Heitor Villa-Lobos
Texto
Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1887 – Idem, 1959). Compositor, regente, violoncelista. Destaca-se como um dos mais inovadores compositores do século XX, sendo um importante nome do movimento modernista brasileiro.
Filho de Raul Villa-Lobos (1862-1899), músico amador e autor de livros didáticos, e Noêmia Umbelina Santos Monteiro (1859-1946). Ainda criança, estuda música com o pai e toca clarineta e violoncelo. A tia paterna, Leopoldina Villa-Lobos do Amaral, pianista, apresenta-lhe a obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), referência para toda sua vida. Com a morte do pai, em 1899, ajuda no sustento da família tocando violão e violoncelo. Aprende a tocar violão para participar dos grupos de choro. O primeiro grupo de que participa é o do violonista Quincas Laranjeiras (1873-1935). A convivência no ambiente do choro carioca, a participação em orquestras de cinema e a excursão pelo nordeste num grupo de músicos mambembes possibilitam a Villa-Lobos a experiência musical que marca sua trajetória. Uma música fluente, espontânea e pouco afeita aos cânones tradicionais.
Em 1910, é contratado como violoncelista de uma companhia de operetas e compõe com mais frequência. Na década de 1910, o modelo cultural vigente ainda é o modernismo francês da virada do século. Os anos que antecedem sua partida para a Europa são de afirmação profissional para ser aceito por seus pares. Nessa época, sua produção é marcada pela influência francesa e sem os elementos estéticos da música popular, com a qual ele tem intimidade.
Na década de 1920, escreve os Doze estudos para violão, dedicados ao violonista espanhol Andrés Segovia (1893-1987). A consolidação de sua carreira passa pelas obras da década de 1920, principalmente as séries dos choros, das cirandas e das cirandinhas. Estas composições fazem parte do período em que vive em Paris, onde obtém o reconhecimento que lhe abre as portas no Brasil.
Em 1922, participa da Semana de Arte Moderna, no Theatro Municipal de São Paulo. Para o crítico José Miguel Wisnik (1948) a conjunção entre a personalidade de Villa-Lobos e o contexto brasileiro, especialmente a renovação representada pela Semana de Arte Moderna, é que teria impulsionado a incorporação de elementos populares em sua música após 19221.
Ao chegar a Paris, em 1923, encontra um cenário cultural em que as ideias do compositor francês Claude Debussy (1862-1918) são contestadas por uma vanguarda musical. A valorização do exótico, proveniente de culturas distantes e estranhas ao universo francês, está em alta. Assim, quando Villa-Lobos aterra na capital francesa, “toda uma série de pequenos contatos e interações […] agiu no sentido de convencê-lo aos poucos da imperiosa necessidade de sua conversão, de sua transformação em um compositor de músicas de caráter nacional. Como consequência, ele deixaria de tentar compor de acordo com as regras estéticas de compositores franceses, tão valorizadas no Brasil, para tentar retratar sua nação musicalmente, um projeto especialmente valorizado na França”, afirma o pesquisador Paulo Renato Guérios2.
Ao mesmo tempo em que, colaborando com o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), desenvolve um programa de educação musical por meio do canto orfeônico, escreve uma série de obras que buscam unir a estética de Bach ao universo musical brasileiro. Para diferentes formações, as nove peças, escritas entre 1930 e 1945, utilizam canções folclóricas e urbanas e alguns de seus trechos estão entre os mais populares do compositor, como a tocata “O trenzinho do caipira” de “Bachianas brasileiras nº 2” e a cantilena de “Bachianas brasileiras nº 5”.
Entre 1927 e 1930, dedica-se ao ciclo fundamental das “Bachianas brasileiras”. Em 1931, reúne 60 mil pessoas em uma comemoração cívico-artística no parque Antártica, em São Paulo. O projeto que idealiza sobre o canto orfeônico é inspirado em exemplos alemães, por ocasião de suas visitas a algumas cidades da Alemanha, nos anos 1920. O ensino de canto orfeônico nas escolas primárias e normais é concretizado durante os anos 1930 com a criação de um curso para a formação de professores, de um orfeão artístico e de um orfeão para cada escola, além da organização de discotecas e bibliotecas especializadas. A realização de grandes concentrações orfeônicas reúne milhares de crianças e adolescentes. Getúlio Vargas, interessado no ideal de desenvolvimento do senso de civismo e brasilidade nas crianças, aprova a criação da Superintendência da Educação Musical e Artística (Sema), em 1932.
Com um catálogo que ultrapassa mil títulos, Villa-Lobos compõe óperas, concertos para violão, piano, violoncelo, 12 sinfonias, fantasias, música sacra, música de câmara, obras orquestrais, canções e outras peças essenciais para a literatura pianística, como o “Ciclo brasileiro”, “Prole do bebê” e o “Rudepoema”, dedicado ao pianista estadunidense Artur Rubinstein (1887-1982). As partituras de Villa-Lobos revelam que, além da preocupação com uma identidade nacional, existe uma inquietude quanto aos procedimentos que se tornam acadêmicos, destituídos de significação para a música de seu tempo.
Revolucionário para o seu tempo, Villa-Lobos deixa uma marca fundamental para a música brasileira ao valorizar a identidade nacional e pensar a música clássica para além da academia.
Notas
1. FRÉSCA, Camila. Villa-Lobos e a invenção da música brasileira. Revista Cult, São Paulo, n. 141, nov. 2009. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/villa-lobos-e-a-invencao-da-musica-brasileira/. Acesso em: 7 jun. 2016.
2. Ibidem.
Obras 2
Espetáculos 14
Espetáculos de dança 6
Exposições 5
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13/2/1922 - 17/2/1922
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2/5/1972 - 2/7/1972
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26/10/2001 - 14/1/2000
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30/11/2003 - 2/3/2002
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26/8/2015 - 11/1/2014
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 11
- CARVALHO, Hermínio Bello de. O canto do pajé - Villa-Lobos e a música popular brasileira. Rio de Janeiro: e&t, 1988.
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- CONTIER, Arnaldo Daraya. Passarinhada do Brasil: canto orfeônico, educação e getulismo. Bauru: Edusc, 1998.
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011.
- FRÉSCA, Camila. Villa-Lobos e a invenção da música brasileira. Revista Cult, São Paulo, ed. 141, nov./2009. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/villa-lobos-e-a-invencao-da-musica-brasileira/. Acesso em: 7 jun. 2016.
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- MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1989.
- NEGWER, Manuel. Villa-Lobos: o florescimento da música brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
- SALLES, Paulo de Tarso. Villa-Lobos: processos composicionais. Campinas: Editora Unicamp, 2009.
Como citar
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HEITOR Villa-Lobos.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa11902/heitor-villa-lobos. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7