Zeca Pagodinho
Texto
Jessé Gomes da Silva Filho (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1959). Cantor, compositor. É um dos responsáveis por mudar a forma de compor, tocar e cantar samba a partir dos anos 1980. Com estilo ao mesmo tempo sofisticado e vibrante, introduz nova sonoridade e faz com que o gênero volte a dialogar com as grandes massas, sem perder qualidade.
Quarto filho de cinco irmãos, nasce e cresce na zona norte do Rio, onde trabalha como camelô, office boy, anotador de jogo do bicho e feirante antes de começar a tocar nas rodas de samba da cidade e nas quadras da escola de samba Portela e do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, dois locais importantes para sua formação musical.
Fruto de uma geração de músicos surgida debaixo da folclórica tamarineira1, Zeca estreia como compositor em 1981, com a canção “Amarguras”, escrita em parceria com Cláudio Camunguelo (1947-2007) e gravada pelo grupo Fundo de Quintal. Dois anos depois, faz o primeiro registro como intérprete na canção “Camarão que dorme a onda leva”, coescrita com Beto Sem Braço (1940-1993) e Arlindo Cruz (1958) e gravada em dueto com Beth Carvalho (1946-2019). Em 1986, lança o primeiro disco solo, com canções como “Brincadeira tem hora” e “SPC”. Segue lançando um álbum por ano até o final da década de 1980, com músicas como “Se tivesse dó”, com Nélson Rufino (1942), e “Saudade louca”.
Nos anos 1990, o pagode ganha espaço na cena musical nacional com o surgimento de diversos grupos. Mesmo com o mercado apontando para outros rumos, Zeca não cede aos apelos das grandes gravadoras, mantém seu estilo, lança mais cinco álbuns – um deles ao vivo – e prova ser possível fazer música para o grande público sem cair nas fórmulas prontas.
Assim, torna-se um dos principais nomes do samba, com sucessos como “Vou botar teu nome na macumba”, que lança com o parceiro e discípulo Dudu Nobre (1973), “Verdade”, “Vai vadiar” e “Seu balancê”. Nos anos 2000, emplaca hits como “Deixa a vida me levar” e ganha quatro Grammys Latinos.
Grande parte do seu sucesso se deve às longevas parcerias com dois músicos renomados: o produtor, arranjador e gaitista Rildo Hora (1939) e o arranjador e violonista Paulão 7 Cordas (1958). Ao lado deles, imprime uma característica marcante: gravações que chegam a contar com mais de 30 músicos, combinando uma pulsação rítmica e percussiva vibrante com a sofisticação de cordas, coros femininos e naipes de metal.
A harmonia dos sambas é formada por acordes simples, não fugindo à regra de intervalos maiores e menores. As melodias quase sempre estão ligadas a uma estrutura desenvolvida em duas partes e um refrão curto. No canto, Zeca é respeitado pela divisão e pelo fraseado modernos, sempre emocionais, aliados à voz rouca, desenvolvida em décadas de boemia.
Para críticos e especialistas, a característica mais marcante da obra do músico é mesclar a influência de mestres do samba, como Hildemar Diniz, o Monarco (1933-2021), e Casquinha da Portela (1922-2018), com uma presença rítmica marcante. Compõe de forma genuína e tradicional – como os sambas de terreiro, que conhece pelos mestres portelenses –, ao mesmo tempo em que cria canções melodiosas e dolentes, que falam de amor.
Desde jovem, é considerado especialista do partido-alto, sabendo versar de improviso, seja qual for o tema, e identificando bons sambas de outros autores, sobretudo os jocosos, que retratam cenas do cotidiano e fazem humor com tipos sociais. É o caso do Trio Calafrio, de quem grava sucessos como “Caviar” e “Dona Esponja”.
Suas gravações são usadas em diversas trilhas de novelas da TV Globo, como Hipertensão (1986-1987), Passione (2010-2011) e Avenida Brasil (2012).
Seja compondo, seja cantando, Zeca Pagodinho ajuda a revitalizar o samba numa época dominada pelo rock e não se deixa levar pelo arrastão do pagode nos anos 1990. Com uma espécie de simplicidade sofisticada, constrói uma carreira bastante produtiva, com muitos álbuns e canções de sucesso, interpretadas por sua voz rouca e marcante.
Notas
1. Essa tamarineira fica na quadra da escola de samba do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. Conta a lenda que é abençoada por Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) e que os sambistas que compõem sob ela alcançam sucesso.
Fontes de pesquisa 2
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- VIANA, Luiz Fernando. Zeca Pagodinho: a vida que se deixa levar. Rio de Janeiro: Rio Arte: Relume-Dumará, 2003. (Perfis do Rio).
Como citar
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ZECA Pagodinho.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12464/zeca-pagodinho. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7