Arlindo Cruz
Texto
Arlindo Domingos da Cruz (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1958). Cantor, compositor e instrumentista. Filho de músico amador e irmão do compositor Acyr Marques (1953), Arlindo Cruz tem contato com a música desde a infância, em casa e no convívio com sambistas como Candeia (1935-1978), a quem considera seu padrinho musical e com quem grava os primeiros discos. Com 7 anos, ganha o primeiro cavaquinho e tem lições com o pai. Posteriormente, estuda teoria musical e violão clássico por dois anos. Aos 15 anos, muda-se para Barbacena, Minas Gerais, para estudar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR). Nesse período, participa do coral da escola e faz suas primeiras composições, participando de festivais em Barbacena e Poços de Caldas.
Ao deixar a Aeronáutica, começa a participar da roda de samba do Cacique de Ramos, frequentada também por Jorge Aragão (1949), Beth Carvalho (1946), Beto sem Braço (1940-1993), Ubirany (1940), Almir Guineto (1946-2017) e jovens músicos como Sombrinha (1959) e Zeca Pagodinho (1959). Seu talento como compositor logo é reconhecido e tem 12 músicas gravadas por vários intérpretes no primeiro ano de Cacique, como os sambas “Lição de Malandragem” e “Novo Amor”, esse último sucesso na voz de Alcione (1947), os dois em parceria com Rixxa.
Nos anos 1980, ingressa no grupo Fundo de Quintal, no qual atua por mais de uma década. Com o grupo, lança vários sucessos, como o samba “Só Pra Contrariar”(1986), parceria com Sombrinha e Almir Guineto. Em 1993, inicia a carreira solo com o disco Arlindinho, homenagem ao filho Arlindo Neto (1991), que também ingressa na carreira artística como cantor e compositor. No ano seguinte, sem abandonar os projetos individuais, forma dupla com Sombrinha, com quem realiza apresentações ao longo dos anos 1990 e 2000.
A partir da década de 1990, Arlindo Cruz passa a concorrer nas eliminatórias de samba-enredo da escola de samba Império Serrano. O samba de 1996, “E Verás que um Filho Teu não Foge à Luta” é de sua autoria, em parceria com Aluísio Machado (1939), Lula, Beto Pernada e Índio do Império. Em 2008, concorre em outra escola, e assina o tema do desfile da Grande Rio com o enredo “Do Verde de Coarí Vem Meu Gás, Sapucaí!”. Compõe também para a Unidos de Vila Isabel e Império Serrano. Em 2012, assina o enredo das duas escolas.
Estabelece diálogos com a MPB e com o hip hop de Marcelo D2 (1967), popularizando as rodas de samba entre os jovens. Tem mais de 500 músicas gravadas por diversos artistas, e é considerado o principal difusor da utilização do banjo no samba.
Em uma de suas composições, “Batuques do Meu Lugar” (2012), parceria com Rogê (1975), Arlindo Cruz revela que sua arte vem da força do batuque do som do surdo e pandeiro, com ganzá e tamborim, dos terreiros onde se reverencia o samba e se mantém viva a tradição dos tambores de xangô. O legado de manifestações afro-brasileiras, religiosas e musicais, presentes nos redutos do samba carioca dão o tom de sua música. O compositor afirma-se na narrativa musical que está nas origens do samba na Casa da Tia Ciata com Donga (1890-1974), Pixinguinha (1897-1973) e Joāo da Baiana (1887-1974). Passa pelas rodas de samba promovidas por Candeia e chega aos pagodes no Cacique de Ramos e do grupo Fundo de Quintal. O estudo de violão clássico dá aos sambas uma riqueza harmônica nem sempre presente no gênero, visto que seus compositores são mais intuitivos que técnicos. Durante a carreira, Arlindo transita do partido-alto ao samba-enredo, abordando temas sentimentais e de fundo social.
Exímio instrumentista, começa a carreira em 1974, tocando cavaquinho na gravação do disco Samba de Roda (1974), de Candeia. No final dos anos 1970, trava contatos musicais por meio das rodas de samba do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, reduto dos principais sambistas do Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980. Tais sambistas têm no bloco a principal plataforma de projeção, alcançando visibilidade por intermédio do “pagode de fundo de quintal” ou “de mesa”, manifestações não propriamente carnavalescas, cada vez mais comuns no ambiente musical carioca da época. Os encontros do bloco Cacique de Ramos originam o termo “pagode” que define um estilo de interpretação do samba e um subgênero de canção popular1.
