Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Geraldo Pereira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.10.2019
23.04.1918 Brasil / Minas Gerais / Juiz de Fora
08.05.1955 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Geraldo Theodoro Pereira (Juiz de Fora, Minas Gerais, 1918 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1955). Compositor e cantor. Em 1930, aos 11 anos, muda-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão, no morro da Mangueira. Sua educação formal limita-se ao quarto ano do curso primário. Exerce diversas ocupações, mas sempre se envolve nas rodas music...

Texto

Abrir módulo

Geraldo Theodoro Pereira (Juiz de Fora, Minas Gerais, 1918 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1955). Compositor e cantor. Em 1930, aos 11 anos, muda-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão, no morro da Mangueira. Sua educação formal limita-se ao quarto ano do curso primário. Exerce diversas ocupações, mas sempre se envolve nas rodas musicais da época, quando é cultuado um novo gênero: o samba. Aos 14 anos, sofre acidente de trabalho em uma fábrica de cerâmica. Com a indenização, compra um violão e começa a compor sambas. No final dos anos 1930, frequenta os redutos artísticos do Rio de Janeiro, em especial o Café Nice. Compõe com Nélson Teixeira o samba "Se Você Sair Chorando", gravado em 1939 por Roberto Paiva (1921-2014). Embora não seja sucesso, a composição classifica-se entre os finalistas de um concurso de músicas de carnaval.

Nessa época, casa-se com Eulíria Pereira. No entanto, a inclinação para a boemia faz com que se afaste gradativamente da mulher. Conhece sua segunda esposa, Isabel Mendes da Silva na Escola de Samba do Salgueiro, grande amor da sua vida. O relacionamento instável, com brigas e separações momentâneas, fornece matéria-prima para suas composições, como "Acabou a Sopa", primeiro samba seu gravado por Ciro Monteiro (1913-1973) em 1940, e "Liberta meu Coração", gravado por Abílio Lessa (1926-1975) em 1947. No início dos anos 1940, muda-se com Isabel para a Lapa. Trabalha como motorista de caminhão de limpeza urbana da Prefeitura do Rio de Janeiro, emprego que ocupa até seus últimos dias. A função de funcionário público garante-lhe rendimento suficiente para a manutenção da vida de boêmio. 

Conhece Wilson Batista (1913-1968), com quem compõe a canção "Acertei no Milhar", gravada em 1940 por Moreira da Silva (1902-2000). O cantor também grava outra música sua, "Olha a Cara Dela", para o carnaval do ano seguinte.

Geraldo Pereira assume o estilo do malandro carioca: veste terno de linho branco amarrotado, ginga com pinta de valente e, com seus quase dois metros de altura, não leva desaforo para casa. Boêmio e mulherengo, mete-se em confusões frequentes. As histórias de valentia de Geraldo Pereira ajudam a escrever o folclore da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. Ao longo da vida, o sambista passa por altos e baixos, períodos nos quais pode contar com apoio do amigo e parceiro Ciro Monteiro. O cantor permanece junto a Geraldo até o último momento, quando uma briga leva Geraldo Pereira ao hospital, onde morre em 8 de maio de 1955.

O compositor é responsável por diversos sambas de sucesso, posteriormente reinventados pela bossa nova e tropicália.

 

Análise

Geraldo Pereira leva uma vida boêmia, tema latente em suas composições. Em suas canções, fala do cotidiano em Santo Antônio, morro da Mangueira, dos redutos da malandragem da Lapa, das brigas e do grande amor por Isabel e de suas aventuras extraconjugais. Suas composições se singularizam pelo sincopado, timbradas pelo linguajar que circula nos trens do subúrbio, nas gafieiras e nas rodas de malandros. 

Tem o primeiro contato com a música por meio da sanfona do irmão. Amplia seus conhecimentos musicais e aproxima-se de nomes como Cartola (1908-1980), Aluísio Dias (1911-1991) e Alfredo Português (1885-1957). De posse de um violão, aos 17 anos rabisca os primeiros sambas. Em 1938, compõe com Fernando Pimenta o samba "Farei Tudo", canção censurada pelo governo de Getúlio Vargas (1882-1957), considerada muito ousada. Seus primeiros trabalhos apresentam influência do “samba do telecoteco” que tem Ciro de Souza como um de seus maiores ícones. O termo onomatopaico refere-se à batida do tamborim para nomear um estilo de tocar e cantar que enfatiza a síncopa do samba.

