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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Januário Garcia

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.11.2023
16.11.1943 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
30.06.2021 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Januário Garcia Filho (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1943 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021). Fotógrafo. É autor de célebres capas de discos da Música Popular Brasileira (MPB) e promotor da valorização da imagem da comunidade negra. Sua articulação política junto ao movimento negro o leva a realizar extenso registro fotográfico por mais de ...

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Januário Garcia Filho (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1943 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021). Fotógrafo. É autor de célebres capas de discos da Música Popular Brasileira (MPB) e promotor da valorização da imagem da comunidade negra. Sua articulação política junto ao movimento negro o leva a realizar extenso registro fotográfico por mais de 40 anos, compondo parte importante da memória visual da resistência e da luta pela igualdade racial.

Por volta dos 7 anos de idade, em processo de alfabetização, aprende a fazer um projetor artesanal na revista infantil O Tico-Tico. quando surge seu interesse pela imagem. Frequenta o cinema do bairro Santa Tereza,na capital mineira, nas manhãs seguintes às sessões para conseguir pedaços de filmes descartados. Com esse material, faz pequenas apresentações em casa para as crianças da vizinhança.

Em torno dos 12 anos, fica órfão de mãe e sai de casa sozinho, deixando os três irmãos. Toma um trem no terminal de cargas próximo a sua casa e segue para o Rio de Janeiro sem saber. Engraxa sapatos e dorme nas ruas ou nos abrigos públicos da cidade. É encaminhado ao Serviço de Assistência a Menores aos 16 anos e, no ano seguinte, ingressa no curso de paraquedismo do Exército Brasileiro, onde também conclui o ensino primário e secundário. Nesse período, adquire uma câmera Olympus Trip 35 e fotografa seus colegas nos saltos.

Aprende inglês e frequenta as aulas de história da arte ministradas pelo crítico e historiador Mario Barata (1921-2007) no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA). Também estuda na International News Cameramen Association do Rio de Janeiro. Devido à participação no Movimento Estudantil, deixa a carreira militar pouco antes de 1964. Decide se consolidar na fotografia e adquire uma câmera Pentax Spotmatic II. Trabalha para jornais independentes e, posteriormente, para grandes veículos de comunicação, como O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Manchete. Opta por ser freelancer para não comprometer sua autonomia e continuar se posicionando quanto às questões raciais.

É convidado pelo fotógrafo húngaro Georges Racz (1937) para ser seu assistente e, pouco depois, para substitui-lo como professor no curso de fotografia do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/Rio). Acompanha publicações norte-americanas voltadas à cultura negra e à luta pelos direitos civis, como a revista Ebony, o que chama atenção de um de seus alunos, que lhe informa sobre a organização de um grupo negro no Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes.

Percebendo a importância das reuniões e de constituir uma memória visual da articulação sociopolítica do povo negro no período, registra o cotidiano do grupo e suas ações. Torna-se um dos fundadores do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, em 1975 – no qual exerce a presidência –, e do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978.

Ingressa no meio publicitário evidenciando situações de racismo nas propagandas e valorizando a imagem da população negra. Sensibiliza o Clube de Criação do Rio de Janeiro1 a realizar peças institucionais e a dialogar com as agências para fomentar a reflexão sobre a forma estereotipada de apresentação de pessoas negras na publicidade ou seu apagamento e para inserir mais atrizes, atores e modelos negros em campanhas. Em 1984, funda o Centro Brasileiro de Informação do Artista Negro junto à atriz Zezé Motta (1944).

Interessado em articular seu trabalho no campo da imagem com a música em busca de maior criatividade, passa a fotografar capas para discos. Inicialmente encontra resistência, mas sua colaboração junto aos intérpretes, a atenção ao acompanhar o processo de gravação e sua capacidade inventiva fazem com que Januário Garcia ganhe cada vez mais espaço. São dele as fotografias de álbuns como Alucinação (1976), do cantor Belchior (1946-2017); Coisas do meu pessoal (1977), da cantora Leci Brandão (1944); Muito (1978) e Cores, nomes (1982), do cantor Caetano Veloso (1942).

Sua atuação dupla como fotógrafo e ativista do Movimento Negro, levam-no a viajar pelo mundo, constituindo um grande acervo da população negra da diáspora em cerca de 36 países. Um recorte de seu extenso trabalho fotográfico é apresentado no livro 25 anos do Movimento Negro no Brasil - 1980-2005 (2006). Após atravessar o cone sul-americano, desenvolve a exposição Diásporas africanas na América do Sul - Uma ponte sobre o Atlântico – publicada como livro em 2008 –, que passa pelo Museu Nacional do Senegal e pelo Museu das Culturas do Mundo, no México, entre outros locais.

Buscando divulgar o conjunto de sua obra e, principalmente, preservar a memória da vivência negra que ela compreende, idealiza a criação do Instituto Januário Garcia: Documentos e Fotografias de Matrizes Africanas. A partir de julho de 2020, inicia a catalogação do trabalho em conjunto com os pesquisadores do Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

O entendimento de si como um fotógrafo negro no Brasil e da imagem como um âmbito de disputa, afirmação e transformação social levam Januário Garcia a transitar pelo fotojornalismo, pela fotografia publicitária e documental sem dissociar sua prática artística da resistência contra a opressão racial e da luta para assegurar os direitos da comunidade negra.

Notas

1. O Clube de Criação do Rio de Janeiro é uma instituição criada em 1975 e pautada pela valorização da criatividade na publicidade brasileira.

Exposições 36

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