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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Dominguinhos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.03.2024
12.12.1941 Brasil / Pernambuco / Garanhuns
23.07.2013 Brasil / São Paulo / São Paulo
José Domingos de Morais (Garanhuns, Pernambuco, 1941 – São Paulo, São Paulo, 2013). Sanfoneiro, compositor, cantor. É um dos principais divulgadores e modernizadores do forró a partir de 1970. Instrumentista exímio com experiência em diferentes ritmos, desenvolve ecletismo musical e estabelece parcerias diversas, ampliando o alcance de sua traje...

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José Domingos de Morais (Garanhuns, Pernambuco, 1941 – São Paulo, São Paulo, 2013). Sanfoneiro, compositor, cantor. É um dos principais divulgadores e modernizadores do forró a partir de 1970. Instrumentista exímio com experiência em diferentes ritmos, desenvolve ecletismo musical e estabelece parcerias diversas, ampliando o alcance de sua trajetória autoral e também de seu gênero musical.

De família numerosa e pobre, seu pai Mestre Chicão, agricultor e afinador de foles, é a maior referência na primeira fase de vida do artista. Inicia a carreira ao tocar pandeiro e depois sanfona no grupo Os Três Pinguins, formado com os irmãos Moraes e Valdomiro. Em 1948, o trio se apresenta em um banquete oferecido para o sanfoneiro, compositor e cantor Luiz Gonzaga (1912-1989), que o apadrinha e que reencontra no Rio de Janeiro, para onde se muda em 1954.

Em um cenário marcado pela refluxo dos ritmos regionais – quando a bossa nova e o rock e, pouco depois, a música popular brasileira (MPB), estão prestes a entrar em cena –, inicia carreira na rádio, substituindo o professor e colega de instrumento Orlando Silveira (1922-1993). Essa experiência coletiva e instrumental lhe dá fama no meio artístico e amplia seu repertório, especialmente o de choro – gênero que divide seu gosto com o baião. Trabalha como servente de pedreiro e entregador de roupas e tem com Silveira sua única e curta experiência em educação formal. Essa experiência, no entanto, não lhe garante o domínio da leitura e da escrita musical. 

Em 1957, a convite de Luiz Gonzaga, participa da gravação de “Forró no escuro”. Abandona o nome artístico de Neném do Acordeon e assume o apelido de Dominguinhos, atribuído pelo padrinho musical. Forma o Trio Nordestino ao lado de Zito Borborema e Miudinho e passa a tocar samba, bolero, tango, cha-cha-chá, músicas francesa e americana em cassinos, churrascarias e boates.

A partir de 1967, integra o elenco da Rádio Nacional e, durante uma turnê com o conjunto de Luiz Gonzaga, firma parceria com a cantora e compositora Anastácia (1941), com quem assina mais de 200 composições, como “Eu só quero um xodó” (1973) e “Tenho sede” (1975). Esse período marca sua entrada no universo da música cantada, numa profícua e exitosa parceria que se estende pelos quase 11 anos de relacionamento amoroso da dupla. O casal constrói uma obra de acento regional – forró, ciranda, marcha, xote, baião, arrasta-pé, toada e carimbó –, além de boleros, choros e sambas, com letras em geral românticas ou festivas. 

O discurso textual nunca vem do instrumentista, mas de seus colaboradores letristas: são eles que garantem a melancolia, o sentimentalismo, o bucolismo, a folia e a ocasional contundência crítica. O sanfoneiro oferece terreno melódico sofisticado e, muitas vezes, participa das gravações originais. Esse mergulho no universo cantado o diferencia de outros importantes sanfoneiros, que se dedicam exclusivamente à música instrumental ou ao acompanhamento, como Silveira, Chiquinho do Acordeon (1928-1993), Oswaldinho do Acordeon (1954) e Caçulinha (1940).

Ingressa na MPB no início dos 1970, ao ser descoberto pelos tropicalistas. Em 1972, integra o grupo de Gal Costa (1945-2022) na turnê de Índia e, três anos depois, o de Gilberto Gil (1942), na época do álbum Refazenda. Esse contato com músicos da mesma geração, mas de trajetórias artísticas distintas da sua, alinhadas à cultura universitária e militante da época e à influência do movimento hippie e do rock, transforma Dominguinhos em um “sanfoneiro pop”, como afirma o instrumentista. Com esse casamento entre a música regional e a MPB, chave para se entender a modernização do forró, o músico se descola do padrinho e alça seus próprios voos.  

Muda-se para São Paulo em 1979 e é influenciado pela música instrumental brasileira com inclinação jazzística ao entrar em contato com o trabalho do guitarrista Heraldo do Monte (1935) e do pianista pré-bossa novista Johnny Alf (1929-2010). Ao lado do violonista gaúcho Yamandu Costa (1980) em dois registros fonográficos, de 2007 e 2010, prova seu ecletismo e dua erudição como acompanhante e solista.

 O vínculo criativo com a MPB expande o horizonte e a aceitação da música nordestina pela classe média do eixo Rio-São Paulo. Além de ser vocalizada por figuras da MPB ou de destaque na indústria cultural dos anos 1970 e 1980, a parceria com músicos consagrados, como Chico Buarque (1944) e Gilberto Gil, é potencializada pela rádio e pelas telenovelas, como Roque Santeiro (1985), e Pedra sobre pedra (1992), ambas da TV Globo, garantindo novo status a Dominguinhos.

O instrumentista encontra a válvula para escoar sua volumosa produção, que ganha tanto temática sentimental quanto festiva, com os colegas nordestinos. Além de Anastácia, destaca-se o trabalho com o cantor e compositor pernambucano Nando Cordel (1953), com quem assina mais de 50 músicas, como “De volta pro aconchego” (1985), e com o poeta e arquiteto cearense Fausto Nilo (1944), com quem compõe quase 20 criações, como “Pedras que cantam” (1991). Em sua extensa discografia, há produções em dupla, como o álbum com a cantora Elba Ramalho (1951), e em trio, Cada um belisca um pouco, com os sanfoneiros Sivuca (1930-2006) e Osvaldinho do Acordeon. É vencedor de dois prêmios Grammy Latino (2002 e 2012). 

Embora considerado, pelo próprio Luiz Gonzaga como seu herdeiro artístico, Dominguinhos é um melodista privilegiado que não se restringe a um estilo musical. Autodidata e exímio instrumentista, dono de uma musicalidade ao mesmo tempo simples e sofisticada, tornou-se referência para a geração de sanfoneiros pós-1970 e também para cancionistas como Djavan (1949), Lenine (1959) e Mariana Aydar (1980).

Obras 8

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