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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Marcelo D2

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.05.2024
1967 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Marcelo Maldonado Peixoto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Compositor, cantor, produtor. Inicia a carreira artística no início dos anos 1990, momento em que a cena pop do Brasil é marcada pela fusão de ritmos estadunidenses e brasileiros. Com ênfase na sonoridade regional dos instrumentos de percussão, Marcelo D2 tem trajetória marcada so...

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Marcelo Maldonado Peixoto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Compositor, cantor, produtor. Inicia a carreira artística no início dos anos 1990, momento em que a cena pop do Brasil é marcada pela fusão de ritmos estadunidenses e brasileiros. Com ênfase na sonoridade regional dos instrumentos de percussão, Marcelo D2 tem trajetória marcada sobretudo pelo samba-rap.

Passa a infância na Zona Norte do Rio de Janeiro e, pouco depois da separação dos pais, com 13 anos, deixa a escola e trabalha como entregador de jornais, porteiro, vendedor e camelô. No início dos anos 1990, aos 16 anos, muda-se para a casa do pai no Catete, bairro vizinho ao da Lapa, e entra em contato com o punk rock, o hardcore e o rap.

Em 1992, conhece o rapper Skunk (1967-1994), que o incentiva a se dedicar à música e a formar o Planet Hemp, apresentando-se como D2. Depois da morte prematura de Skunk, D2 passa a dividir o microfone com o rapper BNegão (1972). A banda combina funk-rock com rap e compõe letras que defendem a liberdade para o uso de maconha e relatam o cotidiano violento das ruas do Rio de Janeiro. Com inspiração na cultura hip-hop, o grupo incorpora a forma de cantar e compor dos rappers estadunidenses e as técnicas de mixagem de fragmentos de outras gravações (samples). O rap "Futuro do País", do disco de estreia Usuário (1995), é composto sobre a base de samba e revela o interesse do grupo pela combinação de ritmos diversos. 

Em 1997, a exposição pública do discurso polêmico e transgressivo rende aos músicos da banda a prisão por sete dias sob acusação de apologia ao uso de drogas. Abalado pela experiência, o grupo se desfaz temporariamente, o que abre caminho para a carreira solo de Marcelo D2. 

Em 1998, o artista lança Eu tiro é onda, álbum com raps de sonoridade pesada, grave e abafada, que tematizam o encontro do rapper com o versador de partido-alto e desenvolvidos sobre a batida eletrônica de funk combinada com samba-jazz do piano e baixo acústico. Em tom de manifesto,"Samba de Primeira", criada em parceria com DJ Nuts, presta homenagem aos partideiros. Esse tom permanece em raps como "Mantenha o Respeito II" e "Batucada", que citam grupos e sambistas como Fundo de Quintal e João Nogueira (1941-2000).

O estilo samba-rap atinge a maturidade no segundo álbum, À procura da batida perfeita, de 2003, nome de uma das faixas do CD e referência ao rap "Looking for the Perfect Beat", de Áfrika Bambaataa (1957), um dos cofundadores do hip hop nos Estados Unidos. O disco inclui coros de samba, som de pandeiro, arranjos de metais (trombone, trompete e saxofone) em estilo soul, a batida do violão bossa-novista de Luiz Bonfá (1922-2001), sampleado na faixa-título, e o repertório sonoro do rap, que inclui os samples e a batida programada no Music Production Center (MPC) (dispositivo utilizado para a composição de música eletrônica). Em "Vai Vendo", D2 se posiciona como mediador ao afirmar que no samba ele representa o rap, homenageando rimadores, partideiros, repentistas e versadores.

A combinação transgressiva da atitude musical punk do "faça você mesmo" com a malandragem carioca continua a gerar controvérsia. Ainda que bem recebida pela crítica interessada no diálogo de ritmos e estilos musicais e pela geração dos anos 1990, o estilo do músico sofre resistência tanto dos partidários das raízes do samba como dos defensores da autenticidade do rap suburbano.

Em 2004, lança o CD e o DVD Acústico MTV. Participam da gravação convidados como o parceiro BNegão e o compositor, cantor e pianista bossa-novista João Donato (1934-2023). Marcelo D2 interpreta suas canções mais representativas e trabalha pela primeira vez sem toca-discos nem MPC, dividindo o palco com 23 músicos ligados a diferentes tradições, do rock, do samba e da bossa nova e da música de concerto. Nessa produção, leva o conceito de acústico às últimas consequências: substitui todos os sons eletrônicos e beats programados por instrumentos acústicos, e os scratches do DJ pelo beatbox (técnica de imitação vocal de percussão e efeitos sonoros).

O samba-rap continua a dar o tom no disco Meu samba é assim, de 2006. A transformação de D2 em fenômeno midiático ressoa em faixas nas quais afirma não abandonar as raízes suburbanas, nem ostentar os símbolos de riqueza recorrentes dos rappers estadunidenses. Em 2008,  lança A arte do barulho, trabalho em que, sem deixar o samba de lado, acelera o andamento das músicas e reintroduz o som das guitarras e recupera a sonoridade do rock presente no trabalho do Planet Hemp.

Marcelo D2 constrói seu trabalho musical, tanto no Planet Hemp como na carreira solo, tendo como marcas o discurso transgressivo e o interesse pela fusão de ritmos, sobretudo entre o rap e o samba.

 

Obras 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • ACÚSTICO MTV. Marcelo D2. São Paulo: Sony Music; MTV; Estúdios Mega, 2004. 1 DVD, (61 min.), son., color.
  • B NEGÃO. Um rapper artesão. In: NAVES, Santuza Cambraia; COELHO, Frederico Oliveira; BACAL, Tatiana. A MPB em discussão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. [entrevista].
  • COELHO, Frederico Oliveira. Suingue e agitação: apontamentos sobre a música carioca contemporânea. IN: GIUMBELLI, Emerson; VALADÃO, Júlio César; NAVES, Santuza Cambraia (Orgs.). Leituras sobre a música popular: reflexões sobre sonoridades e cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
  • LEMOS, Antonina. O grupo Planet Hemp lança seu primeiro disco e aquece a questão da descriminalização da maconha. Folha de São Paulo, São Paulo, 20 mar. 1995. Folhateen. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/3/20/folhateen/19.html>. Acesso em: 12 jun. 2010.
  • LEVINSON, Bruno. Vamos fazer barulho!: uma radiografia de Marcelo D2. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. [entrevista].
  • SANCHES, Pedro Alexandre. Bêbado, D2 afronta caretice da MTV. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 de jul. 2004. Ilustrada. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1607200415.htm>. Acesso em: 12 jun. 2010.
  • SANCHES, Pedro Alexandre. Nós temos que samplear Tom Jobim, diz D2. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 out. 1998. Ilustrada. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq03109830.htm>. Acesso em: 12 jun. 2010.

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