Paulo Sérgio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Lech, 1998.
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- GROSS, Carmela. Carmela Gross. São Paulo: Galeria São Paulo, 1990. [14] p., il. p&b. color.
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- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- MESQUITA, IVO. Carmela Gross, um corpo de ideias. Curadoria e texto de Ivo Mesquita. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2010.
- O ÚNICO/ o mesmo/ o a-fundamento. Curadoria Maria Alice Milliet; tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Valu Oria Galeria de Arte, 1996. 30 p.
- POR que Duchamp? Leituras duchampianas por artistas e críticos brasileiros. Texto Vitória Daniela Bousso, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Agnaldo Farias, Maria Izabel Branco Ribeiro, Paulo Herkenhoff, Celso Favaretto, Stella Teixeira de Barros, Lisette Lagnado, Angélica de Moraes; tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Itaú Cultural : Paço das Artes, 1999. 194 p., il. p&b. color.
- SCARINCI, Carlos. Carmela Gross. Galeria: Revista de Arte, São Paulo, n. 29, p. 22-24, maio/jun. 1992.
- TRIDIMENSIONALIDADE: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 1999.
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
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CARMELA Gross.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa8666/carmela-gross. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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