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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Fundo de Quintal

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.11.2022
1980
O grupo Fundo de Quintal contribui para a transformação do samba nos anos 1980, com inovações que são experimentadas nas rodas do bloco de carnaval Cacique de Ramos e consagradas nos discos. A adaptação do banjo com afinação de cavaquinho e a invenção do repique de mão e do tantã são subversões na instrumentação que surgem com o grupo. Além diss...

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O grupo Fundo de Quintal contribui para a transformação do samba nos anos 1980, com inovações que são experimentadas nas rodas do bloco de carnaval Cacique de Ramos e consagradas nos discos. A adaptação do banjo com afinação de cavaquinho e a invenção do repique de mão e do tantã são subversões na instrumentação que surgem com o grupo. Além disso, a formação do Fundo de Quintal inclui importantes compositores que se destacam posteriormente em carreira solo. São os casos de Almir Guineto (1946-2017), Arlindo Cruz (1958), Jorge Aragão (1949) e Sombrinha (1959).

Os irmãos Ubirany (1940-2020) e Bira Presidente (1937), juntamente com o amigo Sereno (1941), fundam o bloco de carnaval Cacique de Ramos em 1961, no Rio de Janeiro. A partir de 1977, o bloco promove rodas de samba todas as quartas-feiras na sua sede, no bairro Leopoldina, na zona norte carioca. O lugar se torna ponto de encontro de sambistas de diferentes gerações. João Nogueira (1941-2000), Martinho da Vila (1938), Roberto Ribeiro (1940-1996) e Zeca Pagodinho (1959) são alguns dos frequentadores notórios. Além de ser um celeiro de novos compositores, a roda populariza transformações na instrumentação do samba.

Almir Guineto adapta o banjo, instrumento até então associado à música country estadunidense, com a afinação e o braço de cavaquinho. Ele desenvolve a ideia com o amigo sambista e humorista Mussum (1941-1994), com quem integra o grupo Originais do Samba, antes de ingressar no Fundo de Quintal. A intenção é desenvolver um instrumento de cordas com volume mais alto, para acompanhar e não soar abafado pela massa sonora da percussão. Junto com a criação do próprio instrumento, ele desenvolve uma batida muito veloz para acompanhar o ritmo de outras duas criações surgidas no Cacique de Ramos: o tantã e o repique de mão. O compositor, escritor e estudioso de culturas africanas Nei Lopes (1942) diz que o banjo de Guineto soa como um reco-reco harmônico.

O tantã é desenvolvido por Sereno. Com um som grave e tocado sobre uma das pernas, é um tambor semelhante ao atabaque com um som grave. O percussionista cria o instrumento para substituir o surdo na marcação rítmica do samba. Justamente para introduzir uma batida sincopada à marcação do tantã, Ubirany cria o repique de mão, que é uma adaptação do repinique, instrumento comum nas escolas de samba. Em vez de baqueta, o repique de mão, como o próprio nome diz, é tocado com as mãos diretamente na pele que recobre o instrumento. Ubirany percebe que o som do repinique é muito estridente e o adapta para deixar o som mais nítido, tirando a pele de um dos lados e inserindo travas de madeira.

As inovações chamam a atenção da cantora Beth Carvalho (1946-2019). Em 1978, ela grava o álbum De pé no chão e leva, pela primeira vez, a formação instrumental popularizada nas rodas do Cacique de Ramos para um estúdio de gravação. A primeira música do repertório é o clássico “Vou festejar”, composição de Jorge Aragão em parceria com Dida (1940) e Neoci Dias (1937-1981). O sucesso do LP motiva a gravadora RGE a gravar o álbum de estreia do Fundo de Quintal, Samba é no fundo de quintal (1980). A primeira formação do grupo conta com Bira Presidente, Ubirany, Sereno, Neoci, Almir Guineto, Jorge Aragão e Sombrinha.

Nos discos seguintes, lançados ao longo dos anos 1980, o grupo se firma como um laboratório de renovação da linguagem do samba e dá vazão a um repertório de composições criadas não só pelos seus integrantes, mas por outros sambistas que frequentam o Cacique de Ramos, como Beto Sem Braço (1941-1993), Luiz Carlos da Vila (1949-2008), Nei Lopes, Noca da Portela (1932) e Wilson Moreira (1936-2018). Já em 1981, o grupo tem sua primeira mudança de formação: Neoci morre e Almir Guineto e Jorge Aragão saem em carreira solo. Entram, então, Arlindo Cruz e Valter Silva (1940), que gravam o segundo LP do grupo, Samba é no fundo do quintal – vol. 2.

A fase seguinte registra a saída de Valter Silva e a entrada do violonista Cleber Augusto (1950). Com a nova formação, o grupo grava sete LPs de estúdio e um ao vivo entre 1983 e 1990. O período consagra o legado do Fundo de Quintal, com grande êxito comercial. O LP O mapa da mina (1986), vende 250 mil cópias e garante ao grupo o primeiro disco de platina da carreira. É também nesta fase que o termo “pagode” se populariza como um subgênero do samba, identificando justamente o estilo criado pelo Fundo de Quintal, em que a formação instrumental já não se baseia mais na tradicional combinação de cavaquinho, violão e pandeiro.

Nas décadas seguintes, o grupo segue em uma constante troca de músicos em sua formação e com uma produção que mescla o lançamento de repertório inédito com trabalhos que revisitam os clássicos lançados na década de 1980. A partir de 2000, a indústria fonográfica vive uma crise que provoca uma queda nas vendas dos discos associados ao pagode. O Fundo de Quintal, então, prioriza as turnês pelo Brasil e os discos ao vivo e lança apenas três álbuns de estúdio entre 2004 e 2020: Pela hora (2006), Nossa verdade (2011) e Só felicidade (2014). O mesmo período registra o lançamento de sete discos ao vivo.

O estilo divulgado de forma massiva nos anos 1980 faz grande sucesso comercial na década seguinte com uma nova estética (em que os teclados têm maior evidência) por intermédio de grupos como Exaltasamba e Raça Negra. 

Fundo de Quintal é um dos grupos mais importantes da história do samba e o principal responsável pela popularização do subgênero pagode. As inovações na instrumentação promovidas por integrantes do grupo são assimiladas por outros artistas e se tornam uma marca profunda para a evolução do samba.

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