Flexor
![Paisagem com Igreja, 1946 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000884014013.jpg)
Paisagem com Igreja, 1946
Flexor
Óleo sobre tela, c.i.d.
50,00 cm x 65,00 cm
Texto
Samson Flexor (Soroca1, Bessarábia, Rússia, 1907 - São Paulo, São Paulo, 1971). Pintor, desenhista, muralista, professor. Viaja para a Bélgica em 1922, onde estuda química e cursa pintura na Académie Royale des Beaux-Arts [Academia Real de Belas Artes]. Muda-se para Paris em 1924 e faz o curso livre da Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], orientado por Lucien Simon (1861-1945). Paralelamente, cursa história da arte na Sorbonne. Em 1926, freqüenta as academias La Grande Chaumière e Ranson, onde recebe aulas de Roger Bissière (1886-1964). No ano seguinte, realiza a primeira exposição individual, na Galeria Campagne Première, em Paris. Em 1929, participa da fundação do Salon des Surindépendants, atuando como diretor até 1938. Quando se converte ao catolicismo em 1933, passa a executar pinturas murais de cunho religioso. Membro da Resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial (1939-1945), é forçado a fugir de Paris. Nesse período, suas pinturas tornam-se sombrias e inicia estudos expressionista e cubistas sobre a Paixão de Cristo. Em 1946, realiza viagem ao Brasil e expõe na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, e em 1948, fixa-se na cidade. Motivado pelo crítico Léon Dégand (1907-1958), então diretor do Museu de Arte Moderna (MAM/SP), aproxima-se do abstracionismo geométrico e cria, em 1951, o Atelier-Abstração, tendo como alunos Jacques Douches (1921-2012), Norberto Nicola (1930-2007), Leopoldo Raimo (1912-2001), Alberto Teixeira (1925-2011) e Wega Nery (1912-2007). Em meados da década de 1960 aproxima-se da abstração lírica e da figuração.
Análise
Ao fixar-se no Brasil, em 1948, Flexor já é um artista maduro e de rica experiência artística. Sua formação inclui a passagem de dois anos pela Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas, estudos na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e no curso de história da arte na Sorbonne, ambas em Paris (a partir de 1924). Com uma produção próxima à Escola de Paris, o artista conquista reconhecimento da crítica em sua primeira exposição individual (1927). Em 1929 participa da criação do Salon des Surindépendants, do qual é diretor até 1938. Faz parte da resistência à ocupação nazista e é obrigado a deixar a capital francesa em 1940. Passa por enormes dificuldades durante a guerra, voltando a Paris somente em 1945. Os problemas do pós-guerra, aliados ao sucesso da viagem a São Paulo acompanhando uma exposição do Grupo dos Pintores Independentes e sua mostra individual na Galeria Prestes Maia, em 1946, fazem com que decida imigrar com a família para o Brasil, em 1948.
Considerado um dos introdutores do abstracionismo no Brasil, Flexor é um artista de produção variada e independente. Da figuração cubista à abstração geométrica, e desta à abstração lírica, volta no final da vida a uma espécie de figuração orgânica e antropomórfica, sem deixar de lado a pintura de temática religiosa e os retratos. É preciso notar que da mesma forma que exerce papel importante na aceitação das correntes abstratas pelos brasileiros, o contato com o ambiente do país do fim dos anos 1940 é fundamental para o desenvolvimento pleno de tendências abstratas esboçadas em sua pintura desde o fim da II Guerra Mundial (1939-1945). Encontra um meio artístico no qual fervilha a querela entre os partidários da abstração e os defensores da pintura figurativa de cunho nacionalista. Participa da histórica exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Do Figurativismo ao Abstracionismo, em 1949, a convite do crítico belga e diretor do recém-fundado museu Leon Dégand e é incentivado por ele a aventurar-se pelos caminhos da abstração geométrica pura.
Por sua vez, o sentimento de crise do humanismo típico do período do pós-guerra (Flexor declara em 1948: "As guerras obrigam o homem a descobrir de novo o universo que julgava conhecer"), em conjunto com a experiência contagiante do surto desenvolvimentista pelo qual passa São Paulo na época, onde, como declara o artista a Sérgio Milliet (1898-1966), "tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial", são elementos decisivos para os futuros caminhos tomados por Flexor no Brasil.
Dessa forma, sua pintura semi-abstrata de origem neocubista do fim dos anos 1940, na qual, como observou Mário Pedrosa (1900-1981), "a sobreposição de planos ainda tem função figurativa" - observam-se, por exemplo, Xícaras (1945), Violão (1948) e Cristo na Cruz (1949) -, transforma-se pouco a pouco em composições geométricas puramente abstratas em que os planos se tornam autônomos, integrando-se por "partido ortogônico ou diagonal". As telas abstratas de Flexor buscam um dinamismo pela combinação de planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e de pontos rítmicos pela colocação de tonalidades quentes ao lado de tons rebaixados, na intenção de atingir uma harmonia dentro da assimetria. Esta abstração, mais musical do que matemática, é construída mediante o estudo e aplicação de métodos renascentistas de proporção e harmonia, como observa Alice Brill (1920-2013). Esses estudos rigorosos serão ensinados por Flexor a partir de 1951 no Atelier-Abstração (primeira fase 1951-1959), do qual participam Alberto Teixeira, Emílio Mallet, Izar do Amaral Berlinck (1918), Jacques Douchez, Leyla Perrone, Leopoldo Raimo, Renée Malleville e Wega Nery.
