Jorge Aragão
Texto
Jorge Aragão da Cruz (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1949). Compositor, cantor, instrumentista. Conhecido, entre seus pares, como “o poeta do samba”, Jorge Aragão é autor de uma obra permeada pelo acento melódico e pelo lirismo. Algumas de suas composições, eternizadas na voz de grandes intérpretes, são muito populares na música brasileira. O músico se destaca ainda por trazer, junto com outros sambistas, inovações ao modo de fazer samba.
Cresce no bairro de Padre Miguel, subúrbio do Rio de Janeiro. Aprende a tocar violão de ouvido, por volta dos 11 anos. Antes de se dedicar exclusivamente à música, exerce diversos ofícios, entre os quais representante comercial de um fabricante de calçados, carregador, técnico de ar-condicionado e cronometrista de corrida de motocicletas. Autodidata, aprende também cavaquinho e guitarra, instrumento com o qual inicia a carreira, como músico de baile. Essa experiência dá a Aragão certa versatilidade. Um exemplo disso é o samba rock "Cabelo Pixaim", em parceria com João Batista Alcântara (o Jotabê), em compacto simples.
Introduzido por Neoci Dias (1937-1981) no bloco carnavalesco Cacique de Ramos, passa a frequentar os pagodes na quadra do bloco, nos quais os integrantes se reúnem para confraternizar e tocar informalmente. Lá, apresenta suas composições, tendo seu samba "Malandro" (parceria com Jotabê) revelado pela cantora Elza Soares (1937-2022) em 1976. A carreira como compositor deslancha com as gravações dos sambas “Vou Festejar”, em 1978, em parceria com Dida (1940) e Neoci, e “Coisinha do Pai”, em 1979, em parceria com Almir Guineto (1946-2017) e Luiz Carlos da Vila (1949-2008), ambos interpretados pela cantora Beth Carvalho (1946-2019). A música “Vou Festejar” é um dos maiores sucessos do compositor, tornando-se uma espécie de grito de guerra das torcidas de futebol no Rio de Janeiro.
Nessa época, Aragão forma, com os sambistas Bira Presidente (1937), Ubirany (1940-2020), Sereno do Cacique (1952), Almir Guineto e Neoci, o conjunto Fundo de Quintal, cujo primeiro disco Samba é no Fundo de Quintal é lançado em 1980. O grupo, originado no bloco Cacique de Ramos, chama atenção por fazer um samba distinto daquele que havia se tornado trilha do carnaval televisionado, atraindo agentes e sendo legitimado por intérpretes reconhecidos. Privilegia dois subgêneros do samba: o partido-alto e o samba de carnaval (ou de embalo). Uma das principais mudanças propostas por esse grupo em relação ao samba tradicional é a instrumentação, que se torna mais portátil para viabilizar os pagodes nas casas de seus membros. Na ausência de microfones e amplificadores, as percussões são minimalistas, para permitir a audição da voz e dos outros instrumentos. O banjo com braço de cavaquinho é introduzido para reforçar a harmonia, além de outros instrumentos menos usuais no samba, como o tantã e o repique de mão. No ano seguinte, em 1981, Aragão deixa o grupo para seguir carreira solo. Lança os álbuns Jorge Aragão (1981) e Verão (1983) pela Ariola Records, mas sem grande repercussão. Isso muda quando o artista é contratado pela gravadora RGE e lança o terceiro álbum Coisa de Pele, em 1986. A canção que dá título ao disco é gravada no mesmo ano por Beth Carvalho e alcança algum sucesso, jogando luz ao trabalho solo do compositor. Desse álbum, destaca-se também o samba “Ponta de Dor”, uma parceria com Sombrinha (1959), cujas modulações denotam harmonias sofisticadas, tendo como referência mais instrumentos melódicos que rítmicos. Em 1987, viaja para Angola para acompanhar Martinho da Vila (1938) ao cavaquinho e, no mesmo ano, torna-se comentarista da Rede Globo nas transmissões dos desfiles do grupo especial das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Nos anos 1990, compõe a música-tema da vinheta “Globeleza” (em 1992), presente desde então na cobertura do carnaval da TV Globo, e lança mais uma série de discos – entre eles, A Seu Favor (1990), Chorando Estrelas (1992) e Acena (1994). Porém, como aponta o jornalista Mauro Ferreira (1965)1, mesmo com uma trajetória sólida e sua legitimidade no mundo do samba, o artista se mantém, à época, em um nicho específico de público. O lançamento dos discos Jorge Aragão Ao Vivo 1, em 1999, e Jorge Aragão Ao Vivo 2, em 2000, traz novo fôlego à carreira do compositor, ampliando sua popularidade e conferindo-lhe grande sucesso de público – os dois álbuns atingem, cada um, mais de 750 mil cópias vendidas e reúnem músicas de sua autoria até então inéditas na voz de Aragão.
