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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Leci Brandão

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
12.09.1944 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Leci Brandão da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Cantora, compositora e percussionista. Importante referência do samba, tem a carreira marcada pelo sucesso de público e de crítica e pelo engajamento na luta por liberdade e direitos. 

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Leci Brandão da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Cantora, compositora e percussionista. Importante referência do samba, tem a carreira marcada pelo sucesso de público e de crítica e pelo engajamento na luta por liberdade e direitos. 

Nascida no bairro carioca de Madureira e criada em Vila Isabel, encontra suas primeiras influências musicais ao escutar sambas e choros no rádio. Autodidata, na juventude aprende a tocar instrumentos de ritmo, como pandeiro e surdo. Aos 21 anos, compõe a primeira canção, “Tema do amor de você”, e em 1968 vence o programa A grande chance, de Flávio Cavalcanti (1923-1986). No começo da década de 1970, forma-se em Direito pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. 

Em 1972, torna-se a primeira mulher a integrar a ala de compositores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. No ano seguinte, apresenta “Quero sim”, parceria com Darcy da Mangueira (1932-2008), no Encontro Nacional de Compositores de Samba. Chega à final do festival Abertura (1973), da Rede Globo, com “Antes que eu volte a ser nada”. A canção autoral dá nome ao primeiro LP da cantor e chama a atenção do jornalista Sérgio Cabral (1937).

Além de ser uma das primeiras intérpretes femininas a compor samba, gênero musical dominado por homens na época, o ineditismo da artista também se manifesta no teor de suas composições, marcadas pela defesa do protagonismo da mulher. O posicionamento fica evidente na faixa “Ser mulher”, em versos como “Ser mulher é muito mais que batom ou bom perfume”. Parte de Questão de gosto (1976), primeiro LP da cantora com a gravadora Philips, o disco traz outras canções pioneiras na defesa da diversidade política, racial e sexual, entre sambas autorais, parceria com Martinho da Vila (1938) em “Mulatinho” e regravação do samba-enredo “Casa Grande e senzala”, defendido pela Estação Primeira Mangueira no Carnaval de 1962. A letra, inspirada na obra do antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987), faz críticas ao regime escravocrata brasileiro. 

Em 1977, lança Coisas do meu pessoal, cujas composições contestam os valores e costumes da época. A canção “Ombro amigo”, que tematiza a liberdade de expressão sexual, é incluída na trilha sonora da novela Espelho mágico da Rede Globo. Em 1978, grava Metades, com composições suas, de Ivan Lins (1945) e Sandra de Sá (1955). Em 1980, lança o último álbum pela Philips, Essa tal criatura, cuja música que dá título ao disco se classifica como finalista do Festival MPB 80, promovido pela Rede Globo. O disco ainda inclui canções como “Não cala o cantor”, que discute o regime militar e critica a exclusão social dos analfabetos.

Pela postura contestatória, depois de cinco discos lançados pela Philips, rescinde o contrato com a gravadora por questões ideológicas e passa cinco anos sem lançar um álbum. Nesse período, prossegue a carreira apenas em shows no Brasil e no exterior. Retoma os lançamentos fonográficos em 1985, quando assina com a Copacabana Discos. 

Por esse selo, lança Leci Brandão (1985), maior sucesso da carreira. O LP tem grande repercussão no país, sobretudo pelo sucesso do samba “Zé do Caroço”, baseado na história verídica de um personagem do morro. O disco traz composições autorais que se tornam conhecidas nacionalmente, como “Isso é Fundo de Quintal” – homenagem ao grupo formado no Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro – e segue a linha de defesa de direitos civis e diversidade com canções como “Assumindo”. 

O disco Dignidade (1987) introduz um traço que se torna predominante a partir de então: sambas de andamento acelerado e partidos-altos, estilo consagrado por nomes como Beth Carvalho (1946-2019) e Zeca Pagodinho (1959), como a faixa “Eu só quero te namorar”. A partir dessa década, inclui em seu repertório canções que enfatizam as raízes brasileiras. Ainda nos anos de 1980, lança  os álbuns Um beijo no seu coração (1988) e As coisas que mamãe me ensinou (1989). 

De 1986 a 1994, atua como comentarista dos desfiles das escolas de samba nas transmissões televisivas, função que retoma em 2002. Em 1990, conquista o prêmio Sharp pelo álbum Cidadã brasileira – Leci Brandão da Silva.  A artista mantém a abordagem crítica ao longo de toda a carreira, com atuações também políticas, integrando, em 2004, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, cargo que exerce por quatro anos.

Em 2005, com músicas bem-recebidas por público e crítica, a sambista comemora 25 anos de carreira e grava seu primeiro disco ao vivo. Em 2007, lança o DVD Canções afirmativas, com uma parceira com o rapper Mano Brown (1970), do Racionais MCs, na contundente faixa “Deixa, deixa”, que conta com versos como “Deixa ele votar / É melhor / Do que ele sacar de uma arma / Pra nos matar”. 

Em 2011, a gravadora EMI lança a coletânea O canto livre de Leci Brandão. O disco Cidadã da diversidade - Ao vivo (2013) dá continuidade à produção fortemente engajada da artista. Em 2016, realiza Simples assim (2016), álbum composto por regravações de antigos sucessos e faixas inéditas. 

Em 2010, filia-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pelo qual é eleita deputada estadual de São Paulo. É reeleita nas eleições de 2014 e 2018. Como parlamentar, atua sobretudo na defesa da cultura popular e em temas como igualdade racial e valorização das tradições de matriz africana. 

Com estilo consistente e canções contestadoras, Leci Brandão quebra paradigmas relacionados à participação da mulher no samba e celebra a variedade da cultura nacional.

Nota

1. LECI BRANDÃO. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, São Paulo. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/deputado/?matricula=300513. Acesso em: 15 jul. 2021.

Fontes de pesquisa 4

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  • CABRAL, Sérgio. Elizeth Cardoso: uma vida. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, [s.d.].
  • FAUSTINO, Oswaldo. Nei Lopes: retratos do Brasil negro. São Paulo: Selo Negro Edições, 2009.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • VIANA, Luiz Fernando. Zeca Pagodinho: a vida que se deixa levar. Rio de Janeiro: Rio Arte: Relume-Dumará, 2003. (Perfis do Rio).

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