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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Hip Hop Cultura de Rua

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
1988
Hip Hop Cultura de Rua (1988) é o disco inaugural do hip hop em São Paulo. Reúne os grupos que se encontram na estação de metrô do Largo São Bento para dançar break, falar sobre grafite, trocar informações sobre as novidades do rap estadunidense e compor as primeiras letras. É também um dos primeiros registros de rap no catálogo da gravadora Eld...

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Hip Hop Cultura de Rua (1988) é o disco inaugural do hip hop em São Paulo. Reúne os grupos que se encontram na estação de metrô do Largo São Bento para dançar break, falar sobre grafite, trocar informações sobre as novidades do rap estadunidense e compor as primeiras letras. É também um dos primeiros registros de rap no catálogo da gravadora Eldorado. O álbum traz músicas de Thaíde & DJ Hum, MC Jack, Código 13 e O Credo e é lançado em 2 de novembro no clube Aeroanta.

O projeto inicial da gravadora é produzir um disco do grupo O Credo. A banda, entretanto, não tem músicas suficientes para completar um álbum e surge a ideia de produzir uma coletânea. Um dos integrantes do grupo, Ruberval Marcelo, conhecido como Who (1968), fala sobre o projeto em um dos encontros no Largo São Bento. Várias equipes encontram-se no endereço durante os anos 1980 para duelos de rap e break: Nação Zulu, Street Warriors, Crazy Crew, Back Spin e Fantastic Force. Os grafiteiros Os Gêmeos, hoje consagrados internacionalmente, e os integrantes dos Racionais MCs também frequentam o local nessa época.

Na produção do disco, Nasi (1962) e André Jung (1961), integrantes da banda Ira!, são os responsáveis pelas músicas da dupla Thaíde & DJ Hum (“Corpo Fechado” e “Homens da Lei”); Akira S, da banda Akira S e as Garotas que Erraram, produz as faixas do grupo O Credo (“O Credo” e “Deus, a Visão Cega”); Dudu Marote, que se consagra, nos anos 1990, como produtor de discos de sucesso de bandas como Skank e Jota Quest, produz as músicas de MC Jack (“Centro da Cidade” e “Calafrio”) e do Código 13 (“Gritos do Silêncio” e “Código 13”). Músicos como André Abujamra (1965) e Raul de Souza (1934), participam da gravação.

Segundo Thaíde, o estúdio da Eldorado não dispõe de toca-discos, instrumento fundamental para os efeitos sonoros da música. O rapper passa a utilizar o equipamento da produtora em que trabalha nas noites de gravação e devolve-o nas manhãs seguintes, sem que o patrão perceba.

As oito faixas do disco ajudam a moldar a estética do rap paulistano na temática das letras e nas bases instrumentais. Todas as músicas trazem rimas dos rappers com acompanhamento de batidas eletrônicas, samples (trechos extraídos de outras músicas e reeditados) e sons de scratches (ruídos captados pelos DJs ao manejar o disco em contato com as agulhas das vitrolas).

Temas recorrentes no rap brasileiro atual já aparecem nas faixas do disco. A denúncia contra a violência policial é assunto de “Homens da Lei”. Diz a letra:

Policial é marginal

E essa é a lei do cão

A polícia mata o povo

E não vão para a prisão

Já “O Centro da Cidade”, de MC Jack, observa a movimentação urbana sob a ótica de um office-boy narrador:

Plaquinha de emprego

Plaquinha compra ouro

Plaquinha compra prata

Plaquinha de almoço

Pessoas mal-vestidas

Formando a ralé

Boy mal informado

Onde é a Praça da Sé

A faixa “Código 13” é quase um manifesto que define o estilo hip hop. A letra ressalta a importância do engajamento dessa cultura nos versos:

Escutar o hip hop

É coisa normal

Entender o hip hop

É onde está o mal

Esse trecho é citado posteriormente por Marcelo D2 (1967) na música “Eu Tiro é Onda”, do disco homônimo de 2006.

A faixa “O Credo” traz um sample da música “Planet Rock”, do artista Afrika Bambaataa (1957), precursor do rap nos Estados Unidos.

A música escolhida pela gravadora para divulgação do álbum é “Corpo Fechado”, que alcança boa execução nas emissoras de rádio. São vendidas cerca de 25 mil cópias do álbum, tiragem considerada alta para um disco lançado por uma gravadora independente. A repercussão da faixa e as vendas garantem à dupla Thaíde & DJ Hum um contrato com a Eldorado para gravação do primeiro disco: Pergunte a Quem Conhece (1989). Eles gravam mais cinco discos até 2000 e tornam-se representantes do rap brasileiro. Em 1990, a mesma gravadora lança um álbum com quatro faixas do grupo Código 13 no lado A, e outras quatro músicas de MC Jack no lado B.

O show de lançamento do disco Hip Hop Cultura de Rua repercute bem na imprensa. Na Folha de S.Paulo, o jornalista André Forastieri faz uma introdução eufórica sobre a apresentação:

O maior acontecimento pop do ano aconteceu na última quarta-feira no Aeroanta, no lançamento do disco Cultura de Rua (que reúne quatro grupos paulistanos de hip hop). Um show para esquecer os medalhões da MPB, os grupinhos de ‘róqui’ nacional e os previsíveis musos(as) do próximo verão1.

Em 1988, são lançadas outras duas coletâneas, que consolidam o ano como marco do surgimento do rap nacional na indústria fonográfica: O Som das Ruas, álbum organizado pela equipe de baile Chic Show e lançado pelo selo Epic da gravadora Sony, e Consciência Black Vol. 1, lançado pela gravadora Zambia, com registo da primeira gravação dos Racionais MCs em um disco (“Pânico na Zona Zul”).

Em 2011, o fotógrafo e rapper Kaseone (integrante do grupo O Credo) e Raul Dias, lançam o livro Hip Hop Cultura de Rua, com acervo fotográfico sobre a origem do rap em São Paulo.

Nota

1 FORASTIERI, André. Hip hop faz o melhor show pop na zona norte ou na zona sul. Folha de S.Paulo, São Paulo, 4 nov. 1988, Ilustrada, p. E-7.

Fontes de pesquisa 3

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  • ALVES, César. Pergunte a quem conhece. São Paulo: Labortexto Editorial, 2004.
  • FORASTIERI, André. Primeiro LP brasileiro de hip hop será lançado hoje. Folha de S. Paulo, São Paulo, 2 nov. 1988, Ilustrada, p. E-12.
  • PIMENTTA, Daniela. Kaseone e Who: um marco na Cultura Hip Hop. Site Bocada Forte. Disponível em: < http://www.bocadoforte.com.br >. Acesso em: 21 ago. 2015.

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