O novo estilo chega ao mercado por meio das gravações do Grupo Fundo de Quintal, no qual Arlindo Cruz ingressa em 1981, substituindo Jorge Aragão. Com a nova formação, o grupo lança o disco Raça Brasileira (1985), responsável pela consolidação do pagode, influenciado pela tradição do partido-alto, e pelo lançamento de intérpretes consagrados no samba como Zeca Pagodinho. Participa da gravação de dez discos do grupo, alguns de grande sucesso como Do Fundo do Nosso Quintal (1987) e O Show Tem que Continuar (1988).
Na década de 1980, ele organiza também o Pagode do Arlindo, em Cascadura, subúrbio carioca. Em 1993, deixa o grupo Fundo de Quintal para lançar-se em carreira solo com o disco Arlindinho, com músicas de sua autoria e parcerias com Sombrinha, Zeca Pagodinho, Acyr Marques, entre outros. No ano seguinte, forma dupla com Sombrinha, também ex-integrante do Fundo de Quintal. Realizam apresentações, participações especiais e lançam discos ao longo dos anos 1990 e 2000, como Pra Ser Feliz (1998). Nele, gravam um dos maiores sucessos da dupla, em parceria com Marquinho PQD (1959), o samba “É Sempre Assim”. Em 2002, a dupla faz a última apresentação e grava o disco Hoje Tem Samba, com participações especiais de Beth Carvalho, Jamelão (1913-2008), Velha Guarda da Portela e Império Serrano, concluindo uma parceria de quase uma década.
Arlindo Cruz estabelece outras parcerias com artistas como Jorge Aragão, Dona Ivone Lara (1921) e Beto Sem Braço. Muitos de seus sambas fazem sucesso como “Casal Sem Vergonha”, com Acyr Marques, gravado em 1996 por Zeca Pagodinho. Beth Carvalho grava “Partido Alto Mora no Meu Coração”, de 1986, parceria com Sombrinha e Acyr Marques.
Nos anos 2000, o artista mantém o Pagode do Arlindo com apresentações regulares no Teatro Rival BR, centro do Rio de Janeiro, e em renomadas casas de show cariocas. Algumas de suas músicas compõem trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, como o samba Ninguém Merece (2005), parceria com Jorge David e Acyr Marques que, na voz de Zeca Pagodinho, compõe a trilha de A Lua Me Disse (2005) e o samba “Não Dá”(2009), com Wilson das Neves, na novela Insensato Coração (2011). Também compõe para a emissora, em 2008, o jingle “Samba da Globalização”, com Franco Lattari (1952), Hélio de La Peña (1959) e Mu Chebabi.
Em 2011, lança o disco Batuques e Romances, com composições inéditas e regravações, com participações de Ed Motta (1971) e Zeca Pagodinho. No mesmo ano, lança a coletânea Arlindo Cruz Convida, que reúne Maria Rita (1977), Dona Ivone Lara, Teresa Cristina (1968), Sandra de Sá (1955), Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, gravado entre 2007 e 2009. Em 2012, lança o disco e DVD Batuques do Meu Lugar com participações de Alcione, Caetano Veloso (1942), Marcelo D2 (1967), Rogê, Seu Jorge (1970), Sombrinha e Zeca Pagodinho (1959).
Cultuado pela mídia, o artista é requisitado para celebrar os eventos que o Brasil sedia na segunda década de 2000. Assim, em parceria com Arlindo Neto e Rogê, assina “Tatu Bom de Bola”, música oficial do mascote da Copa do Mundo do Brasil Fifa 2014 e “Os Grandes Deuses do Olimpo Visitam o Rio de Janeiro”, canção-tema da cidade carioca para as Olimpíadas de 2016.
Nota
1. LOPES, Nei. Pagode, o samba que faz escola. Série IMS: Escolas e samba: Crônica de um divórcio anunciado, 28 jan. 2013. Disponível em: http://www.blogdoims.com.br/ims/pagode-o-samba-que-faz-escola-por-nei-lopes/. Acesso em: 05 mai. 2013.
Obras 1
Fontes de pesquisa 2
- CRUZ, Arlindo. Site oficial. Disponível em: http://arlindocruz.com.br/. Acesso em: 25 maio 2013.
- LOPES, Nei. Pagode, o samba que faz escola. Série IMS: Escolas e samba: Crônica de um divórcio anunciado, 28 jan. 2013. Disponível em: http://www.blogdoims.com.br/ims/pagode-o-samba-que-faz-escola-por-nei-lopes/. Acesso em: 5 mai. 2013
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ARLINDO Cruz.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa478161/arlindo-cruz. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7