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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Luiz Gonzaga

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
13.12.1912 Brasil / Pernambuco / Exu
02.08.1989 Brasil / Pernambuco / Recife
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Luiz Gonzaga, 1972

Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, Pernambuco, 1912 – Recife, Pernambuco, 1989). Instrumentista, compositor, cantor. Destaca-se por divulgar ritmos e gêneros regionais do Nordeste, como o xaxado, a toada, a quadrilha, o aboio, o xote, o coco, o maracatu.

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Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, Pernambuco, 1912 – Recife, Pernambuco, 1989). Instrumentista, compositor, cantor. Destaca-se por divulgar ritmos e gêneros regionais do Nordeste, como o xaxado, a toada, a quadrilha, o aboio, o xote, o coco, o maracatu.

Filho do lavrador e sanfoneiro, aos 8 anos de idade substitui um sanfoneiro em uma festa tradicional e, a partir daí, os convites se tornam frequentes. Em 1930, foge de casa e se alista no Exército, em Fortaleza. Em 1939, dá baixa das Forças Armadas e desembarca no Rio de Janeiro. Com sua sanfona Honner branca, toca valsa, tango, choro, fox-trot e outros ritmos da época, na zona do meretrício do Mangue e mora no morro de São Carlos.

Na década de 1940, toca diferentes ritmos musicais. Começa a se apresentar em programas de rádio e consegue nota máxima no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso (1903-1964), na Rádio Tupi. Pouco tempo depois trabalha com Zé do Norte (1908-1992) no programa A Hora Sertaneja, na Rádio Transmissora.

A primeira reportagem sobre Gonzaga é publicada, em 1941, na revista carioca Vitrine, com o título “Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeom”. Nos anos seguintes, grava cerca de 30 discos 78 rpm, muitos choros, valsas e mazurcas, até então só instrumentais, a exemplo da mazurca “Véspera de São João”, com Francisco Reis, e a valsa “Numa serenata”.  É levado por Renato Murce (1900-1987) para o programa Alma do Sertão, na Rádio Clube do Brasil. Em 1944, é contratado pela Rádio Nacional, em que o radialista Paulo Gracindo (1911-1995) divulga seu apelido “Lua”, por causa do rosto redondo.

Grava a mazurca “Dança Mariquinha”, parceria com Miguel Lima, em 1945. Em 1947, lança a toada “Asa branca”, sua parceria com Humberto Teixeira (1915-1979). A canção se torna um sucesso e, posteriormente, ganha muitas regravações. No mesmo ano, conhece, no Recife, Zé Dantas (1921-1962), com quem grava os xotes “Vem morena” e “Cintura fina”, a toada “A volta da asa branca” e “Forró de Mané Vito”, todas de 1950. No início da década de 1950, também produz jingles como o do Colírio Moura-Brasil, que organiza excursões do compositor por todo o país.

Para o cantor e compositor Sergival (1965), Gonzaga e seus parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas mapeiam a cultura popular nordestina nas letras de suas músicas. “Os animais, os pássaros, os rios e outros elementos citados nas letras retratam o cotidiano do nordestino, a agricultura de subsistência, a vegetação, a seca. E aí ele entra na questão social, nos reflexos da seca.”1

Com Dantas, por exemplo, compõe “Vozes da seca”, cujo trecho inicial diz: “Seu dotô os nordestino têm muita gratidão / Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão / Mas dotô uma esmola a um homem qui é são / Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Com essa música, o compositor reivindica providências do então presidente Getúlio Vargas (1883-1954) para a difícil situação da população afetada pela seca que atinge especialmente o Nordeste.

A cultura nordestina, em meados da década de 1940, transforma o eixo Rio-São Paulo, que se revela um centro de retirantes que trabalham como mão de obra na urbanização do país. É muito forte a presença de suas composições nos bailes populares e nas cantorias dos operários migrantes das grandes cidades do Sudeste.

O trio musical formado por sanfona ou acordeom, zabumba e triângulo é uma criação do compositor. Essa formação musical facilita a mobilidade, exige cachê menor e poucos músicos, além de mostrar os instrumentos típicos do Nordeste: a zabumba, muito usada pelas bandas de pífanos em novenas, e o triângulo, usado pelos vendedores ambulantes para apregoar seus produtos. Gonzaga percorre o Brasil em cima de um caminhão e mostra o Nordeste para o país e para o mundo. 

Adapta a sanfona, instrumento musical europeu muito utilizado no Brasil nas interpretações de valsas e tangos, e o transforma de tal maneira num padrão tão sólido de sonoridade nordestina que nos dias de hoje se torna impossível dissociá-lo das melodias, antes executadas pelas rabecas ou violas.

Assina contrato com a gravadora Copacabana, em 1988, que no ano seguinte lança os quatro últimos LPs da sua carreira. Em 1994, a Som Livre lança A volta do Asa Branca – Tributo a Luiz Gonzaga, com canções interpretadas por Caetano Veloso (1942), Gal Costa (1945-2022), Gilberto Gil (1942), entre outros. Três anos mais tarde, Dominguinhos (1941-2013) lança pelo selo Velas o tributo Dominguinhos e convidados cantam Luiz Gonzaga. Zé Ramalho (1949) faz uma homenagem com o disco Zé Ramalho canta Luiz Gonzaga, em 2009.

Em 2012, o centenário do músico é celebrado com os discos Gilberto Gil canta Luiz Gonzaga, Genival Lacerda canta Luiz Gonzaga no balanço no forró e As sanfonas do rei – tributo aos 100 anos de Luiz Gonzaga, pelo grupo Falamansa, além de eventos e shows em várias cidades do Brasil, principalmente em Exu, sua cidade natal.

O artista deixa discípulos importantes na geração de 1970 como Alceu Valença (1946), Fagner (1949), Elba Ramalho (1951), entre outros.

Luiz Gonzaga entra para a história da música popular brasileira como um dos primeiros porta-vozes da cultura nordestina e deixa um legado de peso que influencia artistas até os dias de hoje.

Notas

1. VIRGILIO, Paulo. Estudioso lembra que o sanfoneiro mapeou a cultura e a geografia nordestinas em sua música. Agência Brasil, 13 dez. 2012. Disponível em: https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-12-13/estudioso-lembra-que-sanfoneiro-mapeou-cultura-e-geografia-nordestinas-em-sua-musica. Acesso em: 04 jul. 2024.

Obras 2

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Exposições 4

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Fontes de pesquisa 9

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  • ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB: a história de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.
  • CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968.
  • DREYFUS, Dominique. Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga. São Paulo: Ed. 34, 1996.
  • ECHEVERRIA, Regina. Gonzaguinha e Gonzagão – uma história brasileira. São Paulo: Leya, 2012.
  • LUIZ GONZAGA. Site oficial do artista. Disponível em: < http://www.luizluagonzaga.com.br/ >. Acesso em: 28 jan. 2013.
  • PESTANA, Maurício. De Luiz Gonzaga a Barack Obama. Raça Brasil, São Paulo, 16 maio 2011. Edição 154. Disponível em: http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/154/artigo214821-1.asp. Acesso em: mar. 2013.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
  • SOUZA, Tárik de. Luiz Gonzaga. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2010. Coleção Folha Raízes da Música Popular Brasileira, v. 10.
  • TATIT, Luiz, O cancionista. Composição de canções no Brasil. SP, Edusp, 1996.

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