No ano seguinte, aos 21 anos, tem seu primeiro samba gravado, “Se Você Sair Chorando”, parceria com Nélson Teixeira que lhe rende algum dinheiro. De 1941 a 1947, consagra-se como compositor e assina parcerias de sucesso: "Lembra Daquela Zinha", com Augusto Garcez; "Resignação", com Arnô Provenzano (ca. 1920); "Ai que Saudade Dela" e "Bonde Piedade", com Ari Monteiro (1905-?); "Jamais Acontecerá”, com Djalma Mafra (ca.1900-1974); "Pisei num Despacho", com Elpídio Viana; "Quando Ela Samba", com J. Portela; "Até Quarta-Feira", com Jorge de Castro (1915); "Falta de Sorte" e "Pode Ser", com Marino Pinto (1916-1965); "Voz do Morro", com Moreira da Silva; e, por fim, "Bom Crioulo", com Raul Longras. Suas músicas são gravadas por cantores como Roberto Paiva, Aracy de Almeida (1914-1988), Isaurinha Garcia (1923-1993), Anjos do Inferno, Odete Amaral (1917-1984), Quatro Ases e um Coringa, Abílio Lessa, Jorge Veiga (1910-1979) e Ciro Monteiro, intérprete de cerca de uma dezena dos trabalhos musicais de Geraldo Pereira.

Embora lance composições de sucesso neste período, é trabalhando sozinho em 1944 e no ano seguinte que Geraldo Pereira produz suas obras mais notáveis. São desta fase sambas como "Falsa Baiana", música inspirada na esposa do compositor Roberto Martins (1909-1992), que não consegue sambar com a fantasia de baiana no carnaval. A canção é lançada por Ciro Monteiro em 1944 e regravada em 1970 por Gal Costa (1945). Outro samba dessa época é "Bolinha de Papel", interpretada em 1945 pelo conjunto Anjos do Inferno e regravada em 1960 por João Gilberto (1931-2019).

Em 1948, Geraldo compõe "Chegou a Bonitona", gravada posteriormente por Ciro Monteiro. Na época, a RCA suspende as operações por seis meses, alegando falta de matéria-prima para a confecção de discos. Geraldo, precisando de dinheiro, passa a música para Blecaute. Este incidente gera mal-estar entre os amigos Ciro e Geraldo e ilustra a situação de crise em que se encontra o mercado fonográfico brasileiro. No período, os compositores cariocas enfrentam a forte concorrência dos modismos musicais de influência norte-americana e do baião nordestino, que ganha espaço nas figuras de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979). O desentendimento com Ciro é resolvido rapidamente com pedido de desculpas de Geraldo, mas demora mais tempo para que o samba recupere espaço no mercado nacional.

Geraldo experimenta novas parcerias. Compõe com Arnaldo Passos (ca.1910-1964) "Que Samba Bom", "Mexe Mulher" e "Perdi Meu Lar; com J. Batista, "Chegou a Bonitona" e "Brigaram pra valer"; e com Odemar Magalhães, "Sem Destino". Também busca novos intérpretes, tendo suas músicas gravadas por Blecaute, Francisco Carlos (1928-2003), Emilinha Borba (1923-2005) e Jorge Goulart (1926-2012). Somente no início da década de 1950, consegue recuperar o sucesso, interpretando, com a própria voz, três grandes sucessos: "Escurinha", "Pedro do Pedregulho" e "Cabritada mal-sucedida", parceria com Wilton Wanderley. Se como cantor Geraldo já tem registrados "Mais um Milagre" e "Bonde Piedade", sem muito sucesso, além de "Roubaram o Livro de Ouro", com Arnaldo Passos, e "Vou Dar o Serviço", com José Batista, somente agora se destaca como intérprete e grava, entre 1951 e 1954, vários sambas. Além de cantor, ele faz pontas em três filmes. O primeiro, realizado em 1942 pelo ator e diretor norte-americano Orson Welles (1915-1985) no Brasil, É tudo verdade, não chega a ser concluído. O segundo, Berlim na Batucada (1944), um musical da Cinédia, dirigido por Luiz de Barros (1893-1982). O último, também de Luís de Barros, é O Rei do Samba, inspirado na vida de Sinhô (1888-1930), produção de 1952 da Brasil Vita Filmes.

Em 1955, a boêmia, que sempre fornece histórias que inspiram seus sambas, acaba colocando-o frente a frente com o renomado malandro Madame Satã (1893-1992) em uma briga que resulta na morte do sambista.  Deixa uma obra gravada e regravada por importantes intérpretes, da velha guarda aos novos cantores que surgem nos anos 1960, como Paulinho da Viola (1942) (“Você Está Sumindo”, 1971), Chico Buarque (1944), responsável pelo sucesso do samba “Sem Compromisso” na França, em gravação ao vivo em 1990, João Gilberto (“Bolinha de Papel”, 1961) e Zizi Possi (1956) (“Escurinha”, 1996).

Fontes de pesquisa 5

Abrir módulo
  • COLEÇÃO História do Samba. Vol. 13, São Paulo, Globo, 1998.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • MATOS, Cláudia Neiva de. Acertei no milhar: malandragem e samba no tempo de Getúlio. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.
  • NOVA História da Música Popular Brasileira - Geraldo Pereira. São Paulo: Abril Cultural, 1970.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: