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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Luiz Bonfá

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.12.2016
17.10.1922 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
12.01.2001 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Luiz Floriano Bonfá (Rio de Janeiro, 1922 – 2001). Violonista, compositor, letrista, cantor. Aos 7 anos, começa a tocar violão de ouvido inspirado pelo pai, violonista amador. Aos 12, torna-se aluno do violonista uruguaio Isaías Sávio (1902-1977) e conquista, no ano seguinte, o terceiro lugar em concurso do programa Hora do Guri, da Rádio Tupi, ...

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Biografia
Luiz Floriano Bonfá (Rio de Janeiro, 1922 – 2001). Violonista, compositor, letrista, cantor. Aos 7 anos, começa a tocar violão de ouvido inspirado pelo pai, violonista amador. Aos 12, torna-se aluno do violonista uruguaio Isaías Sávio (1902-1977) e conquista, no ano seguinte, o terceiro lugar em concurso do programa Hora do Guri, da Rádio Tupi, com uma peça do espanhol Francisco Tárrega (1852-1909).

Em 1944, integra como cantor e violonista o Trio Campesino, liderado pelo paraguaio Amado Smendel, e grava, no ano seguinte, os primeiros discos de violão solo. Em 1946, toca no programa Clube da Bossa, da Rádio Nacional, levado pelo violonista Garoto (1915-1955), cuja forma de tocar o influencia. Entre 1946 e 1952, integra o conjunto Quitandinha Serenaders, com o qual grava diversos discos, e participa de filmes como Este Mundo é um Pandeiro (1947), É com Esse que Eu Vou (1948) e Não É Nada Disso (1950).

Nos anos 1950, compõe sambas-canções, toadas e boleros, gravados por intérpretes consagrados da época. Com Tom Jobim (1927-1994), cria parcerias memoráveis, como “A Chuva Caiu”, gravado por Ângela Maria (1929), e “Engano”, registrado por Dóris Monteiro (1934), ambas de 1956. No ano seguinte, realiza excursão nos Estados Unidos com a cantora Mary Martin (1913-1990). Em 1958, lança o registro da turnê no LP Amor! The Fabulous Guitar of Luiz Bonfá.

Em 1959, Orfeu da Conceição, peça de Vinícius de Moraes (1913-1980), é adaptado para o cinema com o título Orfeu Negro. Bonfá, que participa da montagem teatral em 1956, é convidado pelo diretor francês Marcel Camus (1912-1982) a compor duas canções para o filme, “Manhã de Carnaval” e “Samba de Orfeu”, ambas com letra de Antônio Maria (1921-1964). Vencedor do Oscar de filme estrangeiro e da Palma de Ouro no Festival de Cannes, a película divulga a bossa nova no exterior.

Em 1962, participa do concerto de bossa nova no Carnegie Hall e, no ano seguinte, lança com o músico estadunidense Stan Getz (1927-1991) o álbum Jazz Samba Encore. Estabelece-se em Nova York com a esposa Maria Helena Toledo (1937), com quem se apresenta em shows e compõe diversas canções, como “Dia das Rosas”. Em 1966, a música, na voz de Maysa (1936-1977), conquista o terceiro lugar no 1o Festival Internacional da Canção.

A parceria com o pianista Eumir Deodato (1943) resulta em diversos discos, com destaque para Introspection (1972), um clássico do violão solo. Durante a estadia nos Estados Unidos, compõe trilhas para televisão e cinema, toca com grandes instrumentistas de seu tempo e tem composições gravadas por músicos consagrados na cultura estadunidense.

Retorna ao Brasil em 1974, mas só grava no país em 1991: The Bonfá Magic, seu quinquagésimo álbum. Em 1997, participa do disco de Ithamara Koorax (1965), Almost in Love, álbum dedicado às músicas do compositor.

Além de prolífico instrumentista, com participação em mais de 500 discos, Bonfá é um dos compositores brasileiros mais tocados no exterior. “Manhã de Carnaval” figura no Guiness Book entre as dez canções mais executadas no mundo.

Análise
Ao lado de instrumentistas como Garoto e Laurindo de Almeida (1917-1995), Luiz Bonfá é um dos precursores do moderno violão brasileiro. O músico funde tradição violonística local a elementos harmônicos oriundos do jazz e do impressionismo francês, sobretudo de Claude Debussy (1862-1918), de quem é admirador.

É um dos responsáveis pela introdução da guitarra elétrica nos registros fonográficos brasileiros e pela fixação da linguagem violonística da bossa nova. Nesse gênero, Bonfá diferencia-se de João Gilberto (1931): toca o baixo e a melodia simultaneamente, produzindo o efeito de dois violões, e simula, nas cordas, diversos instrumentos de percussão, imprimindo uma rítmica particular a suas interpretações. Essa última característica, que influencia músicos como Baden Powell (1937-2000), é percebida com clareza no álbum Bonfafá (1958), em que regrava clássicos da música brasileira e standards do jazz.