O sucesso desses dois trabalhos rende ainda outros discos ao vivo nos anos 2000. Em 2016, a empresa Musickeria lança o Sambabook Jorge Aragão, que celebra seus 40 anos de carreira. Apesar de o samba figurar em grande parte do repertório do compositor, a formação musical dentro de bandas de baile permite o trânsito também por outros gêneros. Dentre as amostras de seu ecletismo consta a gravação das "Bachianas", de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e da “Ave Maria”, do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), em 2002, e uma versão em português, feita por ele próprio, para a música “Can’t Take My Eyes Off You” (“O céu nas mãos”), do grupo estadunidense Frankie Valli & The Four Seasons, em 2004.
A obra de Jorge Aragão constitui parte essencial da música popular brasileira. Além das inovações rítmicas, o sambista se destaca por ter produzido verdadeiros hinos, entoados pelos brasileiros em diferentes situações, como nas celebrações do futebol. É, assim, um artista vital à cultura nacional.
Nota
1. FERREIRA, Mauro. Discos para descobrir em casa: 'A seu favor', Jorge Aragão, 1990. G1, 28 maio 2020. Pop & Arte. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/05/28/discos-para-descobrir-em-casa-a-seu-favor-jorge-aragao-1990.ghtml. Acesso em: 17 jun. 2022.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- ARAGÃO, Jorge. Entrevista concedida por Jorge Aragão a Rodrigo Sanfelice da Cunha. Carta Maior, 31 dez. 2004. Disponível em: < http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Jorge-Aragao---Entrevista-exclusiva/12/6239 >. Acesso em: 22 nov. 2016.
- DINIZ, André. Almanaque do samba: a história do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
- FERREIRA, Mauro. Beleza da obra de Aragão paira acima dos altos e baixos de ‘Sambabook’. O Globo, Rio de Janeiro, 26 jul. de 2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/beleza-da-obra-de-aragao-paira-acima-dos-altos-e-baixos-de-sambabook.html >. Acesso em: 23 nov. de 2016.
- JORGE Aragão lança 'Samba Book' para festejar 40 anos de carreira. O Dia, Rio de Janeiro, 19 jul. de 2016. Disponível em: < http://odia.ig.com.br/diversao/2016-07-19/jorge-aragao-lanca-samba-book-para-festejar-40-anos-de-carreira.html >. Acesso em: 21 nov. de 2016.
- PINTO, Waldir de Amorim. O estúdio não é o fundo de quintal: convergências na produção musical em meio às dicotomias do pagode nas décadas de 1980 e 1990. Tese (Doutorado em Música) - Instituto de Artes da Unicamp, Campinas, 2013.
- RIBEIRO, Leisa. O samba diferente de Jorge Aragão. Universo Musical, [s/d.]. Disponível em: < http://www.universomusical.com.br/materia.asp?mt=sim&cod=sp&id=264 >. Acesso em: 23 nov. de 2016.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
JORGE Aragão.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa638728/jorge-aragao. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7