No final dos anos 1950, uma série de fatores, entre eles a viagem para os Estados Unidos e o fechamento do Atelier, influi para a mudança de Flexor em direção a uma abstração lírica de formas orgânicas. "Ao mesmo tempo em que mergulha em uma busca interior, Flexor pesquisa a matéria, o ritmo das formas e da luz", como assinala Denise Mattar. Em 1967 o artista surpreende ao realizar grandes pinturas "figurativo-abstratas" para a 9ª Bienal Internacional de São Paulo intituladas Bípedes. Sobre a convivência da abstração e figuração na obra de Flexor, Tadeu Chiarelli (1956) mostra que mesmo em algumas obras ditas "abstratas puras" há a presença de esquemas ilusionistas num inquestionável compromisso com a pintura tradicional. Nesse sentido, sua obra apresenta-se como "objeto privilegiado de estudo sobre os aspectos problemáticos envolvidos na absorção das poéticas não-figurativas no campo da arte brasileira".
Nota
1 Em 1812, com a assinatura do Tratado de Paz entre os impérios Russo e Turco, a parte oriental da Moldávia, situada entre os rios Prut e Nistru, chamada Bessarábia, e onde se localiza a cidade de Soroca, é anexada ao Império Russo, tornando-se uma província da Rússia até 1918. Nesse ano, os bessárabes decidem se unir à Romênia. Esta união dura até 1940, ano em que o país é anexado pela União Soviética, como consequência do Pacto Ribbentrop-Molotov, de 1939. A Moldávia funciona como uma entidade territorial dentro da ex-União Soviética até 1991, quando declara sua independência.
Obras 42
A Coroa de Espinhos
Aberturas
Abstração Barroca nº 2
Abstração Tropical
Ancestral
Exposições 280
-
-
4/11/1927 - 18/12/1927
-
-
18/1/1929 - 28/2/1929
-
Fontes de pesquisa 27
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
- AMARAL, Aracy (org.). Arte construtiva no Brasil - Constructive art in Brazil. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Companhia Gráfica Melhoramentos: DBA Artes Gráficas, 1998. (Coleção Adolpho Leirner).
- AMARAL, Aracy (org.). Arte construtiva no Brasil - Constructive art in Brazil. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Companhia Gráfica Melhoramentos: DBA Artes Gráficas, 1998. (Coleção Adolpho Leirner). 709.04057 A786
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 709.81 A163ar
- AS BIENAIS e a abstração: a década de 50. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1978. (Ciclo de Exposições de Pintura Brasileira Contemporânea).
- AS BIENAIS e a abstração: a década de 50. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1978. (Ciclo de Exposições de Pintura Brasileira Contemporânea). SPmLs 1978
- BRILL, Alice. Samson Flexor: do figurativismo ao abstracionismo. São Paulo: MWM-IFK : Edusp, 1990.
- BRILL, Alice. Samson Flexor: do figurativismo ao abstracionismo. São Paulo: MWM-IFK : Edusp, 1990. 759.98106 F619b
- COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Anna Bella. Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1987.
- COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Anna Bella. Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1987. 709.8104 C659a
- FLEXOR, Samson. Samson Flexor: a dobra do desenho. São Paulo: MAC/USP, 2008. 1 f. dobrada., il. F619 2008/d
- FLEXOR. Flexor e o abstracionismo no Brasil. São Paulo: MAC/USP, 1991. , il. color.
- FLEXOR. Flexor e o abstracionismo no Brasil. Texto Gabriela Suzana Wilder, Alice Brill; curadoria Alice Brill; fotografia Romulo Fialdini; texto Jacques Douchez. São Paulo: MAC/USP, 1990. [12] p., il. color. F619 1990
- FLEXOR. Flexor. São Paulo: MAM, 1961.
- FLEXOR. Flexor. São Paulo: MAM, 1961. F619 1961
- FLEXOR. Modulações. Curadoria Denise Mattar. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. 136 p. CAT-G F619m 2003
- FLEXOR. Modulações.São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. 136 p., il. p&b color.
- FLEXOR. Samson Flexor. São Paulo: Galeria São Paulo. 10 p., il. color. F619
- FLEXOR. Samson Flexor: obras de 1921 a 1971. São Paulo: José Duarte de Aguiar & Ricardo Camargo, 1988. folha dobrada, 2 il. color.
- MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet - 1955 - 1956. 2.ed. São Paulo: Martins, 1981. v.10.
- MILLIET, Sérgio. Diário crítico de Sérgio Milliet - 1955 - 1956. 2.ed. São Paulo: Martins, 1981. v.10. 869.909 M654d v.10
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987. 709.8104 Cg492pr
- PROJETO Arte Brasileira: Abstração Geométrica 2. Apresentação Iole de Freitas; texto Paulo Venancio Filho. Rio de Janeiro: Funarte, 1988. [45] p., il. p&b. color. RJfunarte 1988/ab
- PROJETO Arte Brasileira: abstração geométrica 2. Rio de Janeiro: Funarte. Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1988. 45 p., il. p.b. color.
- SAMSON Flexor: 1907-1971. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1975.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
FLEXOR.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9236/flexor. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7