Tratando o violão como uma pequena orquestra, realiza execuções, a um só tempo, contrapontísticas e ricas harmonicamente. Tamanha acuidade técnica está a serviço da música, não do exibicionismo. As inovações que Bonfá traz para o instrumento respondem sempre a um propósito musical. Tocando de forma leve e aparentemente sem esforço, Bonfá produz uma sonoridade suave, quase sem ruído. Também é responsável pela criação do brushing, técnica em que as cordas são raspadas com a palma da mão direita em rápidos movimentos para cima e para baixo. Outra característica de seu estilo, que aproxima o intérprete do compositor, é a capacidade de improviso. O CD Solo in Rio 1959, lançado nos Estados Unidos em 2005, traz uma mostra dessa faceta, reunindo as 17 faixas do LP O Violão de Luiz Bonfá, gravado em 1959, e outros 14 fonogramas inéditos captados na mesma ocasião, em sua maioria improvisados na hora.

Como compositor, sua carreira é dividida em três fases. Na primeira, de 1945 a meados dos anos 1950, Bonfá destaca-se como criador de rumbas, boleros e sambas-canções, fortemente influenciado pela “música de boate” em voga no Rio de Janeiro da época. Surgidas no pós-guerra, as boates são locais apertados e escuros em que a boêmia reúne-se para beber, encontrar os amigos e “curtir uma fossa”. Mistura de samba e bolero, a famosa “De Cigarro em Cigarro”, gravada em 1953 por Nora Ney (1922-2003), ilustra esse clima de expectativa frustrada que marca o período anterior à bossa nova:

Vivo pobre de amor

À espera de alguém

E esse alguém não me quer

[...]

Outra noite esperei

Outra noite sem fim

Aumentou meu sofrer

De cigarro em cigarro

Olhando a fumaça no ar se perder

Se o arranjo orquestral com ênfase nas cordas reforça a dramaticidade dos versos, a coloquialidade da letra afasta-a dos velhos sambas-canções dos anos 1930 e 1940. Esse mesmo distanciamento é notado em “Sem Esse Céu”, gravado por Dick Farney (1921-1987) em 1952. Os versos ingênuos e desesperançados (“Sem esse céu / Sem esse mar / Não viverei / Sem teu olhar / Que faz sonhar / Não sonharei”) contrastam com a melodia doce, otimista, antecipando as transformações por que passa a música popular brasileira nos anos seguintes.

A segunda fase do compositor corresponde aos dez anos que se seguem ao surgimento da bossa nova. Embora o início do movimento seja identificado pela gravação de João Gilberto, em 1958, de “Chega de Saudade” e “Bim Bom”, o prenúncio do gênero é notado dois anos antes, na trilha musical de Tom Jobim para Orfeu da Conceição, peça de Vinícius de Moraes.

Na obra solo de Bonfá, o embrião bossanovista aparece antes, em 1955, no primeiro álbum: “Minha Saudade”, música de João Donato (1934), ainda sem a letra de João Gilberto, traz a nova batida do violão e uma linha melódica sincopada, com notas alteradas e modulações, característica da bossa nova. A música “O Barbinha Branca”, parceria de Bonfá e Jobim, é registrada no mesmo disco. Em 1960, a canção é resgatada por João Gilberto no samba “Um abraço no Bonfá”, gravado em O Amor, o Sorriso e a Flor, álbum de João responsável pela consolidação do movimento.

Com “Manhã de Carvanal” e “Samba de Orfeu”, compostos para o filme Orfeu Negro, Bonfá consolida sua importância no movimento e fixa a sintaxe da bossa nova em algumas canções compostas com sua esposa, Maria Helena Toledo, como “Mania de Maria” e “Menina Flor”, registradas no disco Recado Novo de Luiz Bonfá, lançado em 1963.

A terceira fase inicia-se no final dos anos 1960. Nesse período, o músico é mais reconhecido nos Estados Unidos do que no Brasil, e suas composições “The Gentle Rain” e “Samba de Orfeu” são frequentemente utilizadas como standards de jazz. Nesse momento, Luiz sedimenta um estilo pessoal, registrado no disco Introspection. No álbum, de aura impressionista, é difícil reconhecer e distinguir as diferentes influências de sua formação (música popular brasileira, violão erudito, jazz). Ao mesmo tempo, aproxima-se do samba-jazz de Eumir Deodato, Airto Moreira (1941) e Yana Purim, músicos brasileiros radicados nos Estados Unidos. O artista também inova ao fazer uso composicional de sutis efeitos eletrônicos (como eco e delay) em seu violão acústico.

Apesar da vasta obra como intérprete e compositor, Bonfá permanece desconhecido do público brasileiro, dos musicólogos e historiadores de música, que pouco se detém sobre sua obra.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 8

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  • ADNET, Mário. Onde anda Bonfá?. O Globo, Rio de Janeiro, 1 jun. 2000. Segundo Caderno, p. 1.
  • CASTRO, Ruy. Uma década que parecia viver de madrugada. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 ago. 2000. Caderno 2, p. D6.
  • DIAS, Mauro. Harmonias e melodias que fizeram a bossa. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 13 jan. 2001. Caderno 2, p. D3.
  • NASSIF, Luis. Um violonista fundamental. Folha de S.Paulo, São Paulo, 13 jan. 2001. Ilustrada, p. E7.
  • SILVA, Beatriz Coelho. Um abraço para Bonfá. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 13 jan. 2001. Caderno 2, p. D3.
  • SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).
  • TAUBKIN, Myriam (Org.). Violões do Brasil. 2. ed. São Paulo: Sesc, 2007.
  • WELLER, Anthony. O violão de Luiz Bonfá. In: Solo in Rio 1959 : Smithsonian Folkways Recording, 2005. Texto de apresentação do CD.

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