João Nogueira
Texto
João Batista Nogueira Júnior (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941 – Idem, 2000). Compositor, cantor. Forjado nos blocos de carnaval e na admiração por Noel Rosa (1910-1937), fundador do Clube do Samba e parceiro constante do compositor Paulo César Pinheiro (1949), é um dos músicos mais conceituados da geração que revitaliza o samba tradicional nos anos 1970, com seu estilo peculiar e sua facilidade para transitar pelos subgêneros do samba.
Aos 15 anos, começa a compor ao lado da irmã Gisa Nogueira (1939) e passa a trabalhar como office boy. Aos 17, frequenta shows amadores no bairro carioca do Méier, berço do bloco carnavalesco Labareda do Méier, para o qual colabora como compositor e diretor. “Espere, Oh! Nega”, composta para o bloco, é sua primeira obra gravada, em 1969.
A cantora Elizeth Cardoso (1920-1990), por meio de seu filho, frequentador do Labareda do Méier, tem contato com as composições de Nogueira e escolhe gravar “Corrente de Aço” para o LP Falou e disse, de 1970. No ano seguinte, o locutor e apresentador Adelzon Alves (1939) convida o compositor para gravar duas faixas (“Mulher Valente É Minha Mãe” e “O Homem de um Braço Só”) no LP Quem samba fica... Adelzon Alves mete bronca e a moçada do samba dá o recado, tipo de coletânea chamada de “pau de sebo”, que testa o êxito comercial dos artistas antes de lançar discos solo.
João Nogueira é um dos principais sambistas surgidos com a renovada projeção que o samba tradicional ganha nos anos 1970. Admirador confesso de Noel Rosa, se intitula "sambista de calçada", por ser filho de advogado (o também músico João Batista Nogueira [?-1951]) e nascido em bairro de classe média, ao mesmo tempo que frequenta rodas e outros eventos em comunidades. Ele próprio define esse estilo em samba gravado no disco Espelho (1977): "Eu bem que sabia / que o samba que eu tinha na mente / era diferente com jeito de Wilson, Geraldo, Noel", em alusão aos compositores Wilson Batista (1913-1968), Geraldo Pereira (1918-1955) e Noel Rosa, trio a quem dedica o repertório do disco Wilson, Geraldo e Noel, gravado em 1981.
Dono de um estilo particular de cantar, derramando melodias sobre o ritmo, e de um balanço inconfundível, Nogueira transita com facilidade pelos subgêneros do samba, da seresta ao samba-exaltação. Entre os sambas do subgênero partido-alto compostos por João Nogueira, destaca-se seu primeiro grande êxito comercial, "Das 200 pra Lá", gravado por Eliana Pittman (1945) em 1971, canção que defende o decreto militar que aumenta a abrangência do mar territorial brasileiro de 12 para 200 milhas marítimas ("Vá jogar a sua rede / Das 200 pra lá / Pescador dos olhos verdes / Vá pescar em outro lugar"). Desafetos o acusam de contribuir com o patriotismo da ditadura militar (1964-1984)1.
Já nos estertores da ditadura, o músico compõe “Vai Tirando o Seu da Reta, Queremos Direta” (1984), em defesa do movimento pela volta das eleições diretas, entre tantas outras canções de temática política e social. No mesmo ano da gravação da polêmica "Das 200 pra Lá", Nogueira vence com “Sonho de Bamba” um concurso na Portela e passa a integrar a ala de compositores da escola de samba. Em 1972, lança pela gravadora Odeon João Nogueira, seu primeiro LP, que além de composições suas, como “Morrendo de Verso em Verso”, “Beto Navalha” e “Alô Madureira”, traz sambas de compositores como Egberto Gismonti (1947) e Casquinha da Portela (1922-2018).
O sambista tem muitas composições com outros músicos, como Mauro Duarte (1930-1989), Maurício Tapajós (1943-1995) e Paulo César Pinheiro, seu parceiro mais constante. O trabalho conjunto da dupla começa em E Lá Vou Eu, de 1974, segundo disco de Nogueira, em que os dois assinam cinco faixas, como “Batendo à Porta”, “Eu Hein, Rosa!”, gravada posteriormente por Elis Regina (1945-1982), e a faixa-título. Com Pinheiro, compôs ainda os cinco primeiros enredos da Escola de Samba Tradição, entre 1985 e 1989, e lança em 1994 o disco Parceria – João Nogueira e Paulo César Pinheiro.
A voz de timbre grave e encorpado marca também gravações de sambas mais lentos, parte igualmente importante de sua obra. O álbum Espelho, de 1977, alcança grande êxito, com direito a videoclipe no programa Fantástico, da TV Globo, e algumas regravações, especialmente pelo sucesso da faixa-título, uma homenagem ao pai, falecido quando o compositor tinha 10 anos. Nogueira também faz choros, como "Bares da Cidade", mais uma parceria com Pinheiro, e sambas-canções, como "Mariana da Gente". Seu repertório passa pelo samba de breque, com "Baile no Elite", composto com Nei Lopes (1942), pelo afoxé e pelo samba de roda baiano.
Em 1979, funda o Clube do Samba, cuja sede é sua própria casa, a fim de preservar o ritmo e fortalecer os sambistas em um momento no qual, segundo ele, a música brasileira perde espaço nas rádios para a chamada música de discoteca.
João Nogueira também faz algumas participações no cinema, como no papel do compositor Rufino da Portela no filme Quilombo (1984), de Cacá Diegues (1940). Em 1998, participa dos CD Chico Buarque de Mangueira e Balaio do Sampaio, em homenagem a Sérgio Sampaio (1947-1994). Em 2000, ano de sua morte, canta ao lado de Beth Carvalho (1946-2019), Nelson Sargento (1924-2021) e Walter Alfaiate (1930-2010) no disco Esquina Carioca, gravado no bar Pirajá, em São Paulo.
João Nogueira deixa sua marca no samba nacional com talento e ecletismo. Como cantor, carrega um estilo inconfundível de derramar melodias sobre o ritmo. Como compositor, foi gravado por algumas das maiores intérpretes brasileiras, além de transitar por diversos subgêneros do samba.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- A MÚSICA BRASILEIRA deste século por seus autores e intérpretes - João Nogueira. Registro do programa Ensaio da TV Cultura, dirigido por Fernando Faro. Produzido por J.C. Botezelli - Pelão. Sesc São Paulo/ JCB, 2000. Gravado originalmente pela Fundação Padre Anchieta para o programa MPB Especial em 05/03/1975 dirigido por Fernando Faro.
- DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Verbete João Nogueira, versão online disponível em http://www.dicionariompb.com.br/joao-nogueira. Visitado em 05/06/2011.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- PROGRAMA Ensaio TV Cultura: João Nogueira. Direção de Fernando Faro, São Paulo, 2006.
- SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).
Como citar
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JOÃO Nogueira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12147/joao-nogueira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7